Leo Middea é considerado uma das grandes revelações da Música Popular Brasileira (MPB) e tido por alguns como o “jovem Caetano Veloso”. 

Com apenas 28 anos, o cantor e compositor brasileiro já conta com dez anos de carreira. Começou em 2014, com o lançamento do seu álbum de estreia, Dois. 

Natural do Rio de Janeiro, Leo Middea revela ao NOVO que, no início, tinha a música apenas como um hobby. Entretanto, o apoio que se sucedeu ao lançamento do álbum por parte dos mais próximos fez com que quisesse levar a composição mais a sério. A seguir marcou 30 espetáculos em Buenos Aires, capital da Argentina, logo ele que “não tinha feito nenhum” show a solo ainda. “Eu tinha 18 anos na época”, revela. A partir daí, a carreira disparou, dentro e fora do Brasil.

“A música é uma fotografia de cada detalhe que eu vou vivendo, seja um lugar um pouco mais amoroso ou um lugar mais de contemplação de uma paisagem ou de um bairro, como o bairro da Graça, em Lisboa”, sublinha. 

Em 2017 decidiu residir na capital portuguesa, sozinho e numa tentativa de conquistar o mercado musical europeu, ainda sem ter ideia do tamanho da comunidade brasileira em Portugal. Nesse mesmo ano viu Salvador Sobral ganhar, pela primeira vez, o festival da Eurovisão para Portugal. O músico admite que o feito lhe criou um carinho pelo evento, apesar de nunca ter pensado em participar por lhe parecer uma ideia “distante” na altura. 

Leo Middea foi um dos compositores e intérpretes convidados para esta 58.ª edição do Festival da Canção. “Realmente, não estava nada à espera”, declara. Recebeu o convite da RTP durante uma viagem a Porto Covo, um dia depois de ter terminado de escrever o tema Doce Mistério. A canção tinha demorado a ser finalizada, pelo que o cantor considerou o convite algo “místico”, razão pela qual escolheu a dita melodia para o festival. 

Middea apresentou-se na segunda meia-final do programa, no dia 2 de março, nos estúdios da RTP. Doce Mistério garantiu um lugar na grande final do Festival da Canção 2024, a decorrer já este sábado, 9 de março.

O artista afirma que dificilmente sente ansiedade durante os concertos, visto que é possível criar o ambiente previamente, com cuidado, e ir adaptando conforme a reação do público (que, provavelmente, escolheu vê-lo e já conhece o seu trabalho), para “terminar da melhor forma possível”. 

Para o Festival da Canção procurou “preencher” o palco do estúdio da RTP sozinho, mas admite que foi diferente do habitual: “É muito intenso, porque estamos num lugar totalmente escuro, onde não se consegue entender nada do que está a acontecer, e, de repente, colocam-nos num palco cheio de luz, câmeras, com pessoas totalmente desconhecidas, (…) para tentar dar o melhor em três minutos.”

Realça, portanto, que “o Festival da Canção é algo muito diferente de tudo”. “É difícil introduzir arte num lugar de competição. É um lugar de difícil entendimento”, explica, enquanto também valoriza essa intensidade: “É uma experiência que não temos todos os dias. Esta é a minha estreia e já tenho dez anos de carreira. É algo novo.” 

Quanto aos bastidores do programa e a relação com os demais artistas, o cantor sublinha que existe “um clima leve”, sem sobressair um sentimento de competição.

Explica igualmente que os concorrentes formulam em conjunto com a RTP o conceito das suas respetivas apresentações, mas não visualizam, efetivamente, o produto final, mesmo após os ensaios. Assim, só conseguem assistir às atuações após terem sido emitidas em direto e objeto de votação pelo júri e telespectadores. Além disso, os artistas não podem alterá-las posteriormente para a grande final.

Quando questionado sobre a sua avaliação relativamente à apresentação, o cantor mostra-se satisfeito. “É difícil dizer. Eu sou muito crítico comigo mesmo mas, independentemente do que eu acho, segui para a final; então, algo tinha de bom. Agora é entender o que eu posso fazer para ser ainda melhor. Mas só pelo facto de me ter qualificado para a final, para mim, já valeu”, refere em português tipicamente do Brasil. Não esconde que gostaria de acertar certos detalhes, de maneira a melhorar a performance: “Se eu ganhar, prometo que vou mudar a apresentação no mesmo dia.” 

Contudo, garante que está sereno para a atuação deste sábado, visto que já passou por algumas partes do processo. E acrescenta: “independentemente do resultado, se for bom, se for mau, eu quero é divertir-me”.

Middea é um dos 12 finalistas e pode ser o próximo representante de Portugal na Eurovisão, em maio, na Suécia. Nos últimos dias tem-se gerado uma polémica nas redes sociais relativamente à sua participação no festival, envolvendo comentários xenófobos. Leo Middea declara que a sua felicidade em estar na grande final do programa se sobrepõe às opiniões negativas: “Acho que há esse apoio dos dois lados [portugueses e brasileiros]. Claro que há uma comunidade brasileira que quer muito que eu vença.”

O cantor, considerado uma das grandes revelações da MPB, acredita que há uma forte comunidade do seu país que acompanha de perto o seu trabalho, mas, pelos lugares onde se vai exibindo, sente que “a diversidade cultural ainda é mais presente que qualquer nacionalidade específica”. “É um mix de muitas culturas. Por exemplo, em Madrid, o público que me vai ver é 90% espanhol. Agora, em Londres é brasileiro, português, italiano…”

Este ano começou com uma digressão por Suíça, Países Baixos, Bélgica e Reino Unido, e, para o resto de 2024, o músico tenciona lançar um disco ao vivo, em voz e guitarra, para comemorar a primeira década de carreira. Além disso, já tem diversos concertos marcados: “Talvez este ano de 2024 ainda possa bater o número de espetáculos do ano passado”, pois em 2023 contou com 65 concertos em oito países. “Esses shows foram uma surpresa para mim também, porque não esperava que isso fosse acontecer”, exclama, dando conta de ter tido concertos esgotados em cidades onde atuou pela primeira vez. 

Recentemente, Leo Middea editou o seu quinto disco, Gente, que bateu a marca de um milhão de streams um mês após o seu lançamento. O álbum será apresentado numa tournée em Portugal, a começar pelo B.Leza, em Lisboa, a 8 de junho. Já a 28 de março está agendada uma presença no Porto, nas Quintas de Leitura.

Editado por Bruno Pires

Artigo publicado na edição do NOVO de 9 de março