Dia 4 de Maio assinala-se o Dia Internacional da Baga, a casta rainha dos vinhos da Região da Bairrada. Vai haver adegas abertas a mostrarem a tradição e a qualidade de um néctar único no mundo. A iniciativa é promovida pelos “Baga Friends”, um grupo de sete produtores apostado em elevar a Baga ao olimpo dos óscares vínicos.

Constituem os Baga Friends: Luís Pato, Filipa Pato, Quinta das Bágeiras, Quinta da Vacariça, Quinta de Baixo – Niepoort, Sidónio de Sousa e Vadio. São sete “magníficos” que todos os anos, no primeiro fim de semana de maio, acolhem quem quiser conhecer os segredos por detrás daquele vinho cada vez mais icónico, abrindo as suas adegas com programas diversificados.

Este grupo foi pensado em 2009 pela necessidade de divulgação da casta, antes sempre conotada com um granel de baixa qualidade e difícil de beber.  O caminho que entretanto se iniciou de desenvolvimento vitivinícola, de investimento enológico, de aposta na qualidade e no prestígio, teria de chegar ao conhecimento dos consumidores, em Portugal e no mundo. Em 2012 foi criada a associação, sem fins lucrativos, e a partir daí a Baga ganhou o trono que faltava ao seu estatuto nobiliárquico.

O grupo tem despesas inerentes ao trabalho de divulgação. As receitas são obtidas com a comercialização de vinhos produzidos a partir do contributo de cada um dos sete. Conforme nos foi explicado, começam por escolher uma adega e depois cada um leva o vinho que considera adequado para um blend a sete. Em seguida estudam a mistura até entenderem que se “tocou a perfeição”.  “Somos todos Baga, mas cada um tem o seu perfil”, observou um dos sete magníficos, a que acrescentou: “É um grupo heterogéneo que se complementa, e onde cada um dos produtores cria vinhos diversificados, seguindo diferentes caminhos enológicos, procurando novas versões, mais clássicos ou modernos, mas mantendo, sempre a ligação à autenticidade da região, à casta e à expressão da qualidade e seu potencial”. O resultado da comercialização da marca Baga-Friends é investido apenas em atividades de divulgação da casta.

Esta explicação foi comunicada aos jornalistas no restaurante Pigmeu, em Campo de Ourique, Lisboa, o local escolhido pelos Baga Friends para apresentarem o Dia Internacional da Baga. Cada um dos produtores levou uma vinho de safra própria, os melhores, ou dos melhores, para partilhar naquele ambiente de confraternização. Vinhos diferentes, mas, conforme referiu Luís Pato, o mais “icónico” dos produtores daquela região, “vinhos que preservam a tradição da região”, sublinhando: “A Bairrada é a Bairrada”.

Cada um dos vinhos foi sendo harmonizado com pratos que revelam a identidade do restaurante, que celebra agora 10 anos, e em registo de petisco de “porcaria”, foi sendo apreciado a chanfana da cabeça (de porco), o arroz de leves, a batata com remoalho, o torresmo de rissol, o bolo da anadia e papada, a entrar a banha com especiarias (um especialidade) e para acompanhar um Baga fortificado (com aguardente de Baga) foi permitida a mousse de chocolate e a barriga de freira. Tudo muito identitário e muito bem harmonizado.

A comida do Pigmeu “casou” bem com a típica acidez natural daqueles vinhos e com a frescura que lhe granjeia o atlântico. Abundante em solos argilosos e com uma excelente exposição solar, o terroir permite produzir vinhos ricos em taninos, de elevada acidez, intensos na cor e com uma concentração elevada de aromas e que suportam bem o envelhecimento. É uma casta que dá destaque à região, com a produção de uma diversidade de vinhos de base espumante, vinhos rosé e vinhos tintos. A casta representa 4% da área plantada em Portugal, sendo a sétima casta tinta mais utilizada na produção de vinho a nível nacional. Dos mais de oito mil hectares plantados em todo o país, a Bairrada é a região com maior peso, na ordem dos três mil e quinhentos hectares. A Baga tem atraído novos produtores, tanto na região como fora dela, mostrando ao mundo o seu enorme potencial.

 

O Dia 4 de maio

Tudo isto e muito mais poderá ser vivenciado e confraternizado no dia 4 de maio – o Dia Internacional da Baga.

Este ano, serão apresentados vinhos novos e colheitas novas das marcas mais conhecidas, mas também vinhos mais antigos, alguns esgotados ou já sem distribuição. Segundo Filipa Pato, a edição de 2024 será a oportunidade para abrir aos visitantes as portas da sua recém-inaugurada adega. A Quinta das Bágeiras está a celebrar 35 anos e aproveita para assinalar a data com pompa e circunstância. E Luís Pato terá uma organização de festas local para vender bifanas.

Neste mesmo dia à noite, o grupo de produtores amigos da Baga estarão presentes num jantar de harmonização da Baga com um menu do Rei dos Leitões, parceiro do evento que pensou os pratos a combinar com cada vinho. Será um momento de convívio e partilha em torno da Baga e das tradições culinárias da região.

A casta Baga, que em tempos era exemplo de vinhos mais difíceis e pouco apelativos de beber enquanto jovens, tornou-se uma casta procurada e valorizada. Isto é fruto de um trabalho conjunto dos produtores da região, e dos Baga Friends, que conseguiram criar interesse internacional e nacional à volta desta casta, demonstrando que dela podiam resultar alguns dos melhores vinhos de Portugal. Juntos, os Baga Friends têm mais de 70ha de Baga plantados, o que representa quase metade das suas áreas totais de vinha – uma aposta forte e vencedora. A região inclui os concelhos de Águeda, Anadia, Cantanhede, Mealhada e Oliveira do Bairro.

“Este grupo já fez imenso pela Baga. A casta está definitivamente na moda e aqueles que há anos criticavam a Baga, hoje acham que ela é o máximo. Isso traduz o trabalho dos Baga Friends”, observa Luís Pato.

De facto, hoje, a Baga é uma casta cada vez mais reconhecida internacionalmente com o potencial de produzir grandes vinhos de Portugal, vinhos de guarda, mas também vinhos de consumo mais imediato, o que não acontecia há alguns anos. A versatilidade da Baga tornou-se possível também graças ao trabalho afincado e sério que muitos produtores da região, e nomeadamente os Baga Friends, souberam levar a cabo, estudando os seus solos, parcela a parcela, vinificando cada uma de melhor forma para obter os melhores vinhos possíveis.

“Aqui cada um trabalha a Baga à sua maneira, com a sua identidade e com a sua abordagem própria. O segredo do nosso sucesso é esse mesmo: revelar que é através da soma do todo que conseguimos revelar a excelência desta casta a nível mundial”, frisa Paulo Sousa (adega Sidónio de Sousa).

Quem adquirir bilhete terá a oportunidade de circular livremente pelas adegas, entre as 10h00 e as 18h00, sem necessidade de marcação, e assim desfrutar de degustações de vinhos, harmonizações com petiscos tradicionais da região e de falar com os produtores. A atmosfera única do evento também se deve à heterogeneidade dos produtores, cada um tendo propostas diferenciadas e à medida das suas adegas e projetos.