O primeiro-ministro apostou tudo na prata da casa e em ministros e ministras já com experiência política e governativa para pôr em marcha o mais rápido possível medidas que possibilitem ao executivo ganhar capital de popularidade até às europeias de 9 de junho, o primeiro grande teste para Luís Montenegro. Note-se ainda que o elenco governativo não tem, que se conheçam, qualquer problema judicial em curso, o que não despiciendo.
São 17 os ministros que compõem o governo AD que toma posse na próxima terça-feira, entre os quais sete mulheres e quase todos já com experiência política e governativa e… poucas novidades, mas alguns independentes.
Luís Montenegro optou por rodear-se de pessoas do seu núcleo mais próximo e formar um verdadeiro governo de combate político para enfrentar a instabilidade política que traz um governo sem maioria no parlamento e com o Chega e o PS a ameaçarem não aprovar o orçamento. O governo não terá estado de graça, não terá o tempo de desafogo como outros para uma passagem regular das pastas, daí que o primeiro-ministro tenha decidido não mexer muito na orgânica do executivo que vinha de António Costa. O objetivo é que a passagem das pastas seja feita sem mais obstáculos e mais rápida do que o habitual, uma vez que Montenegro tem dois meses para mostrar serviço e obra feita e aplicar no terreno medidas que sejam sentidas pelas pessoas e que lhe permitam acumular capital de popularidade que diminua a margem da oposição para o derrubar. E chegar a junho às eleições europeias com medidas já implementadas e os portugueses a sentirem melhorias que lhe permitam vencer as eleições ao PS e ao Chega.
As eleições para o Parlamento não costumam ter grandes leituras nacionais, mas as próximas, segundo reconhecem ao NOVO fontes da AD, não escaparão a essa análise, uma vez que “será a primeira sondagem” feita ao governo e à oposição de Pedro Nuno Santos e André Ventura.
Por isso, Montenegro apostou, sobretudo, na prata da casa para ter um governo mais “coeso” e com uma “boa coordenação política”, colocando no parlamento como ponta-de-lança – líder parlamentar – o secretário-geral do PSD, Hugo Soares.
Para o governo ficaram Leitão Amaro, Miguel Pinto Luz, Nuno Melo, Paulo Rangel e Miranda Sarmento (estes dois últimos ministros de Estado). O objetivo é criar um “núcleo-duro com músculo político” que alavanque o executivo para o combate, por um lado, e para a negociação diária que vai ser exigível, uma vez que a AD não tem maioria na Assembleia da República.

Super-ministério e Juventude
Duas das novidades do elenco de governo que Luís Montenegro levou quinta-feira ao Presidente da República vão para a criação do ministério da Juventude e Modernização, que foi entregue a Margarida Balseiro Lopes, e a introdução do ensino superior na pasta da Educação, um super-ministério que vai ser tutelado por Fernando Alexandre, uma surpresa entre os nomes que já andavam a ser falados há uma semana (embora Montenegro tenha conseguido manter o recato e o segredo até ao fim, à semelhança do que fazia Cavaco Silva).
Maria do Rosário Palma Ramalho, a nova ministra do Trabalho e da Segurança Social, Dalila Rodrigues, para a Cultura, José Manuel Fernandes, para a Agricultura, e Manuel Castro Almeida, para a Coesão Territorial, foram também surpresas. Os dois últimos têm já vasta experiência política, com Castro Almeida a regressar mesmo às funções governativas como adjunto do primeiro-ministro e com o importante dossier da gestão dos fundos comunitário e o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Uma das marcas deste governo está no número de mulheres: são sete ministras num elenco de 17, o terceiro executivo com mais mulheres desde a implantação da Democracia. Hugo Soares disse que “este governo está preparado para os desafios e para dar resposta às pessoas”, mas parte da oposição, sobretudo o chega, criticou o elenco por ser “muito partidário”. Entre a oposição só a Iniciativa Liberal elogiou o “equilíbrio” que Montenegro conseguiu entre políticos e independentes.
Prioridades do governo