André Villas-Boas não tem mãos a medir. Ainda não tomou posse – está agendada para a próxima terça-feira, 7 de maio, às 12h00 – mas, por certo, já percebeu que há temas sobre os quais precisa de se debruçar o mais rapidamente possível. A começar pelo sempre delicado tema das contas, que não colhe grande entusiasmo junto dos sócios, sempre mais virados para a bola que entra, ou não, na baliza. O NOVO elenca os pontos mais importantes do caderno de encargos do homem que colocou um ponto final, de forma inapelável, a uma era de 42 anos, 15.348 dias.

 

CONTAS E FAIR PLAY FINANCEIRO
As contas do FC Porto são um tema demasiado sensível, tão delicada é a saúde financeira do clube portista. Estamos a falar de 513 milhões de euros de passivo, 223 milhões de dúvida financeira com muitas receitas antecipadas. Há ainda por esclarecer o acordo assinado por Pinto da Costa, poucos dias antes das eleições, com a Ithaka, e que prevê a exploração comercial do Estádio do Dragão nos próximos 25 anos a troco de 30% dos direitos económicos de uma nova sociedade a ser criada. Entretanto, a Ithaka adiantou 65 milhões de euros. Este compromisso, segundo Pinto da Costa, pode ser revertido desde que o FC Porto devolva os mesmos 65 milhões de euros, não se sabendo se existe alguma penalização adicional pela quebra de compromisso.

Como os prazos da SAD são diferentes dos do clube, os órgãos sociais da sociedade que gere o futebol arriscam-se a entrar em funções apenas em junho; contudo, nesta quinta-feira, 2 de maio, vai haver reuniões no sentido de o CFO de Villas-Boas, Pereira da Costa, render de imediato Fernando Gomes, administrador para a área financeira nos últimos mandatos de Pinto da Costa. Se tal acontecer, é uma boa altura para Villas-Boas ser colocado a par do que se passa, realmente, no que diz respeito ao fair play financeiro. Sabe-se que o FC Porto está a salvo em relação à próxima temporada; contudo, não é certo que evite uma multa que pode ir até aos 2.6 milhões de euros.

TREINADOR

Há uma conversa para agendar entre André Villas-Boas e Sérgio Conceição, mas parece pouco crível que o técnico do FC Porto nos últimos sete anos se mantenha em funções para lá desta época e respeite a renovação oficializada com Pinto da Costa… dois dias antes das eleições. Aliás, este é um fator que pode, precisamente, atrapalhar uma convergência de ideias entre Conceição e Villas-Boas. Depois, fica por saber qual será o eleito do sucessor de Pinto da Costa. Há um nome que tem sido ventilado com maior intensidade, o do italiano Gian Piero Gasperini, atualmente nos italianos da Atalanta. Porém, o facto de o novo diretor desportivo ser o espanhol Andoni Zubizarreta pode levar o FC Porto a olhar para o país vizinho. Ernesto Valverde tem sido outro dos nomes associados ao FC Porto. Venha quem vier, será sempre difícil substituir no coração dos portistas Sérgio Conceição.

 

ACADEMIA

Esta é uma infraestrutura urgente para que o FC Porto não se atrase mais em relação aos rivais. Pinto da Costa dizia que tinha acordado terrenos na Maia que contemplavam 20 hectares, um estádio para 2.500 pessoas, oito relvados, 70 quartos duplos, parque de estacionamento e estruturas de apoio. Villas-Boas sempre defendeu um centro de alto rendimento para todas as modalidades. Os planos apresentados incluem 30 hectares no Olival, onde as equipas de futebol já treinam, com cinco campos de futebol, um pavilhão para as modalidades profissionais, um hotel e estruturas de apoio. Aqui é preciso perceber o que foi contratualizado entre a direção de Pinto da Costa e a autarquia da Maia.

MODERNIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO

Sabe-se que, com a eleição esmagadora de Villas-Boas, o FC Porto ganhou mais 2.500 sócios. O novo presidente, sendo jovem e até confesso amante de desportos motorizados, sabe que é preciso chamar mais jovens ao clube, porque esses serão os adeptos e a massa crítica do amanhã. Na modernização pode ler-se também uma revisão estatutária que preveja a limitação de mandatos, ideia avançada em campanha por Villas-Boas, mas também ideias fora da caixa que levem o FC Porto a todos os cantos do país e do mundo, fora daquela esfera regional em que Pinto da Costa o posicionou, contra o denominado centralismo de Lisboa.

 

LEGADO DE PINTO DA COSTA

Se cumprir com êxito os pontos acima, André Villas-Boas sabe que terá de preocupar-se pouco com as comparações com Pinto da Costa. Mas estamos a falar de 2.585 troféus, 15 mandatos e um percurso incomparável no futebol mundial em termos de sucesso desportivo. André Villas-Boas sabe que tem de ter o cuidado de se exprimir com respeito e carinho pelo ainda presidente portista e, se possível, estreitar uma relação que ficou com feridas bem abertas durante a campanha eleitoral. Se conseguir aproximar-se do antecessor e ganhar com alguma frequência, André Villas-Boas sabe que terá tempo para dar corpo ao seu projeto. Mas a urgência, perante a massa associativa, passa por ganhar, pois a tolerância será menor se o FC Porto estiver três anos consecutivos sem ganhar o campeonato nacional de futebol. Por muito más que estejam as contas…