O Sónar Lisboa regressou ao Parque Eduardo VII para mais três dias de muita música eletrónica, que atraíram perto de 19.500 pessoas. Com um cartaz mais equilibrado do que a edição de 2023, a nível de estilo musicais, com muitos nomes novos para ver e conhecer, confirmou a premissa de que este tipo de festival não se quer cheio de headliners – o que acabou por penalizar no ano passado.

O equilíbrio notou-se também a nível das vertentes da música eletrónica que encheram os três palcos em torno do Pavilhão Carlos Lopes, mantendo-se fiel à ideia de transversalidade que tão bem caracteriza o Sónar. Se no ano passado o cartaz apostou muito no techno e no house, este ano ouviu-se uma panóplia de géneros que fazem parte da história da eletrónica: desde disco, break beat, garage, two step garage, UK bass, dub techno e electro.

A nível musical, de salientar o concerto de Sevdaliza, talvez o nome que mais destoaria no cartaz do Sónar Lisboa. Com Björk no público a assistir, a cantora iraniana de ascendência holandesa apresentou em concerto a sua pop futurista e com laivos de R&B, corporizada em temas como Oh My God e Ride Or Die, com alguns temas ainda a ser trabalhados, com colaborações com Pablo Vittar ou Grimes.

No mesmo dia, Helena Hauff e Imogen brilharam em formato b2b, naquela que foi a primeira vez que tocaram juntas, num set todo feito em vinil. Tiga e Hudson Mohawke, no mesmo formato, inovaram com um set entre o tech house e o break beat bastante sólido.

No sábado, Paul Kalkbrenner apresentou, a terminar a sessão By Day, um live set bastante poderoso, com toques de house, em que aproveitou para passar alguns dos seus temas mais clássicos. O veterano do techno alemão “prendeu” o público durante as duas horas de atuação, que, apesar do calor, não parou nunca de dançar, num Pavilhão Carlos Lopes a rebentar pelas costuras.

À noite, com a programação a acontecer apenas no SónarClub, 2manydjs eram a grande atração, acompanhados de Erol Alkan, nome conhecido nos meios que vão do rock à música eletrónica, e Éclair Fifi, que apresentou um espetáculo visual por vezes pouco recomendável a pessoas fotossensíveis.

Iolanda mostrou, ao início da tarde de domingo, a sua Cura num formato ainda mais eletrónico. Apresentando-se em palco com uma peça da designer portuguesa Constança Entrudo, a cantora portuguesa – que venceu recentemente o Festival da Canção – conduziu com a sua boa disposição o público por uma viagem pela sua música, muitas vezes a dançar, outras bastante intimista.

Logo a seguir, Branko encheu o SónarClub, para apresentar os seus ritmos quentes do seu mais recente trabalho SOMA, num espetáculo musical que não descurou a componente audiovisual e que pôs toda a gente a dançar e, no final da hora de atuação, a querer mais.

A nível de logística, as alterações realizadas no recinto surtiram efeito, em que não se sentiram filas para nada: nomeadamente bares, zona de restauração e casas-de-banho. A zona de alimentação alterou-se para um degrau abaixo do local onde esteve nas duas últimas edições, o que permitiu criar um espaço onde os festivaleiros podiam relaxar e recarregar energias.

Sentiu-se apenas a falta de um segundo palco durante a sessão by Night de sábado, quando muita gente abandonou o SónarClub, por não apreciar sobremaneira a programação, nomeadamente Nia Archives e Marie Davidson. Nem que fosse alguma música ambiente, a experiência teria sido diferente.

Organização satisfeita e já a pensar em 2025

No final do festival, Gustavo, fundador do Neopop e um dos fundadores do Sónar Lisboa, estava bastante satisfeito com a terceira edição do festival na capital, depois de algumas coisas que correram menos bem em 2023.

“Estou bastante satisfeito, confesso. Cansado, mas mais satisfeito. Acho que conseguimos afinar a coisa e chegar aqui a um resultado mais autêntico, com mais identidade do Sónar Barcelona, claro, adaptada à realidade portuguesa e à realidade de Lisboa”, confessou ao NOVO. “É normal, é um processo de adaptação. Apesar de a marcar ter já 30 anos em Barcelona, é o terceiro ano que estamos em Lisboa e acho que também leva o seu tempo a perceber e a adaptar a própria marca e o conceito à nossa realidade. Estamos a conseguir e a trabalhar para isso”.

Pelo Pavilhão Carlos Lopes passaram cerca de 19.500 pessoas, na grande maioria estrangeiros, muitos deles espanhóis – mas todo ele bastante ecléctico, algo que não passou despercebido a Gustavo.

“Gostei bastante do público. Nota-se pessoal mais velho, outra faixa etária, mais conhecedor de música, que está aqui mais predisposto a ouvir e a conhecer coisas novas também”, descreveu. “À primeira vista, mantivemos mais ou menos os mesmos números do ano passado. Uma organização mais afinada, mais apurada e também a programação, isso também se reflete no público”.

Terminada a terceira edição do Sónar Lisboa, a organização está já a pensar em 2025: “Estamos já a trabalhar e queremos manter um bocadinho a mesma toda, a mesma diversidade e apostas em coisas arriscadas e, por vezes, inusitadas para um festival de música eletrónica”.

“Já temos algumas colaborações e alguns desafios lançados a malta de cá, artistas portugueses que nos visitam e têm sido clientes assíduos do Sónar”, revelou Gustavo. “Alguns deles acabam por vir ter connosco e dizer que gostavam de apresentar qualquer coisa nova. Artistas que normalmente não pisam estes palcos de eletrónica, mas que gostam e consomem este tipo de música e acabam por sentir-se atraídos para criar coisas novas”

com Mariana Taxa