Sob o mote Publique de qualquer lugar e venda em todo lugar, o Clube de Autores é a maior plataforma de autopublicação de livros em língua portuguesa, permitindo que qualquer escritor possa publicar a sua obra de forma simples e gratuita por meio da inteligência artificial. A publicação pode ser em formato digital ou impresso e os livros são imprimidos em regime on demand.

O Clube de Autores surgiu em 2009 e ganhou impulso em 2018, depois de fechada uma parceria com a Amazon, que abriu portas para uma maior distribuição e relevância no mercado. Destinado a “democratizar o acesso à publicação e leitura de livros”, a plataforma reúne já uma série de distinções, sendo que, mais recentemente, foi um dos vencedores portugueses dos World Summit Awards 2023, na categoria Culture Heritage.

Com o objetivo de deixar de estarem restritos ao mercado brasileiro, apostaram na expansão internacional, cujo primeiro destino foi Portugal por ser uma “porta de entrada para toda a Europa”.

“Saímos de um processo de uma empresa já relativamente consolidada, para uma espécie de uma startup. Começámos tudo de novo aqui em Portugal”, explica ao NOVO Ricardo ALmeida, fundador e CEO do Clube de Autores. “O Brasil tem uma vantagem e uma desvantagem ao mesmo tempo. A vantagem é ser um país muito grande, com um mercado muito grande. São 220 milhões de pessoas. A desvantagem é que ele é grande o suficiente para ficar ensimesmado”, acrescenta.

“Nós temos um oceano de um lado, uma série de países hispânicos do outro e a floresta em cima. Então, o que acontece? Nós aprendemos, talvez erroneamente, a nos bastar. O mundo fica restrito às fronteiras. Há uma perceção de mundo muito pequena”, completa.

Para Ricardo Almeida, a vantagem de Portugal ser um país pequeno é que obriga a “olhar para os lados”, com benefício também dos acordos provenientes da União Europeia, que viabilizam a internacionalização e expansão de uma maneira geral e que hoje permitem que o país tenha um “ecossistema de inovação muito rico”.

Neste mês de abril, a plataforma brasileira assinala um ano desde que se instalou em Portugal, tendo já publicado mais de 700 livros no país. No total, entre Brasil e Portugal, já foram publicados mais de 100 mil livros na plataforma, que a seguir expandiu-se para Espanha e Ásia-Pacífico. “Funcionou muito melhor do que as nossas expectativas”, diz o responsável.

Atualmente, o Clube de Autores chega 50 países em termos de distribuição, com presença em mais de três mil marketplaces e livrarias online. Assim, destinam-se agora ao projeto que chama de “rodovias literárias”, que é justamente “permitir que o autor publique em qualquer canto que ele estiver e possa vender em todos os cantos.”

Ricardo Almeida sublinha ainda que, mais importante do que se expandir por países, é tentar abranger diferentes línguas: “No final do dia, vivemos num mundo em diásporas. Então, importa muito menos o território confinado por alguma geografia ou por alguma fronteira e muito mais o volume de pessoas que falam uma determinada língua que seja espalhada pelos quatro cantos”, sublinha.

O fundador do Clube de Autores considera também que o mundo lusófono está cheio de “preciosidades”, apesar de ser um cenário onde se lê proporcionalmente pouco, em comparação, por exemplo, com Espanha ou com o países anglo saxónicos. Nega, no entanto, que a literatura seja o “parente pobre” da cultura, apontando a taxas de leitura a crescer de uma maneira muito constante no mundo inteiro, principalmente nas gerações mais novas, motivadas também por fenómenos como o BookTok.

Realça ainda que o idioma pode ser uma barreira: “A literatura independente, que são os clássicos do amanhã, ainda é difícil de ser encontrada em outros idiomas”, ao que adiciona que uma parte dos obstáculos atuais, portanto, é a tradução dos livros, que acredita estar próximo de ser resolvido devido à inteligência artificial, área onde estão a investir grandemente.

O fundador revelou que o Clube de Autores pretende lançar brevemente uma assistente literária virtual, chamada “Aila”, com o objetivo de dar apoio aos autores e editoras independentes, através de acesso aos dados detalhados sobre as suas obras, incluindo comparações com outros livros do mesmo género, e recomendações sobre como melhorar as suas vendas. Trata-se de uma ferramenta pioneira no mercado editorial mundial. Além disso, a Inteligência Artificial servirá também para começar a prestar efetivamente um leque variado de serviços, de tradução a revisão, algo que “muito se fala, mas pouco se faz no mercado editorial”.

Quanto à ameaça do mundo online e dos e-books para os livros impressos, Ricardo Almeida considera que o mercado de livro é “predominantemente impresso e não há sinal de mudança com relação a isso, o que gera uma dificuldade, no final das contas, que é justamente a distribuição”. Este tem sido, aliás, o maior desafio que enfrentaram nos últimos anos, devido à complexidade tecnológica “absolutamente violenta”.

Autores ou editoras independentes que estejam interessados em publicar pelo Clube de Autores, podem fazê-lo através de um processo totalmente online. Para tal, basta acessarem ao website e seguir as etapas.

Ricardo Almeida afirma que o facto de o procedimento ser inteiramente automático permite que o torne gratuito e que cerca de mil editoras diferentes utilizam a plataforma por conta da capacidade de distribuição on demand. Desta forma, reforça que não se deve “criar demónios” acerca da Inteligência Artificial, antes ver a ferramenta como uma das grandes aliada da evolução.

A este propósito, lamenta que o mercado editorial seja excessivamente conservador, tornando-se “preso nele mesmo”.

“Muitos dos problemas do mercado editorial são gerados pelos preconceitos dos próprios principais players editoriais.”, sublinhando que é necessário “olhar” para o futuro e tirar estas “barreiras artificiais”. “É aprender a prever o futuro, o que é algo relativamente simples, porque é só olhar para o presente e tirar aquilo que não faz sentido nenhum”, conclui.

Editado por João G. Oliveira