Cativar cada vez mais alunos internacionais é um dos compromissos que João Pinto assume como centrais no mandato que acaba de começar como dean da Católica Porto Business School. Nos próximos cinco anos, o professor e investigador, que é também co-líder do INSURE.hub – uma plataforma de inovação, sustentabilidade e regeneração da Católica que conta com mais de 70 parceiros -, vê nessa abertura à Europa e ao mundo um passo essencial para a sobrevivência daquela escola de gestão entre as melhores, numa área cada vez mais globalizada.

“Enfrentamos desafios que são comuns a todas as escolas de gestão e que passam pela sustentabilidade, pelo refinanciamento da ciência e pela capacidade de retenção de talento em Portugal”, explica ao NOVO. “Mas a quebra demográfica no país tem desafiado a sociedade portuguesa com mais mudanças, a par da concorrência regional, nacional e internacional, pelo que, para continuarem a crescer afirmar-se, as nossas escolas têm de ser capazes de captar alunos internacionais.”

A UCP Business School encara esse desafio apoiando-se em três eixos estratégicos: uma mentalidade global que aponta à internacionalização (todos os mestrados e os cursos de Gestão são em inglês) e capaz de conferir duplos graus em conjunto com universidades de referência a nível internacional, por exemplo; o foco na inovação com impacto (em ligação com os stakeholders); e uma forte componente de ligação à prática (permitindo trabalhar com parceiros nacionais e internacionais em temas mais prementes, como a IA e a Sustentabilidade).

“Faz parte da nossa missão desenvolver profissionais preparados para um mundo global, sustentável e ético”, resume o diretor da escola de gestão.

Licenciaturas duplas e abertura ao mercado
Numa altura em que muitos alunos escolhem a faculdade, seja para uma licenciatura seja para o mestrado, considerando uma oferta global, na Católica Porto Business School cerca de um em cada quatro estudantes é estrangeiro, mas a maioria deles vem de Erasmus, passando aqui um semestre ou pouco mais. E João Pinto está apostado em captar mais jovens que cumpram todo o seu percurso formativo e até encontrem em Portugal uma nova casa. Para o que conta a formação e também uma profunda ligação ao tecido empresarial e ao que os empregadores vão exigir.

“O último relatório do World Economic Forum diz que a criação de emprego nos próximos anos será muito impulsionada por tecnologia e sustentabilidade; nós temos de adaptar a formação a esses desígnios e preparar-nos trazendo ao cerne da oferta as normas ESG, as tecnologias de ponta, mais acesso digital. Tudo isto é crítico e a capacidade de desenhar ofertas formativas focadas em programas flexíveis e dinâmicos, com ligação à dimensão empresarial nos alunos, é fundamental.”

Essa visão materializa-se na inovação que entra nos currículos, por exemplo sob a forma de duplas licenciaturas, cujo interesse se tornou visível na ligação com a indústria. O dean explica: “Há uns seis anos, concluímos, em conjunto com os empregadores, que fazia sentido lançar um produto, que é inovador a nível europeu, de licenciatura em Direito e Gestão e temos tido enorme procura de alunos com médias muito elevadas. Quando chegam ao fim dos cinco anos, têm duas licenciaturas completas e um conhecimento muito mais abrangente que lhes dá vantagem no mercado de trabalho.”

Se o teste foi superado com êxito, impõe-se alargar o âmbito, razão pela qual a escola está a preparar a segunda dupla licenciatura, com muito de inovação e sustentabilidade, em Gestão e Biotecnologia. “Isto desenvolveu-se com indústria e design thinking, com uma forte ligação às empresas. Os programas que oferecemos são produto dessa relação muito próxima, sobretudo com PME, que sempre nos diferenciou, por isso sempre que há uma revisão curricular ou um novo programa em análise ouvimos um conjunto de parceiros e entidades.”

A ligação simbiótica ao tecido empresarial não se esgota no momento de desenhar a oferta formativa. Durante os cursos, há disciplinas como História e Iniciativa Empresarial, em que são analisadas empresas e os próprios CEO participam de forma que os alunos entendam como funcionam as companhias, mas também com projetos interdisciplinares nos segundo e terceiro anos e trabalhos finais em que lhes é dada a oportunidade de desenvolver projetos com coaching dos departamentos de recursos humanos das empresas. Que também são chamadas a intervir em momentos-chave, como a formação de executivos através do INSURE.hub (que junta, por exemplo, a business school com a Escola Superior de Biotecnologia e a New Generation e programas em que a lecionação é garantida quase a metade por especialistas das empresas).

Abrir a escola à sociedade
Nesta busca por responder a novas áreas de interesse, a Católica permite ainda aos formandos desenvolver grupos académicos que vão muito além das tradicionais associações, materializando-se em núcleos de debate ou de trabalho interdisciplinares, e até na oportunidade de somarem ao currículo cadeiras de outras das sete faculdades do campus, como opcionais.

“Temos ainda todos os anos uma abordagem com ODS específicos, que são comuns a todos os cursos, e juntamos alunos das diversas formações – Direito, Gestão, Artes, Biotecnologia, etc. – para estudar e apresentar perspetivas diferentes.” O que até já mereceu à Católica Porto Business School um prémio internacional em cadeiras ODS. Essa aposta em formar jovens adultos capazes de endereçar um futuro melhor e mais sustentável é também fruto do ADN da própria Universidade Católica e da importância que a casa dá ao desenvolvimento de uma “consciência ética” dos alunos, formando-os para que verdadeiramente intervenham na sociedade. E toma forma em projetos como o Investment Club, ações de consultoria e apoio a organizações sem fins lucrativos ou promoção de movimentos de voluntariado e apoio a pessoas e entidades parceiras. “Queremos dar-lhe essa visão ética e de responsabilidade social que é fundamental para nós”, explica João Pinto.

Se a escola de gestão tem este cuidado e abrangência na oferta formativa, a empregabilidade dos seus alunos é, naturalmente, uma prioridade. Além de um carreer development office que faz a ligação entre alunos de todos os níveis de ensino e a prática, com mentoring e ligando o que desejam e o que o mercado procura, com conhecimentos transverais e soft skills, há ainda uma feira de emprego (Rumo) e um Job Teaser, iniciativa na qual os empregadores disponibilizam ofertas de emprego e se faz matching com alunos. Uma espécie de tinder de relações profissionais.

É ainda bem patente a preocupação em “fomentar a aprendizagem ao longo da vida”, que possibilite adquirir competências a longo prazo para responder às necessidades dos empregos do futuro e que ganha vida, por exemplo, na Academia do Empresário. “Tendências como programação, big data analytics, IA ou ESG são críticas para fazer reskilling e upskilling”, conclui o dean. “E o ensino superior português tem aqui um papel muito importante.”

Artigo publicado na edição do NOVO de sábado, dia 27 de janeiro