O ex-secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales reuniu-se com Nuno Rebelo de Sousa, filho do Presidente da República, quando decorria o processo relacionado com as gémeas luso-brasileiras que foram tratadas no Hospital de Santa Maria com um tratamento para a atrofia medular espinhal e que totalizou os quatro milhões de euros, noticiou esta quinta-feira a TVI.

Confrontado com essa informação no Parlamento, o deputado socialista não quis fazer qualquer comentário nem fazer um desmentido. “Nem desmentir, nem confirmar, porque são situações que só em sede própria devem ser tratadas. Não devem ser tratadas na praça pública”, disse.

Lacerda Sales, que assumiu agora não se lembrar do caso e se esteve envolvido na marcação da primeira consulta das crianças (depois de no dia anterior ter afirmado que nenhum secretário de Estado tem o poder de marcar consultas e que, aliás, “seria muito mau até que qualquer médico, no seu compromisso ético, se deixasse influenciar por alguém exterior à instituição ou por qualquer entidade exterior à instituição”) só responderá  a questões sobre o caso “em sede própria”.

“Corre um inquérito em sede própria. Eu conheço os tempos da justiça, conheço os tempos do Ministério Público, os poderes da IGAS. Só responderei aos detalhes do processo em sede própria. Em sede própria é o IGAS e é o DIAP, respeitando aquilo que são os poderes e os tempos da Justiça”, limitou-se a dizer. Antes, em declarações aos jornalistas, disse ter pedido documentação à IGAS para tentar “relembrar” caso das gémeas. “Quando digo que não me lembro, é porque genuinamente não me lembro mesmo, preciso de factos e preciso de documentos para poder ter acesso e para me poder tentar relembrar”, afirmou o antigo governante, salientando que passaram quatro anos, com “uma pandemia pelo meio”.

Em reação à notícia avançada pela TVI, de que o antigo secretário de Estado da Saúde e o filho se tinham reunido naquela altura, o chefe de Estado emitiu uma nota na Presidência a reafirmar o que já tinha dito no esclarecimento de segunda-feira. “Na sequência das notícias hoje surgidas, o Presidente da República reafirma que não teve conhecimento de quaisquer diligências junto do Ministério da Saúde no caso das gémeas luso-brasileiras, após o envio do dossier para o Gabinete do Primeiro-Ministro a 31 de outubro de 2019”, reforçou Marcelo.

No esclarecimento que prestou na segunda-feira, numa sala descaracterizada no Palácio de Belém, Marcelo admitiu ter recebido um e-mail do filho a dar conta do caso das gémeas, comunicação que encaminhou para o chefe da Casa Civil e que, por sua vez, foi remetida ao chefe do gabinete do primeiro-ministro a 31 de outubro de 2019, dez dias depois do contacto de Nuno Rebelo de Sousa. Marcelo rejeitou, contudo, qualquer favorecimento, garantindo ter tratado o assunto de forma “neutral”.

Do gabinete do primeiro-ministro, a informação foi reencaminhada para o ministério competente, no caso o Ministério da Saúde.