José Pedro Aguiar-Branco, no discurso comemorativo dos 50 anos do 25 de Abri, começou por dirigir uma palavra aos capitães de Abril, assim como todos os portugueses que saíram à rua há 50 anos. “Se o 25 de Abril tivesse falhado, o regime teria sobrevivido. Pior, mas teria sobrevivido. Os portugueses teriam pior, mas sobrevivido. Os únicos que não teriam um amanhã seriam estes homens. E mesmo assim fizeram-no. E a maior parte voltou a fazê-lo no dia 25 de Novembro”, declarou.

“A história faz-se de coragem e ações”, reforçou, pretendendo acabar com o “mito de um dia sem sangue”, recordando os mortos do 25 de Abril.  “Há pelo menos quatro famílias que discordam”, disse, recordando as as últimas vítimas da PIDE: Fernando Giesteira, João Arruda, José Barreto e Fernando Barreiros dos Reis”, cuja família acedeu ao convite de estar na AR e foi aplaudida de pé.

Aguiar-Branco referiu-se também ao papel da Assembleia da República. “A casa da democracia não é um castelo, fechado em si mesmo, protegido atrás de grades que por conforto ou segurança simbolicamente fomos deixando ficar”, disse. Para o presidente da AR, o Parlamento não serve para “defender o regime” nem para “defender a democracia”, mas sim para a “construir”. “A diferença entre defender e construir é a diferença entre 24 e 25 de abril”.

Disse ainda o presidente da Assembleia da República: “A desilusão de uns resolve-se com boa governação! A polarização de
outros resolve-se com soluções! Com ações concretas e não com palavras e discursos mais ou menos inflamados. E notem a expressão que propositadamente utilizei. Resolver. Não combater.  A casa da democracia não é um castelo, fechado em si mesmo,protegido atrás de grades que por conforto ou segurança simbolicamente fomos deixando ficar”.

E Sublinhou: “A casa da democracia não pode servir para defender o regime. Isso era a outra. A dita Assembleia Nacional. E muito menos a casa da democracia serve para defender a democracia. Serve sim para construir a democracia. Todos os dias.”

Depois, Aguiar-Branco evocou Mário Soares como a primeira pessoa a perceber esse papel da AR. “Foi a personificação maior de um espírito de bom senso e sabedoria que hoje, em política, chamamos moderação”. A menção levou a bancada do PS a aplaudir.

“O homem que combateu o PCP nas ruas foi o mesmo que não permitiu a sua ilegalização. Que amnistiou Otelo e trouxe Spínola para junto de si”, acrescentou. Para Aguiar-Branco, esta decisão surge da noção que “só se cresce e se desenvolve com a diferença e pela diferença”.

Para finalizar, Aguiar-Branco lembra os tempos onde os parlamentares eram “muito educados”, “pensavam todos da mesma forma” e “diziam as mesmas coisas”. “Essa assembleia já teve isso mesmo, e depois fez-se o 25 de abril”.