O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, garantiu, na noite desta segunda-feira, que não vai apresentar ou viabilizar qualquer moção de rejeição apresentada a um eventual governo AD, mas não quis abrir o jogo sobre a sua oposição face ao orçamento, revelação que Luís Montenegro também evitou fazer.

O tema da governabilidade foi logo o primeiro a ser posto em cima da mesa com o líder da AD a dizer que sabe ser “difícil” obter uma maioria absoluta, mas disse não ser “impossível”. E caso não consiga uma maioria absoluta, após as eleições através de um acordo com a Iniciativa Liberal (IL), Luís Montenegro garantiu que governará em maioria relativa e “reforçará” a capacidade negociação com todos os partidos do arco parlamentar, “em particular junto do PS”. O líder da AD garantiu que se ganhar as eleições vai iniciar contactos e negociações com todos os partidos, mas Pedro Nuno Santos não deixou qualquer garantia sobre a possibilidade de votar a favor de um orçamento da AD.

“O PS está a trabalhar para ganhar as eleições. O pior serviço que faria era estar aqui a fazer um negócio sobre um documento que não conhece”, disse o secretário-geral do PS. Garantindo apenas que não viabilizará uma moção de rejeição ao programa.

Se ganhar as eleições, revelou ainda Luís Montenegro, além do habitual Conselho de Ministros semanal, vai criar três conselhos de ministros temáticos: um para assuntos económicos, outro para transição climática e um terceiro para transição digital.

Choque fiscal e crescimento

O líder da AD acusou Pedro Nuno Santos de ter “baixado os braços” no que respeita ao crescimento económico, prevendo apenas um aumento de 2%, enquanto o secretário-geral socialista acusou Luís Montenegro de querer um choque fiscal para o país quando o que Portugal precisa é de “um choque de produtividade”.

O líder do PS acusou ainda o programa da AD de representar um rombo nas contas públicas com uma perda de mais de 16 mil milhões de euros em quatro anos, afirmação que Montenegro rebateu.

Luís Montenegro disse estar convencido que vai conseguir colocar a economia a crescer em quatro anos nos 3% apostando na reforma fiscal, na produtividade, na captação de investimento e nas exportações. E disse que o PS “baixou os braços” no que toca ao crescimento, afirmação rebatida pelo líder do PS, que explicou que a aposta num choque na produtividade é a resposta para resolver os problemas estruturais do país, que disse ser a grande prioridade do PS. E explicou que vai ser a sociedade empresarial, e não o primeiro-ministro ou o ministro da pasta, a escolherem os sectores estratégicos que devem ser incentivados.

Sobre a TAP, Luís Montenegro não disse o que faria, optando por lembrar o episódio em que Pedro Nuno Santos escolheu a localização do novo aeroporto sem consultar o primeiro-ministro, enquanto o líder socialista garantiu que não quer “esperar mais” tempo para decidir e que, se ganhar as eleições, vai avançar e tentar negociar com todos os partidos, mas que avançará sozinho se não tiver apoio do PSD.

Habitação é “um dos maiores exemplos do fracasso” de Pedro Nuno Santos

No debate que durou mais de uma hora com inúmeras interrupções, Luís Montenegro acusou Pedro Nuno Santos de não ter cumprido as promessas que fez na área da habitação quando era ministro. “É um dos maiores exemplos do insucesso e do fracasso daquilo que é não fazer no exercício de funções públicas do Pedro Nuno Santos”, disse o líder da AD, acusando o adversário de ter prometido, em 2018, que, nos 50 anos do 25 de Abril, “não iria haver nenhum português que não tivesse acesso a uma casa digna”.

“Falhou. Diz que faz, mas não faz”, acrescentou Luís Montenegro, acusando o líder do PS de querer “iludir” os eleitores. Montenegro prometeu “promover a habitação pública”, mas considerou que a solução passa por “uma fiscalidade mais amiga dos investidores” e aumentar a oferta.

Pedro Nuno Santos acusou o líder da AD de ter feito “zero casas” durante o governo liderado por Passos Coelho e garantiu que, neste momento “temos um país todo em obra” e há medidas no terreno para aumentar a oferta privada. E acusou Montenegro de não conhecer as dificuldades da governação. “Nunca governou. Nem esteve em nenhum gabinete”, disse o líder do PS, garantindo que “há medidas que demoram a funcionar”.

Pedro Nuno Santos atacou ainda a ministra da AD para reduzir os impostos. “O PSD propõe uma aventura fiscal”, disse o candidato socialista. Luís Montenegro acusou os socialistas de “voracidade fiscal”.

Pedro Nuno acusa AD de querer “desnatar” o SNS

O secretário-geral do PS acusou o líder da AD de querer “desnatar” o Serviço Nacional de Saúde (SNS) ao chamar para a solução da crise o sector privado, e Luís Montenegro reagiu de imediato acusando Pedro Nuno Santos de “hipocrisia brutal” ao fazer uma diabolização do privado quando o PS é o “maior amigo” dele.

No último frente-a-frente televisivo da campanha pré-eleitoral, em que até Passos Coelho e José Sócrates foram chamados ao debate, a área da saúde foi uma das mais quentes do duelo. Cada um acusou o ser adversário com os respetivos anteriores  governos, com Pedro Nuno Santos a criticar a gestão da saúde feita no tempo de Passos Coelho e Luís Montenegro a dizer que Pedro Nuno Santos não usou a sua “influência” quando fez parte dos governos de António Costa para melhorar o SNS, acusando o candidato socialista de usar apenas da retórica.

Pedro Nuno Santos, por sua vez, acusou a AD de querer “desnatar” o SNS e de causar o seu “definhamento” ao dizer que vai recorrer ao serviço privado e social e que trará de novos as parcerias público-privadas. “Quando colocamos os recursos nas mãos de terceiros temos mais dificuldades em gerir”, atirou o secretário-geral do PS, acusando Luís Montenegro de estar a degradar a “imagem do SNS”. Sempre a interromperem-se um ao outro, num duelo vivo, o líder da AD acusou Pedro Nuno Santos de “hipocrisia brutal” ao fazer “uma diabolização do privado quando são os melhores amigos dele”. Pedro Nuno Santos não gostou da acusação, disse não ter dogmas, mas garantiu que, se ganhar as eleições, preferirá “dar mais autonomia às administrações hospitalares públicas” e usar os recursos do Estado no SNS. “Porque é que não o fizeram em oito anos?”, confrontou Luís Montenegro, que esteve todo o debate a colar Pedro Nuno Santos à governação de António Costa, lembrando que “o fazedor” teve a oportunidade de ter usado a sua “influência” nos conselhos de ministros e não o fez.

Nesta troca de acusações, os nomes de Pedro Passos Coelho de de José Sócrates acabaram por ser chamados ao duelo. Pedro Nuno Santos disparou: “Não é por acaso que Pedro Passos Coelho não aparece na campanha da AD”. Luís Montenegro respondeu ao mesmo nível: “José Sócrates também estará ao seu lado”.  O secretário-geral do PS acusou Luís Montenegro de não ter convidado Passos Coelho para a Convenção da AD e o líder da coligação perguntou a Pedro Nuno Santos se tinha convidado Sócrates para o seu congresso.

“Não se negoceia sob coação”, diz Pedro Nuno

O debate começou com os candidatos a reagirem aos protestos dos polícias. Pedro Nuno Santos disse que “é muito importante chegar a um acordo”, mas lamentou o protesto junto ao Capitólio. “Não se negoceia sob coação”, disse o candidato do PS.

Luís Montenegro atribuiu a responsabilidade do descontentamento ao governo socialista e garantiu que será uma prioridade abrir um processo negocial com as forças de segurança.

Muitos dos polícias que participavam na concentração desta segunda-feira na Praça do Comércio, em Lisboa, ocuparam o acesso ao teatro Capitólio.

Pedro Nuno “mostrou tudo menos preparação”

Luís Montenegro terminou o debate com duras críticas a Pedro Nuno Santos e uma mensagem para os jovens.

“Pedro Nuno Santos mostrou tudo menos preparação. Não estava preparado par resolver o problema do aeroporto. Não estava preparado para lidar com a questão da TAP”, disse o presidente do PSD, prometendo aos jovens “melhores salários” se vencer as eleições. “É possível ter mais crescimento e é possível ficarmos junto das nossas famílias”.

Pedro Nuno Santos garantiu que os governos socialistas têm “resultados para apresentar”. Mas “não estamos satisfeitos e queremos desenvolver a nossa economia, fazer hoje, avançar e trabalhar em conjunto”, disse, na intervenção final