O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal defendeu, em entrevista à Lusa, que “ninguém de bom senso” nega hoje a existência de alterações climáticas e criticou os “extremistas ambientais” que compram arroz da Tailândia e manga do Brasil.

“As alterações climáticas estão aí, não é uma questão. Ninguém de bom senso disputa a existência de alterações climáticas que os agricultores verificam todos os dias”, afirmou Álvaro Mendonça e Moura.

O impacto no sector agrícola é visível, por exemplo, nas vindimas, que hoje se realizam um mês mais cedo do que há algumas décadas. Perante este problema, o sector agrícola tem feito um “esforço enorme” para ser mais eficiente, nomeadamente no que diz respeito à utilização da água, condição que disse ser necessária para uma empresa ser competitiva.

“O agricultor não só percebe as alterações climáticas como tem todo o interesse em adaptar-se no sentido de ser mais eficiente e é esse caminho que tem feito. Provavelmente, mais do que qualquer outro sector”, sublinhou.

No entanto, Álvaro Mendonça e Moura notou que “muita gente da cidade” ainda não se deu conta deste investimento que o sector agrícola tem vindo a fazer ao longo dos anos.

Esta adaptação às alterações climáticas passa também pela introdução de novas culturas porque “não se pode continuar a produzir em 2024 como em 1960”.

O líder da CAP considerou ainda que a modernização é também “uma oportunidade” para a agricultura se adaptar àquilo que o mercado hoje quer. Contudo, Álvaro Mendonça e Moura criticou aquilo que considera ser um “extremismo ambiental” que não aceita a agricultura e que gostaria que toda a paisagem fosse “um sítio de lazer para o citadino ir uma vez por ano”, vincando que não se pode fazer uma dissociação entre sustentabilidade ambiental, social e económica.

“Esses são os que depois vão ao supermercado comprar arroz da Tailândia e manga do Brasil, ignorando a pegada carbónica e os produtos utilizados” nestes alimentos, acrescentou.

Assim, o antigo embaixador lamentou o “dogmatismo ambiental”, sublinhando que o foco deve ser colocado na produção de alimentos saudáveis, com o menor impacto possível.

Os agricultores querem trazer a população, sobretudo as crianças, ao terreno para demonstrarem as boas práticas que o sector já põe hoje em prática, um esforço que vai continuar a ser desenvolvido nos próximos anos. Porém, Álvaro Mendonça e Moura notou que a Europa não deve assumir sozinha a responsabilidade ambiental mundial, uma vez que contribui com cerca de 7% das emissões de gases com efeitos de estufa.

“Se os Estados Unidos, a China, a Índia e o Brasil não derem passos no sentido da proteção do ambiente, nós podemos fazer haraquiri [ritual de suicídio dos samurais] em relação à nossa produção europeia que o ambiente individual global não melhorará”, concluiu.