Foi no pequeno, mas acolhedor estúdio da GrooveBox, na Ajuda, que Iolanda recebeu o NOVO, cerca de duas semanas depois de ter vencido oFestival da Canção e carimbado o passaporte para a Suécia, onde vai representar Portugal na Eurovisão. Ainda a refazer-se da emoção dos últimos dias, já está a pensar no que virá a seguir: “Estou muito grata, porque tem sido um caminho incrível desde o início e aprendi muito durante o processo. Acho que tudo o que vivi, cada passo que dei, cada dia e cada ensaio que fui fazendo, houve uma batalha, e passar esses dias foi uma vitória para mim”, conta, em conversa com o NOVO.

“Agora estou a pensar no trabalho que vem a seguir porque, apesar de ser fixe vencer o Festival da Canção, é ainda mais louco pensar numa Eurovisão. São dois palcos totalmente diferentes. Assim que percebi que tinha vencido, fiquei feliz, chorei um bocadinho, mas depois fiquei logo focada na Eurovisão”, acrescenta.

Esta vitória noFestival da Canção aconteceu dez anos depois de ter participado noThe Voice e não ter conseguido que nenhum dos mentores virasse a cadeira para ficar com ela. Iolanda recorda que esse momento lhe deu mais força para continuar.

“Pensei em desistir da música, mas foi só durante três minutos. Aquele processo de não passares numa cena acaba por ser mais… como hei de explicar? Parece mais pesado até do que é. Na verdade, não é assim tão problemático. Achei que a minha vida ia acabar naquele momento mas, passados uns dias, estava tranquila e continuei a fazer a minha vida. Não é só aquilo que interessa, acho que é isso. Aprendi, durante o processo, como gosto de explicar, que o facto de não ter passado só me deu mais força para continuar a trabalhar nisto, porque é isso que me interessa”, garante, antes de explicar uma das razões para ter encontrado o caminho do sucesso: “Podia não ter acontecido, mas aconteceu. Acho que é fruto de muito trabalho. Claro que o talento está sempre presente, mas acho que o trabalho é sempre mais importante do que o talento. Portanto, olha, acho que funcionou.”

Antes de rumar a Malmö, Iolanda sobe a palco este domingo, no Sónar Lisboa, onde vai atuar, no palco SónarVillage, a partir das 15h35, uma experiência que, admite, vai ser um bocadinho diferente daquilo a que está habituada.

“Foi um convite que recebi com muito amor e com muito entusiasmo, porque é um festival em que o line-up é diferente até daquilo que eu ouço normalmente. Ouço alguma música eletrónica, mas não tanta quanto o Sónar apresenta. É para mim um momento especial, porque é um festival que não conhecia, ou seja, conhecer um festival quando vais tocar e quando fazes parte do line-up é sempre engraçado, é sempre muito entusiasmante.”

Numa grande entrevista ao NOVO, publicada no dia em que venceu a meia-final doFestival da Canção, Iolanda reconheceu que, se tivesse de revisitar a Cura – EPde estreia da artista –, talvez o fizesse menos eletrónico… Apesar de continuar a querer explorar a parte mais contemporânea da sua música, está entusiasmada com esta nova experiência.

“Neste momento estou a ir completamente ao contrário, não é? [risos] Há sempre caminhos… Há sempre um caminho para um lado e um para o outro. Sinto que o EP, em si, tem muita eletrónica, mas também gostava de ir um bocadinho ao contemporâneo, só explorar um bocadinho mais… Todos os instrumentos que temos na Cura foram quase todos gravados; o resto, tudo o que é eletrónica é tocado, como é óbvio, no MPC…”, explica. “O Sónar é um sítio diferente e é um espaço que tem muita música diferente, mas acho que há sempre espaço para misturar um bocadinho de eletrónica que eu faço com a música contemporânea. Portanto, acho que é um espacinho… Vai ser um live set fixe, diferente”, acrescenta.

Para esta atuação,Iolanda, Guilherme Salgueiro e o produtor Luar, que vão acompanhá-la em palco junto ao Pavilhão Carlos Lopes, estão a preparar uma versão mais eletrónica das músicas que compõem a Cura.

“Vamos ter um bocadinho mais de eletrónica do que é habitual… Já que o festival é de música eletrónica e eu também tenho eletrónica, decidimos explorar um bocado mais essa vertente. Estamos a fazer um revamp do concerto que costumamos apresentar. Estamos a fazer umas mudanças em algumas canções”, explica. “Acho que podem esperar um bocadinho ainda mais de energia do que temos vindo a apresentar. Não vou ter os meus bailarinos comigo, mas, quem sabe, no futuro estreio-me a dançar. Teria de aprender a dançar um bocadinho melhor.” [risos]

Com um line-up dedicado à música eletrónica – com géneros musicais que vão desde o house ao techno, passando por vertentes mais experimentalistas –,Iolanda confessa não conhecer muitos dos artistas que passam este fim de semana pelo Parque EduardoVII. Já tem, no entanto, alguns nomes que quer muito ver: “Quero ver o Branko, porque nunca o vi ao vivo. A ZenGxrl, já vi… Quero muito ver a Sevdaliza, que é das artistas que estão no line-up que conheço mais. Tudo o resto, vou à descoberta…”

Um velho conhecido do Sónar

Branko sobe a palco, no SónarClub, cerca de duas horas depois de terminada a atuação de Iolanda, num cartaz que conta com a sua curadoria. Para o veterano produtor, trata-se de um regresso a uma casa que conhece bem.

“Tudo o que envolve o Sónar entusiasma! Já sou muito fã do festival há anos. Acho que a primeira vez que fui ainda era no universo Red Bull Music Academy”, confessou, em conversa com o NOVO, na apresentação do festival. “Há muitos anos que vou a Barcelona e fiquei superfeliz quando veio para Lisboa, mais ainda por poder tocar e participar. É muito fixe!”

O produtor é presença assídua nos cartazes do Sónar em Barcelona, Lisboa e até Istambul: “Toquei em Barcelona, com Buraka Som Sistema, e também como Branko, duas ou três vezes. Já devo ter estado em todos os Sónares, inclusivamente toquei no de Istambul. Já fiz várias coisas, talvez nuns dez Sónares diferentes”, recorda, entre risos.

Branko apresenta, este domingo, o seu mais recente álbum, SOMA, lançado a 15 de março –com a chancela da Enchufada, editora de que é fundador – e que conta já com mais de meio milhão de streams no Spotify. Trata-se de um trabalho em que começou a trabalhar durante a pandemia e que, por força das circunstâncias da altura, não seguiu o processo de criação a que estava acostumado.

“Este disco começou com um processo diferente, com jam sessions com músicos. É uma coisa que nunca tinha feito, começar por esse lado mais orgânico de tocar com pessoas na sala e trocar ideias. Foi um pouco a antítese do distanciamento social com que estávamos há uns anos. O disco começou um bocadinho por aí”, explicou.

Para a atuação deste fim de semana, Branko vai fugir ao tradicional live DJset com que nos tem brindado ao longo dos anos e apresentar um espetáculo diferente: “Como essa sonoridade acaba por estar tão marcada, senti, inevitavelmente, necessidade de trazer isso para o palco. Vou ter um formato novo, diferente, com alguns músicos. É um bocadinho mais musical, por assim dizer, menos focado, se calhar, no lado do DJ set e mais focado no lado mesmo do concerto.”

De Barcelona para o mundo

O Sónar Lisboa nasceu em 2021, depois de edições na Turquia, Japão e Argentina, além do orginal, em Barcelona, que celebrou no ano passado 30 anos de existência. Ofestival arrancou na sexta-feira, no Parque Eduardo VII, com atividades divididas entre o Pavilhão Carlos Lopes e a Estufa Fria. Os bilhetes diários custam 49,30 euros para cada uma das sessões (by Day e by Night). O passe geral custa 142,40 euros, mas há desconto para compras em grupo. O bilhete dá acesso ao festival e à programação do Sónar+D.