A Catalunha está oficialmente desde esta sexta-feira em campanha para as eleições autonómicas de 12 de maio. E está também oficialmente em profunda crise política – que se manifesta desde que o socialista Pedro Sánchez conseguiu contrariar o voto da maioria dos espanhóis (que fizeram o PP vencer as eleições de julho passado), mantendo-se na chefia do Governo.

Desde então, a vida política de Sánchez tem sido marcada por uma sucessão de episódios que lhe retiraram qualquer possibilidade de governar com um mínimo de estabilidade. Desde as reticências que o rei Filipe VI não escondeu ter face a um novo Governo de Sánchez, até às atuais suspeitas que caem sobre a sua mulher.

E se na frente catalã as coisas parecem estar a correr de feição para os socialistas – segundo as sondagens, os socialistas podem voltar ao governo após 14 anos de maiorias dos independentistas – na frente nacional é o descalabro.

Mas, evidentemente que a crise nacional vai afetar a Catalunha. Salvador Illa, o líder dos socialistas na Catalunha, está a contar com uma maioria relativa e com o contributo dos independentistas para formar um Governo estável. Mas isso pode bem não acontecer. Em 2021, o PSC foi o mais votado, mas uma coligação da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e do Juntos pela Catalunha (JxCat, de Carles Puigdemont), impediu os socialistas de chegar ao Governo.

São os mesmos partidos que apoiam o Governo centram do PSOE – o que permite concluir sobre a qualidade desse suporte, dizem os críticos. Aliás, em entrevista recente, Puigdemont ameaçou retirar o apoio ao Governo de Sánchez se os socialistas aceitarem os votos do Partido Popular (PP, direita) para inviabilizarem um executivo regional liderado por independentistas, como aconteceu no ano passado na câmara municipal de Barcelona.

Como veio a provar-se, tudo isso era quase nada face ao que aí viria. Na quarta-feira passada, Pedro Sánchez disse estar a ponderar demitir-se. Cancelou a agenda dos próximos dias para “parar e refletir” e prometeu uma declaração pública sobre o seu futuro para a próxima segunda-feira. Aparentemente, Sánchez nada mais podia fazer, dado o facto de um tribunal de Madrid ter confirmado a abertura de “um inquérito preliminar” à sua mulher, Begoña Gómez, por alegado tráfico de influências e corrupção. Segundo a imprensa espanhola, o caso surgiu na sequência de uma queixa de uma apresentada por uma associação ligada à extrema-direita espanhola. Sánchez disse, segundo a imprensa, estar a ser vítima, há meses, da “máquina de lodo” do PP e dos extremistas do Vox e que os problemas que atingiram a sua mulher são um “ataque sem precedentes”.

PP e Vox acusaram Sánchez de estar a vitimizar-se para desviar as atenções de várias suspeitas e casos judiciais de corrupção e de tudo não passar de “um espetáculo” de campanha eleitoral, para mobilizar militantes e estruturas do PSOE.

Até segunda-feira, o país mantém-se em suspenso. Mas o mais provável, segundo a imprensa, é que Sánchez acabará por se submeter a uma moção de confiança no parlamento, que obrigará a ‘geringonça’ espanhola a unirem-se em apoio ao Governo.