2023 marcou o regresso dos D’ZRT com a digressão Encore Tour. Que significado teve para si esse regresso?

Foi mágico para todos nós. Não estávamos à espera. Esperámos muito que chegasse o momento de termos condições e estarmos todos alinhados para conseguirmos fazer este regresso junto dos fãs – reunir toda a tribo, toda a família que viveu tudo aquilo que foram os Morangos com Açúcar e os D’ZRT na altura. Os D’ZRT acabaram abruptamente e ficaram umas reticências gigantes ao longo de todo este tempo porque, na verdade, nós não conseguimos reagir. Acho que cada pessoa tem o seu timing e a sua forma de lidar com as coisas, e nós simplesmente afastámo-nos, cada um à sua maneira. Ao longo deste tempo fomos falando. Obviamente, ficou algo por fazer e não podia ter sido mais perfeita a resposta das pessoas à nossa proposta e àquilo que quisemos fazer, que foi a viagem lá para trás, o facto de ter sido gigantesco, de ter sido muito além do melhor que poderíamos imaginar. Às vezes é difícil as coisas alinharem-se desta forma com projetos que fazes. Por vezes voltamos atrás, fazemos uma retrospetiva, pensamos no que poderia ter sido melhor. Neste caso, desde que reunimos a equipa e começámos a tour foi tudo fluido, interligado, e é muito bom quando se trabalha assim. Não é sempre assim, mas aconteceu. Se calhar, havia qualquer coisa que estava a unir tudo isto. Fez todo o sentido.

Como foi estar na estrada, atuar em diferentes locais do país, contactar com os fãs? Que momentos guarda da digressão?

Tínhamos muita saudade do palco e aquilo que mostra mais isso é que não estávamos nervosos. Tínhamos muita vontade e muita garra, muita ansiedade… o pensamento era “abram-nos a porta porque sabemos o que vamos fazer”. A resposta das pessoas superou as nossas expectativas logo desde o início, com a MEO Arena a ser esgotada, o primeiro concerto em 12 horas, o segundo em 24 horas. A partir daí foi marcarmos as outras datas para espalharmos um bocadinho pelo país. Eu faço muita coisa; isso, às vezes, tem um lado bom, às vezes tem um lado mau, mas, de tudo o que faço, a música é aquilo que mais me preenche, aquilo que mais gosto de fazer, o que naturalmente me sai. Foi muito bom voltarmos com o nível que voltámos, com todo o investimento que fizemos na produção e a magnitude do espetáculo que quisemos criar e dar às pessoas. Foi a forma de reagirmos à resposta que nos deram.

Começou nos Morangos com Açúcar, em 2004, um dos maiores sucessos da televisão em Portugal. O que mudou na televisão portuguesa nestes 20 anos?

O mundo mudou. Não foi só a televisão, o próprio mundo mudou. Mudou para melhor em muitas coisas, a meu ver, para pior em muitas também. Agora também sou pai, tenho a Aurora, com um ano e meio. Ela nasceu quando lançámos a digressão e começámos a esgotar as datas, estava na maternidade quando isso aconteceu, portanto, foi um misto de muitas emoções. Este ano, para mim, foi mesmo repleto. Preocupa-me aquilo que mudou, e estava a dizer que sou pai porque tenho outra perspetiva e outra visão do futuro. Quando somos só nós, safamo-nos de qualquer forma. Mas olhar para aquilo que está a acontecer, para a relação entre as pessoas, para o digital excessivo, que depois elimina tudo o resto… fiquei um bocadinho mais preocupado, mais assustado, com uma responsabilidade maior. Não é necessariamente mau, é bom, porque nos desperta para fazermos cada vez mais o nosso papel, mas o mundo mudou muito. A televisão, também. Acho que a televisão cada vez quer fazer mais com menos, e chega a um ponto em que isso não é possível. A criatividade faz muita coisa mas, depois, é difícil. Mesmo no jornalismo: está sempre direcionado, não é algo completamente isento. Vemos guerras e outros acontecimentos no mundo e vemos coisas a serem ocultadas, contrainformação, fake news… Isto, hoje em dia, é uma selva. É mesmo difícil imaginar como estará daqui a dez anos. Estamos naquela curva em que mais está a mudar. É viver muito do dia-a-dia e perceber o que vai acontecer.

Teve a oportunidade de participar num episódio da nova série de Morangos com Açúcar. Como foi voltar a interpretar a personagem Topê tantos anos depois? E como foi participar numa série com um modelo diferente e a passar no streaming?

Foi totalmente diferente. Se o nome desta nova série não fosse Morangos com Açúcar, estava tudo bem na mesma. Tudo mudou, a própria visão das pessoas mudou e era muito difícil pegar no mesmo conceito, da mesma forma, e fazê-lo agora. Obviamente, se calhar, poderia ter-se ligado mais histórias, personagens, trazer um bocadinho mais dos outros Morangos nesta fase. Mas acho que aquilo foi muito mais o que se está a fazer lá. Agora temos referências gigantescas a nível de séries e aquilo aproxima-se muito mais. Falo da parte técnica, de imagem, de fotografia, mas a parte do sumo também é extremamente importante para o sucesso dos projetos. Confesso que não vi a série toda, vi alguns episódios. Achei muito bom o trabalho dos novos atores e acho que está a ser um sucesso. Foi interessante, a minha participação foi muito pontual. Fui só enquanto D’ZRT, fomos atuar no primeiro episódio e depois fiz parte do júri do concurso das bandas no último. Foi um flash. Mas o Topê acaba por ser muito eu. Foi a primeira personagem que desempenhei, em 2004, 2005, e aquilo foi uma escola para nós. Sem experiência na altura, a primeira personagem é sempre muito de ti, não consegues trabalhar e virar a personagem do avesso, se calhar. Foi engraçado voltar a ser o Topê. Aliás, ainda hoje em dia me chamam Topê na rua, várias vezes. Isso nunca deixou de acontecer e ficou muito presente nas pessoas.

A série original teve um impacto muito grande na altura. Como disse, na altura não tínhamos o acesso que temos atualmente a séries.

Mas era mais interessante. Na verdade, quem está à frente de tudo sabe perfeitamente quais são as consequências da forma como as coisas estão a ser feitas, a nível de tecnologia, a inteligência artificial, mas o que é certo é que não o travam e o dinheiro está sempre à frente de tudo. O facto de, agora, as séries serem lançadas e serem disponibilizadas do primeiro ao último episódio faz com que as pessoas as consumam num dia inteiro, durante horas seguidas; não discutem o episódio x com os amigos na escola, não vão ficar à espera do próximo, a imaginar como será, a conseguir absorver e a beber a história.

A própria expectativa que existia do que iria acontecer a seguir…

Tudo. Acho que se perde tanta coisa pelo meio… Lembro-me de que, antes, vias um episódio, ias para a escola e falavas sobre isso. Depois, no outro fim de semana era a expectativa, chegava-se à escola no outro dia e era mais uma novidade. Atualmente, a velocidade das coisas é tão grande que aquilo que é bom nesta semana, na próxima já não é. Está tudo mais volátil, muito mais rápido. É difícil hoje em dia haver um sucesso como os Morangos, porque está tudo muito mais disperso. Por isso é que acho que este nosso regresso e a Encore Tour tiveram esse sucesso, porque as pessoas da minha geração e até de gerações mais novas estão com muitas saudades de como era antes. A nossa proposta foi fazer uma viagem ao passado, quando não tínhamos tantas responsabilidades, em que o mundo realmente era diferente do que é hoje e vamos viver algo que curtimos todos muito. As pessoas estão com muita vontade disso. Estão a ver o rumo do mundo, do país, das pessoas, e, se calhar, não estão assim tão contentes. O saudosismo está tão presente por isso mesmo. A vida é mesmo assim, é um jogo de equilíbrio, de altos e baixos.

Considera que os D’ZRT deixaram uma marca na música pop portuguesa?

Não sou a melhor pessoa para responder a isso, mas, sem falsas modéstias, sim. Aquilo que fizemos com esta tour, com estes concertos, aquilo que está a acontecer é a prova disso. Não esperávamos que houvesse a resposta do público que houve e que tornou esta tour mágica. Estamos a geri-la muito bem. Não voltámos a 100%, não vamos ter música nova. Vamos viver sempre daquilo que fizemos, porque não estamos todos. Não vamos voltar a fazer música sem um dos elementos. Isso, para nós, não faz sentido. É sempre reviver aquilo que fizemos e estamos a gerir tudo isso da melhor forma.

Acha possível, nos dias de hoje, tendo em conta a ascensão das redes sociais e das plataformas de streaming e as mudanças no sector televisivo, aparecer outro grupo como os D’ZRT, formado a partir de uma série?

Acho que nos novos Morangos estão a pensar lançar uma banda real. Mas acho que nunca vai ter o mesmo impacto, as coisas estão mesmo diferentes. A informação que é dada às pessoas é em demasia; então, o foco dispersa-se no meio de tudo isso. Dificilmente haverá uns D’ZRT ou um Michael Jackson. É impossível. Não estamos a caminhar para aí. É tudo muito mais digital, mais disperso.

Neste momento há uma perspetiva de momento, de sucesso durante dois, três anos. Acha que é isso que acontece? O impacto é do momento, mas deixa de perdurar?

Sim, deixa de perdurar ao longo do tempo. Porque as pessoas acabam por entrar nesse vício de andar sempre à procura de coisas novas, o que não é necessariamente mau mas, em termos desses produtos e do impacto que eles têm, acho que sim, torna tudo muito mais volátil. O sucesso que podes ter este ano, no próximo pode não acontecer. Muitas bandas de antigamente estão a voltar e o público acede a isso, pois isto está tão confuso que devem pensar “‘bora lá atrás um bocadinho para respirar”. Acho que foi isso que aconteceu nos nossos concertos. As pessoas entravam na sala, e nós também, e o mundo lá fora desaparecia. Agora, ao ver as imagens, aquilo foi uma festa, olhar para as pessoas e ver a forma como elas reagiam a tudo aquilo e participavam… Trabalhámos o que tínhamos com muito cuidado a nível musical, fazer a ligação com o que nós éramos. Não quisemos alterar completamente as coisas para o dia de hoje porque isso acaba por descaracterizar um pouco a ideia que as pessoas têm. Fizemos um upgrade em tudo, mas a essência quisemos mantê-la lá. A energia era a mesma mas, obviamente, com outra magnitude.

A reunião dos Morangos com Açúcar vai acontecer no dia 8 de junho, no Passeio Marítimo de Algés. Quais são as suas expectativas para este evento?

Para já, está a correr muito bem. A expectativa das pessoas, a resposta está a ser idêntica ao que foi a nossa digressão, com o extra de trazermos mais duas bandas que nasceram depois de nós na série. Vai ser um ambiente diferente daquilo que fizemos. Fizemos os concertos todos em espaços fechados, ali vai ser num ambiente mais de primavera-verão, ao ar livre, naquele recinto, o recinto do NOS Alive, que é fantástico. Acho que vamos conseguir ter a casa cheia, fazer um minifestival, uma megafesta – lá está, com o extra de não ser só D’ZRT, de ter um bocadinho mais do universo Morangos.

Existe alguma possibilidade de replicarem este evento noutras cidades do país, como alguns fãs têm pedido?

Sim, tal como aconteceu na Encore Tour. Abrimos aqui em Lisboa, na MEO Arena, e pela resposta que tivemos do público tivemos de abrir no Porto, fomos ao Algarve, andámos por aí. Este conceito é diferente, é um bocadinho mais one-shot, até porque envolve outro tipo de características de recinto, de espetáculo, e não está previsto fazermos uma segunda edição. Mais tarde, não sei, mas este ano será esta reunião aqui, no Passeio Marítimo de Algés, e vai ser one-shot.

Em julho vão marcar presença no MEO Marés Vivas. Sendo uma lógica de festival, que é diferente de um concerto próprio, que ideias têm para este espetáculo?

O nosso concerto é muito energético, por isso encaixa-se perfeitamente num festival. O target do público que lá está é o nosso, é o que esteve nos nossos concertos. Fazer uma produção própria, com a tua própria estrutura e sabendo exatamente o que apresentas, é bom, e deve ser por aí. Mas gosto muito do ambiente de festival também. Gosto de, por vezes, estar a tocar e a mostrar o que tenho para pessoas que naturalmente não me iriam ver. Gosto disso. Acho que vai ser muito bom irmos ao Marés Vivas.

Em 2008 lançou um álbum a solo. Está nos seus planos fazer mais algum?

Sim. Voltando à primeira pergunta, foi muito bom, ao fim deste tempo todo, voltar com outra maturidade ao palco. Doze anos parado, acaba por se crescer muito enquanto pessoa, evoluir em vários aspetos, ter uma perspetiva daquilo que nos aconteceu, e depois ter uma segunda oportunidade de voltar para conseguir usufruir das coisas, para conseguir parar, observar e contemplar o que está a acontecer, é muito bom. Na altura, sendo mais jovens, naquela azáfama de trabalho, gravações e concertos, quando as coisas passaram, algo que dizia era “acho que não usufruí”. Quando estamos a fazer algo, paramos, observamos e contemplamos, e agora deu para fazer isso com outra calma, com outra preparação, e foi muito interessante voltar dessa forma. Já nos tinha acontecido algo de maravilhoso que foi a experiência dos Morangos, tudo aquilo que nos trouxe, com isso surgiram os D’ZRT, o que mudou completamente as nossas vidas. Depois, com muitas coisas pelo meio, termos esta segunda oportunidade e termos feito esta tour foi mágico para nós. Se olharmos para todos os pontos, era mesmo difícil ser assim tão perfeito e estamos muito contentes com isso. Em termos da carreira a solo, sim, tenho estado a reunir as minhas coisas. Agora tenho tido muito tempo com a Aurora, o que é bom, aproveitar esta fase que passa a correr e tenho usufruído disso, o que é muito importante. Mas já estou a trabalhar coisas que tinha no baú há muito tempo, a perceber o que se aproveita ou não, começar a escrever, e sim, quero lançar algumas coisas a solo, não para já, mas para o ano.

A realização é outro dos seus interesses. Na origem da criação da Beat Movies está esse interesse na realização, mas também na produção de conteúdos?

Isso já vem desde criança. O meu pai é apaixonado pela fotografia, portanto, tive logo acesso a máquinas fotográficas em criança. Depois, quando começaram a aparecer as câmaras de vídeo, o meu pai tinha sempre a câmara de vídeo e, quando comprava a câmara seguinte, eu ficava com a anterior. Sempre me habituei a essa visão, através de uma lente, a criar planos, a realizar coisas, e comecei a editar nos primeiros programas de edição. Comecei a juntar as imagens – ainda tudo muito arcaico, mas já funcionava bem – com música, a fazer miniclipes de situações. Faço paraquedismo, e quando comecei a fazer paraquedismo levava a câmara, gravava e depois chegava a casa e fazia um clipe com uma música daquilo que tinha vivido. Mostrava esses clipes e as pessoas diziam que estava tudo ligado: a música, o vídeo, os planos, as sequências. Obviamente, fui estudando, fui fazendo alguns workshops; não tenho nenhum estudo superior nessa área, mas tenho muito experiência de publicidade. Tive a Beat Movies com um colega meu; entretanto, por termos objetivos diferentes, acabámos por terminar a Beat e fiz-me sócio da Mad Studios, que já existia. Éramos quatro sócios. O trabalho era na onda dos videoclipes, publicidade, vídeos institucionais. Começámos a destacar-nos pela qualidade do trabalho que apresentávamos porque havia o link direto da imagem com a música, tornávamos as coisas mais mágicas e diferentes. Fizemos muita coisa na Mad Studios. Chegámos a fazer trabalhos gigantescos para a WTF, a NOS, fizemos coisas muito interessantes, crescemos muito. No ano passado decidimos fazer uma pausa na Mad. Precisávamos todos de respirar um bocadinho; eu também tive a tour, que não me deu muito tempo para o trabalho na Mad, e agora quero voltar. Aliás, muitas das coisas que temos feito enquanto D’ZRT sou eu que faço. Fiz a promo da reunião e tenho aplicado esse meu trabalho a muitas coisas. É uma área que adoro, porque envolve música, envolve ligação de imagens.

Vê com bons olhos a experiência que tem tido no mundo da publicidade?

Sim. É um meio difícil, muito fechado. Mas também a publicidade, tal como tudo o resto, está a mudar. Hoje em dia, se calhar, já não é necessária uma equipa de 40 pessoas para se fazer uma publicidade como antigamente. O próprio investimento já não é como era, mesmo a nível das marcas. Foi muito interessante, crescemos muito quando começámos a trabalhar mais a parte de publicidade. Mas, se calhar, não é o que mais gosto de fazer, porque na publicidade, a um certo nível, há muito pouca margem de criatividade. Gosto de planeamento e de preparação, mas numa lógica de 60%-40%. Se planeares 60%, vais para o set bem. Mas gosto sempre de ter uma percentagem de criatividade e de improviso, e a publicidade não deixa fazer isso. Planeaste tudo, tens o storyboard do que vais fazer e, no local, é só aplicares. Gosto muito mais de, por exemplo, fazer um videoclipe, de ter alguma criatividade no momento da filmagem, no set. A publicidade não te dá isso, é interessante por outros motivos.

Considera que o sector está num bom caminho ou sugere alguma mudança?

A publicidade tem muito mais meios e o digital, então, está a roubar muita da publicidade da televisão. Hoje em dia há marcas que só investem no digital e a televisão já deixou de fazer sentido, até pelos custos elevados. Mas há muito mais meios para chegar às pessoas. Destacam-se sempre algumas publicidades e as campanhas que têm alguma criatividade, algum sentido de humor, que nos fazem estranhar ao início, mas depois perceber que faz todo o sentido. Há marcas que continuam presas ao que sempre foi feito. Gosto de coisas disruptivas e gosto sempre de reinventar. O que é certo é que, quando as marcas arriscam, as coisas, normalmente, correm bem, porque as pessoas notam a diferença. Lembro-me de estarmos a trabalhar para uma marca grande, a fazer uma publicidade, e ainda na preparação inicial discutíamos, entre  o cliente, a realização e os produtores, para onde poderíamos ir, e havia ideias que dávamos e claramente era aquele o caminho, e por receio não avançámos. Fizemos como o cliente pediu e acabou por ser mais do mesmo. Acho que devíamos extravasar mais um bocadinho, está tudo muito como um rebanho de ovelhas.

Realizar um filme, seja curta ou longa-metragem, é algo que gostaria de fazer um dia?

Sim, sim. Aliás, consigo imaginar tudo isso na minha cabeça. Há cerca de um ano e meio criei um projeto, até o mostrei a algumas marcas, que era uma série, muito antes de se pensar nestes novos Morangos com Açúcar, que tinha tudo. Tinha banda sonora, tinha uma banda, e era uma série que ia satirizar e brincar com aquilo que eram os Morangos. Ia buscar certas coisas, com a linguagem de hoje, e brincar. Já tínhamos o elenco, tínhamos tudo pronto, mas não houve ninguém que quisesse agarrar naquilo. Acho que tem muito a ver com estes exemplos que dei: era diferente, engraçado. Tenho investido algum tempo nessa parte mais de ficção e acho que é uma coisa que iria encaixar perfeitamente, porque consigo ter essa visão. Como faço todos os processos, como sou capaz de agarrar na câmara, realizar, meto o material no computador e edito, tenho a noção do processo todo e daquilo que precisas para o produto final em termos de edição. Acho que atualmente, ao nível de edição de séries, novelas, faz-se muita coisa bem cá, mas nota-se um bocadinho que na parte da edição, no ritmo e na rapidez de planos, se peca por ainda estarmos presos àquele ritmo do cinema português, em que tem de se dar um plano durante muito tempo. Sinto que me encaixaria muito bem nessa linguagem e nesse processo todo. Vai acontecer. As coisas que estão na gaveta, que ficam paradas ao longo deste tempo todo, agora podem fazer muito mais sentido. Há muitos projetos que estão na gaveta de ficção, de música.

Tem mais projetos no horizonte?

Estou a remodelar uma van. Também é um bocado de cultura. É viajar. Durante a pandemia comprei uma Mercedes de 1980, uma carrinha gigante, e sempre foi um sonho fazer uma casa com rodas. Comprei-a na costa alentejana, tinha matrícula alemã. Vi o anúncio no OLX e quis logo comprá-la. Ao longo deste tempo todo tenho estado a restaurá-la, a parte exterior, e agora vou começar o processo de construir o interior, a parte elétrica, de frames, móveis, pôr tudo bonitinho. Esse é o meu projeto este ano. Já tem um rooftop em cima, vai ter uma escadinha para haver uma plataforma superior. É um projeto de sonho. Vai ser uma minicasa, tem espaço para isso.

Vai estar pronta para o verão?

Vai, porque vou dar um certo avanço nesta fase e vou ter alguma ajuda para isso. Acho que vai dar para fazer muita coisa com isto, além de viajar. Já documentei todo o processo de restauro de chapa e pintura e vou documentar todo o processo de construção do interior. E, depois, sair com ela. Há muito para explorar em Portugal.

Artigo publicado na edição do NOVO de 23 de março