Iniciativa Liberal: disputa no núcleo de Lisboa replica luta interna

Rodrigo Mello Gonçalves e Rui Nascimento disputam a liderança do maior núcleo da Iniciativa Liberal no país. Os dois candidatos rejeitam que em causa esteja uma luta entre facções mas, em Janeiro, um esteve com Rui Rocha, o outro com Carla Castro. Disputa servirá para reorganizar tropas e preparar o terreno para as autárquicas de 2025, prioridade para ambos.

Os liberais vão escolher, no próximo dia 1 de Julho, a nova equipa do núcleo de Lisboa, numas eleições que replicam, em parte, a divisão interna que marcou a corrida à liderança da Iniciativa Liberal (IL) de Janeiro e que servem para reorganizar as tropas, com as autárquicas de 2025 no horizonte. De um lado está a lista C, cujo coordenador é Rodrigo Mello Gonçalves, deputado municipal da IL em Lisboa que, há cinco meses, integrou a lista de Rui Rocha ao Conselho Nacional no embate com Carla Castro. Do outro lado está a lista L, encabeçada por Rui Nascimento, um dos nomes escolhidos pela deputada para a sua direcção em caso de vitória.

As candidaturas esforçam-se, no entanto, por afastar a ideia de que em causa esteja um confronto entre a linha seguida pela direcção liderada por Rui Rocha e a ala dos que se posicionaram ao lado de Carla Castro na disputa pela sucessão de João Cotrim Figueiredo.

“Não temos aqui uma lógica de facção. Para mim, as eleições internas estão ultrapassadas, a convenção já foi. O que temos de fazer, todos os liberais, é concentrar-nos no crescimento do partido e na preparação do projecto autárquico”, assegura ao NOVO o candidato que encabeça a lista C, Rodrigo Mello Gonçalves.

O deputado municipal sustenta que o facto de ter na sua lista pessoas que apoiaram as três candidaturas nas eleições do partido é um “sinal claro” de que a a sua equipa não se revê na “dicotomia” Rui Rocha-Carla Castro. “Acho que os membros estão fartos dessas narrativas. Estamos focados é em trabalhar para fazer crescer a IL em Lisboa, independentemente de quem esteve com quem no passado”, reforça, garantindo que “todos os apoios que se revirem nesta linha de actuação serão bem-vindos”.

As eleições no maior núcleo dos liberais acontecem um mês e meio depois de a equipa, já reduzida a seis elementos devido às saídas de vários elementos, motivada pela disputa interna de Janeiro, ter apresentado a demissão e, com isso, antecipado o acto eleitoral. Os demissionários, em que se incluía a vice-presidente de Rui Rocha, Angélique Da Teresa, justificaram a decisão com a necessidade de “devolver o poder aos membros de Lisboa” depois de meses a trabalhar com uma equipa curta e num ambiente de “ruído e crítica constantes”.

Um dos elementos do grupo de coordenação local de Lisboa que deixou a estrutura, ainda em Janeiro, foi precisamente Rui Nascimento. O principal rosto da lista que se afirma como alternativa (e não de oposição, tendo em conta que em jogo estão duas listas novas, justifica) foi responsável pela coordenação do programa autárquico da IL para as eleições de Lisboa em 2021.

Rui Nascimento saiu do núcleo depois de ter sido convidado para integrar a equipa de Carla Castro e regressa agora com uma candidatura para liderar a estrutura. Em declarações ao NOVO, o candidato também afasta comparações com a disputa à liderança do partido. “As discussões nacionais são muito diferentes das discussões locais”, defende, garantindo que quem apoiou quem na convenção não é sequer um tema. “É muito mais interessante o facto de ter na minha lista duas ou três pessoas que concorreram contra mim há um ano e meio”, frisa, realçando a importância de fazer pontes.

Já sobre a escolha da letra L, a mesma que Rui Rocha usou na campanha interna, Rui Nascimento garante não ter segundas, nem terceiras intenções. “Apresentámos a candidatura mais cedo e tivemos essa vantagem. Não tivemos qualquer complexo em usar a letra que achávamos que fazia mais sentido. ‘Lisboa é liberal’”, justifica.

Embora as duas listas tenham projectos diferentes, preparar a IL Lisboa para dar o salto nas autárquicas de 2025 é uma missão comum. Eleger pelo menos um vereador, reforçar a presença na Assembleia Municipal e chegar à maioria das freguesias da capital são as metas traçadas pelas duas candidaturas. Abrir a discussão à sociedade civil é um dos caminhos propostos. A lista L começa desde já a fazê-lo com um debate, marcado para a próxima segunda-feira, no auditório da Junta de Freguesia do Areeiro, para discutir o futuro da cidade.

Miguel Ferreira da Silva, primeiro presidente da IL e deputado municipal, Carmona Rodrigues e João Soares, antigos presidentes da Câmara de Lisboa, do PSD e do PS, respectivamente, são os convidados.

Artigo originalmente publicado na edição do NOVO de 24 de Junho