O FC Porto vai a votos este sábado e, pela primeira vez desde 1982, não é apenas um ato burocrático para consagrar Pinto da Costa. Aos 86 anos, o dirigente desportivo mais titulado do mundo tem pela frente o jovem André Villas-Boas, 46 anos, menos 40 do que mostra o Cartão do Cidadão do atual presidente, que foi reeleito 14 vezes.

Pinto da Costa teve de se dedicar e desdobrar-se em entrevistas e ações de campanha como nunca o fez no sentido de capitalizar os êxitos desportivos conquistados (2566 títulos) nestas quatro décadas, tendo, nos últimos dias, apresentado como trunfo a renovação de Sérgio Conceição, um acordo com Pepe por mais um ano, para além da efetivação da contratação de Francisco Conceição, prevista aquando da cedência feita pelo Ajax no início da temporada.

O NOVO vai tentar demonstrar o que pensam os dois candidatos nos mais variados temas e as principais ideias que podem ajudar os sócios do FC Porto a decidir-se, sendo bom recordar que, ao contrário de Benfica e Sporting, a cada associado azul-e-branco corresponde um voto, independentemente da antiguidade.

FUTEBOL
Pinto da Costa anunciou a renovação, por mais quatro anos, de Sérgio Conceição, ficando por saber se esse vínculo pode ficar sem efeito se for Villas-Boas o eleito pelo sócios. O presidente do FC Porto desde 1982 juntou ainda à renovação do técnico azul-e-branco a renovação de Pepe por mais um ano e a contratação de Francisco Conceição, com um contrato válido até 2029. O atual presidente disse ainda que Luís Gonçalves vai manter-se como administrador para o futebol e lembrou que Vítor Baía e António Oliveira, candidatos a vice-presidentes, são pessoas ligadas à modalidade.

André Villas-Boas apresentou uma estrutura com uma novidade: o cargo de diretor-desportivo que vai ser ocupado pelo espanhol Andoni Zubizarreta, que já desempenhou as mesmas funções no Barcelona e no Marselha onde se cruzou com o agora candidato a presidente. O antigo capitão Jorge Costa, caso Villas-Boas vença, deixa a carreira de treinador e será o diretor de futebol das equipa profissionais fazendo a ligação entre a equipa principal e as equipas B e sub-19. No que diz respeito a Sérgio Conceição quer ter uma conversa, mas deu sempre a entender que o treinador tinha que se integrar na estrutura e identificar-se com a filosofia que deseja ver implementada no FC Porto. Por outras palavras, parece longe a possibilidade de coabitação entre Villas-Boas e Conceição.

 

ACADEMIA/CENTRO ALTO RENDIMENTO
Talvez seja uma divergência semântica, mas o que Pinto da Costa chama de Academia Villas-Boas denomina de Centro de Alto Rendimento. Esta tem sido uma das grandes divergências entre as duas listas.

Pinto da Costa quer construir uma infraestrutura na Maia com 20 hectares, um estádio para 2.500 pessoas, oito relvados, 70 quartos duplos, parque de estacionamento e estruturas de apoio. Não tem como objetivo, pelo menos que se saiba, receber as restantes modalidades do clube.

André Villas-Boas deseja edificar um Centro de Alto Rendimento para todas as modalidades. Serão 30 hectares no Olival, onde as equipas de futebol já treinam, com cinco campos de futebol, um pavilhão para as modalidades profissionais, um hotel e estruturas de apoio.

 

FINANÇAS
Pinto da Costa assegurou aos sócios, nesta campanha eleitoral, que vai executar três objetivos a que se propõe: duplicar a receita do clube em três anos, com um aumento anual de 25% dos proveitos através da aposta na internacionalização da marca FCP; redução de 20% de custos totais desde o primeiro ano, através da reestruturação das empresas do grupo, não havendo lugar ao pagamento de prémios de gestão e será criada uma política de custos de representação e de funcionamento que garanta eficácia, sustentabilidade, rigor e transparência absolutos; refinanciamento do passivo, através de um instrumento financeiro de dívida de 250 milhões de euros que permitirá, simultaneamente, reduzir o serviço de dívida e reforçar a competitividade da equipa de futebol.

José Fernando Figueiredo será o administrador financeiro da FC Porto SAD, em substituição de Fernando Gomes, economista e consultor sénior do Banco Mundial, que já liderou o Banco de Fomento. João Rafael Koehler vai ser o vice-presidente da área financeira. Entretanto, o FC Porto celebrou um acordo com a empresa Ithaka, que vai injetar 65 milhões de euros a troco de 30% dos direitos nos próximos 25 anos de uma nova sociedade que se dedicará a incrementar o potencial comercial do Estádio do Dragão.

André Villas-Boas garante que tem três bancos “de renome mundial” interessados em renegociar a dívida do FC Porto e diz que o FC Porto está perante um “cenário financeiro triste” fruto dos 512 milhões de euros de passivo e 223 milhões de euros de dívida.

Villas-Boas diz ser urgente uma “reestruturação financeira profunda” e garante haver “desafios enormes na tesouraria imediata”. Mostra-se ainda preocupado com a antecipação de receitas feita por Pinto da Costa e a relação com o fundo Quadrantis da qual faz parte João Rafael Koehler, candidato a vice-presidente na lista de Pinto da Costa. Por isso, talvez, refere que o atual líder “está refém” do empresário. O CFO de Villas-Boas é José Pedro Pereira da Costa, ex-administrador executivo da NOS.

 

MODALIDADES
Pinto da Costa quer reforçar a aposta as modalidades já existentes –  Andebol, Basquetebol, Hóquei em Patins, Voleibol, Bilhar, Boxe, Natação e Desporto Adaptado – e deseja concluir o estudo da viabilidade para definir a implementação do Futsal. Projeta também a entrada no Surf através de parcerias.

André Villas-Boas deseja também lançar o Futsal a médio prazo e recuperar o Voleibol masculino, para além de manter a aposta nas restantes modalidades já existentes.

FUTEBOL FEMININO
Pinto da Costa
tenciona durante o próximo mandato ter uma equipa sénior que lutará pela conquista de títulos.

André Villas-Boas vai mais longe. Quer criar o departamento de futebol feminino, designar a função de diretor do respetivo departamento e diz ser fundamental para o FC Porto afirmar-se ao nível do palmarés nos campeonatos nacionais e internacionais de futebol feminino.

 

LIMITAÇÃO DE MANDATOS E REMUNERAÇÃO
Não se conhece qualquer ideia de Pinto da Costa sobre o a limitação de mandatos, mas André Villas-Boas já deu a conhecer que quer passar à prática essa ideia através da revisão dos estatutos.

O próprio André Villas-Boas tem feito alusão a Rui Costa, presidente do Benfica, para explicar porque não pretende ser remunerado como presidente do Conselho de Administração da SAD. E ainda garante baixar os vencimentos do Conselho de Administração. Como é conhecido, desde que foi criada a SAD, Pinto da Costa tem sido sempre remunerado, ainda que agora tenha como uma das propostas a redução dos salários da administração.