É uma casa portuguesa, com certeza, ainda que nos faça viajar, logo à entrada, aos cenários dos intemporais policiais de Agatha Christie. Há uma cozinha plenamente funcional, que dá inveja até a quem não sabe fazer grande coisa com tachos e panelas, aberta para um espaço amplo e bem iluminado pelo sol que se divide em ambientes: uma secretária de trabalho com a máquina de escrever à espera que a imaginação a traga de volta à vida, uma sólida mesa de madeira em antecipação de conversas animadas e até um piano de cauda afinado com prumo para inspirar quem saiba musicar. E se não fosse o corredor de estúdios profissionais à entrada, quase se diria estarmos mesmo de visita a amigos.

É a casa dos contos, saída da cabeça de um grupo de profissionais de primeira água todos ligados à área do som e da produção, que levaram a um parceiro investidor a ideia de criar um espaço que se tornasse na “Casa dos Audiobooks em Portugal”. “É assim que gostaríamos de ficar conhecidos”, conta ao NOVO Bruno Sambado, que traz no currículo mais de 20 anos de produção para televisão e é, com Fernando Abrantes – “o maior engenheiro de som do país, mais ligado à produção musical” –, o homem forte desta Tale House.

Foto: Fábio Rebelo/Tale House

A ideia nasceu há cerca de um ano, quando Bruno e Fernando, dando-se conta da evolução e dimensão do mercado dos audiolivros a nível internacional, decidiram deitar mãos à obra. “Primeiro vimos isto acontecer nos EUA, depois analisámos o mercado europeu e a realidade era semelhante. Esta evolução do mercado, sobretudo nas faixas etárias que mais consomem este género de formato (podcasts, videocasts, etc.), levou-nos a acreditar que seria uma boa oportunidade e que o mercado português estaria disponível para um serviço especializado no campo dos audiolivros”, conta o diretor-geral da Tale House.

Foto: Fábio Rebelo/Tale House

Se o mercado estava bem servido de estúdios de áudio e até vídeo, não existia ainda nenhuma empresa em Portugal especializada na produção de audiobooks, que exige condições próprias. E a abertura das linhas do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) deu o empurrão final. “O Ministério da Cultura, via PRR, abriu uma linha de apoio/financiamento de 4,8 milhões de euros para a gravação de audiolivros e ebooks no final de dezembro e isso veio dar um enorme impulso ao mercado”, relata ainda Bruno Sambado, explicando que a certeza de que o mercado estava a descolar foi o desbloqueador final para abrir as portas.

Foto: Fábio Rebelo/Tale House

“Esta casa pretende ser o espaço onde as histórias vivem”, resume então Bruno Sambado, explicando que, além dos quatro estúdios dedicados à gravação de audiobooks em todas as línguas, há dois outros de 50m2, com sofás coloridos e ambiente, para gravação de videocasts e podcasts. “Há ainda uma cozinha disponível para chefs e influencers gravarem as suas receitas de uma forma profissional e com todas as condições necessárias.” Mas no final do dia, a Tale House é mesmo uma casa, onde vive uma família que tem real prazer em receber bem. “É assim que gostamos que os nossos clientes e parceiros se sintam, em casa.”

Não se confunda, porém, bom acolhimento com informalidade ou falta de rigor: esta equipa é altamente profissional em tudo quanto tem feito desde que abriu portas, o que lhe permitiu já, por exemplo, conquistar o coração da Leya. A editora é uma das principais clientes que escolheram a Tale House para gravar os seus audiolivros, incluindo o último livro de Rodrigo Guedes de Carvalho, As Cinco Mães de Serafim, da D. Quixote, dito pelo próprio.

Foto: Fábio Rebelo/Tale House

“Temos também um podcast extraordinário sobre livros, o Leituras sem Badanas, conduzido pela Carolina Vaz Pinto e o Sebastião Veloso, e também estamos com a Editora Principia, através da sua chancela Lucerna, a gravar várias obras”, elenca Bruno Sambado. À lista vão-se juntando cada vez mais podcasts, como o que se estreou nesta sexta-feira, Tomorrow Talks, com a Generation Resonance (em colaboração com a United Nations Association Portugal), ou o que será lançado dia 20, da autoria da Isabel Neves, Que Culpa têm as Flores. “O nosso espaço, permite ainda acolher empresas de comunicação e RP para media training, coisa que tem acontecido com mais frequência nos últimos meses, devido ao período eleitoral e porque garantimos a necessária descrição e condições técnicas”, acrescenta o diretor-geral.

Foto: Fábio Rebelo/Tale House