Morreu António Pedro Vasconcelos, nome incontornável do cinema português. O cineasta e escritor português tinha 84 anos.

“A família de António-Pedro Vasconcelos informa que o nosso A-PV partiu esta noite, a poucos dias de completar 85 anos de uma vida maravilhosa”, pode ler-se no comunicado divulgado hoje.

Nascido em Leiria em 10 de março de 1939, António-Pedro Vasconcelos foi realizador, produtor, crítico e professor, tendo fundado o Centro Português de Cinema, como indica a biografia patente na Academia Portuguesa de Cinema.

António-Pedro Vasconcelos foi um dos realizadores do Novo Cinema, movimento vanguardista que surgiu em Portugal nos anos 1960, em pleno Estado Novo, para romper com a ideologia vigente e que vingaria nos anos seguintes. O seu primeiro filme foi Perdido por cem…, em 1973.

Autor de vários filmes de sucesso em Portugal, destacam-se O Lugar do Morto (1983) e Jaime (1999). Foi distinguido com os Globos de Ouro para Melhor Filme e Melhor Realizador e com a Concha de Prata do Festival Internacional de Cinema de San Sebastian. Mais recentemente, realizou Os Imortais (2003), Call Girl (2007) – estes dois bastante polémicos –, A Bela e o Paparazzo (2010) e Km 224 (2022).

Além de realizador, foi também produtor de cinema. Fundou a V.O. Filmes, a Opus Filmes e o Centro Portugu~es de Cinema, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Produziu também a maior parte dos filmes do Novo Cinema Português. Apresentou o programa Cineclube, na RTP2, e foi comentador desportivo enquanto adepto do Benfica.

António-Pedro Vasconcelos também foi crítico de literatura e cinema, cronista e comentador televisivo, “com forte intervenção cívica”, como escreveu José Jorge Letria, em 2016, no livro de entrevista com o realizador, “Um cineasta condenado a ser livre”.

Um dos campos de intervenção foi a Associação Peço a Palavra, que se bateu publicamente contra a privatização da TAP.

“Hoje, mais do que nunca, temos a certeza que o nosso A-PV, que tanto lutou para que todos fôssemos mais justos, mais corretos, mais conscientes, sempre tão sérios e dignos como ele, será sempre um Imortal”, escreveu a família em comunicado.

Recebeu de Mário Soares o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, a 10 de junho de 1992.

João Soares partilhou hoje uma nota de pesar pelo desaparecimento de António Pedro Vasconcelos.

“Recebo com grande tristeza a noticia da morte de António Pedro Vasconcelos. Admirava o muito como cineasta, a obra que nos deixa é notavel. Também como cidadão cujas opiniões respeitava, e muitas vezes seguia. Um homem de esquerda, desde quase sempre próximo do PS. Teve um papel muito importante na campanha presidencial do meu pai em 1986. Foi amigo e apoiante sem falhas de Mario Soares, sempre”, escreveu o antigo presidente da Câmara Municipal de Lisboa numa publicação no Facebook.

A acompanhar a mensagem, João Soares partilhou um trecho do Rock da Liberdade, escrito por António Pedro Vasconcelos, em 1986: “Para nós só há a Liberdade…”, antes de endereçar os pêsames à família do cineasta.

“Honra à memória de Antonio Pedro Vasconcelos”, terminou.