A cidade do Porto receberá, entre 8 e 10 de maio, a conferência Women in Wine (WIWE) 2024, que junta enólogas de todo o mundo com o objetivo de “conectar as mulheres na indústria do vinho de este a oeste”.

O projeto destina-se a promover o trabalho das mulheres no sector, melhorar a sua educação sobre o vinho e sensibilizar para a igualdade de género em toda a indústria. Para isso, e destinada a “celebrar a sustentabilidade e a diversidade”, esta quarta edição da conferência tem uma programação repleta de workshops interativos, sessões de discussão e provas de vinho, num ambiente que motivará à partilha de ideias com colegas de todo o mundo.

Senay Ozdemir, jornalista e fundadora da Women in Wine Expo, revelou ao NOVO que a ideia da conferência nasceu da sua vontade em querer saber mais acerca do vinho. “Como jornalista, acho que devemos sempre tentar preservar a história completa”, explicou.

Este interesse levou-a a fazer viagens pelo mundo para explorar o tema. Pelo caminho, conheceu muitas mulheres do sector, desde enólogas a produtoras de vinho e distribuidoras – todas elas “curiosas” acerca do trabalho umas das outras. “Havia uma necessidade de estas mulheres se relacionarem”, sublinha, e assim deu início ao projeto.

A primeira edição teve lugar na Bélgica e nos Países Baixos, em 2019, altura em que Ozdemir relata que ainda não havia muitos desenvolvimentos no que consta ao movimento pelo papel da mulher na indústria. “Agora, passados cinco anos, há muito mais a acontecer. Vemos muitas mulheres em organizações vinícolas a aparecerem, mas na altura não era esse o caso”.

A seguir, a WIWE chegou à Geórgia em 2022 e a última WIWE foi no Reino Unido, em 2023.  “Nunca a fazemos no mesmo país porque queremos que as mulheres viajem connosco”, sendo que, a cada país, exploram o melhor da cultura vinícola da região.

“A Women in Wine Expo tem como objetivo contar as histórias de regiões vinícolas menos percorridas e o que há de novo no vinho, quem são as novas pessoas e novas histórias, o que devemos saber”, explica a fundadora. “Tento não contar a história do costume. Tento contar a nova história.”

Após o sucesso das edições anteriores, a WIWE escolheu, desta vez, a cidade portuguesa de onde provém o famoso vinho do Porto. A decisão deve-se a Portugal ser um país vinícola “muito importante” e com uma “enorme história”, destacando nomeadamente a sua enorme produção de vinho do Porto e de cortiça.

As masterclasses, por sua vez, incluirão temas como os vinhos portugueses (liderada pela conceituada enóloga Sandra Tavares da Silva), vinhos híbridos (por Elizabeth Higley, enóloga da Carolina do Norte), produção de cortiça (dinamizada pela portuguesa Magda Sá) e bem-estar na indústria do vinho (por Caro Feely, especialista da África do Sul). Já as oradoras desta edição abrangem líderes emergentes no sector do vinho, como a indonésia Evy Gozali, a brasileira Karene Vilela e a australiana Kelly Pearson.

Homens são permitidos em apenas algumas atividades, mas não em todas, visto que o objetivo é ser um “espaço seguro” para as mulheres “serem livres para dizerem o que quiserem dizer”.

Através da experiência de mulheres portuguesas do sector, a responsável afirma que o mercado em Portugal é muito “tradicional e patriarcal”, embora as pessoas tendam a ser muito “modernas”. “Se fores uma mulher bem sucedida na área do vinho no Douro, não é assim tão fácil ser aceite pelos homens que lideram a indústria do vinho há décadas ou há séculos”, clarifica.

Ainda assim, sente que atualmente muitas viniculturas portuguesas estão a tentar tornar-se efetivamente proprietárias das terras. “Têm realmente ambições com a terra: querem produzir mais vinho, querem criar mais enoturismo, mas isso só é possível se formos donas da terra, porque senão estamos a trabalhar para outra pessoa”, declara.

Realça ainda o papel da diversidade enquanto história que dará valor ao produto e irá potencializar a sua venda: “todas estas indústrias produtoras precisam de ter novas histórias para as vender”. “Por isso, quando se é produtor, distribuidor ou importador de vinho, o melhor que se pode fazer é oferecer uma diversidade de histórias sobre esses vinhos. E hoje em dia, as pessoas bebem muito mais vinho porque ele tem uma história.”

“A minha missão é acrescentar as vozes das mulheres à história do vinho, porque é a única forma de acrescentar algo à história do vinho, participando apenas na indústria. E as mulheres têm histórias espectaculares. Não temos ouvido falar muito das suas histórias. Por isso, é altura de as contar”, acrescenta.

“Não esqueçamos que as mulheres foram sempre deixadas de fora das histórias, não só no vinho. (…) é tempo de serem partilhadas de forma igual, e também não estou a dizer que os homens não são importantes. Os homens continuam a ser importantes. Precisamos uns dos outros”. Aponta ainda que as diferentes abordagens no que conta à produção do vinho são importantes: “as mulheres tendem a cuidar mais da terra e os homens têm uma visão muito mais comercial”. “Por isso, esta abordagem é também muito importante para ter estas diferentes visões, é assim que se cria equilíbrio e equilíbrio é, claro, a palavra final para o vinho, (…) e isso passa por acrescentar mulheres enólogas à indústria do vinho.”

A edição do Porto contará também com a parceria da Bijou Wine, produtor vinícola francês proveniente das regiões de Languedoc-Roussillon e Provença. Através desta colaboração foi desenvolvido a Bijou Wine Scholarship, bolsa destinada a dar a oportunidade de participar na conferência a cinco mulheres portuguesas com pequeno orçamento, fossem elas profissionais experientes ou mesmo iniciantes no sector de produção ou distribuição de vinhos.

Outra parceria, desta vez com a francesa Burgundy School of Business, levará a cabo o lançamento do primeiro inquérito qualitativo Global Perspectives of Female Wine Consumers, onde oito estudantes do MBA Wine & Spirits Business divulgarão os resultados da investigação.

A Women in Wine 2024 decorrerá de 8 a 10 de maio, no Porto. O valor dos bilhetes é de 450€ e todos os seus lugares já estão ocupados, sendo que a organização ainda aceita manifestações para a lista de espera. Para o futuro, a fundadora revela que pretende explorar mais países da América do Sul, do continente africano e da Europa de Leste, de maneira a aumentar a visibilidade do trabalho que é feito nesses países dentro do sector.

Por fim, Senay Ozdemir salienta que “as mulheres têm sempre medo de falar” e aconselha: “Façam-no”. “Pensem em grande, pensem alto. A prática ajuda sempre. É essa a minha mensagem para as mulheres. E estou a tentar ser prática, dando-lhes o palco para praticarem”, conclui.

Editado por Fábio Nunes