Com a eleição de 48 deputados, através de mais de um milhão de votos, o Chega consolidou-se como terceira força política na Assembleia da República e muito se tem especulado sobre o que fará o PSD, apesar de Luís Montenegro ter repetidamente garantido que “não é não” quanto a acordos de governação com o partido de André Ventura.

A ideia foi repetida esta semana por Miguel Pinto Luz, entrevista à Renascença e ao Público, onde garantiu que a direção do partido está bastante unida atrás do seu líder.

“Houve um líder partidário que andou a dizer em eleições que ‘não é não’ e houve 30% do eleitorado que votou nele. Dava o dito por não dito? Essas pessoas tinham o direito de se sentirem defraudadas. As pessoas abandonariam completamente a sua crença nos políticos e nos partidos”, assegurou o vice-presidente social-democrata. “Com Luís Montenegro, não é não. Se não fosse assim, estaríamos muito mal (…). Era o início do fim da política como a conhecemos. Luís Montenegro nunca mudou a sua posição. Foi correcto, directo e nunca vacilou e não vacilará daqui para a frente”.

Sobre os eleitores que votaram no Chega, Miguel Pinto Luz considera que o fizeram devido à “total ausência de políticas que resolvam os problemas desses nossos concidadãos”.

“Isso é um desafio enorme para os partidos ditos ‘moderados’, do centro, como o PSD e o PS, que não foram capazes nas últimas décadas – e, por isso, o mea culpa tem de ser feito – de encontrar soluções para essas pessoas. É dramático, devo dizê-lo. Mas em abono do PSD, nos últimos 30 anos, o PSD governou sete e em situações muito difíceis”.

Para o dirigente social-democrata, a grande maioria destes eleitores “são pessoas que estão absolutamente descrentes do sistema, absolutamente descrentes dos políticos e, pior, absolutamente descrentes das marcas partidárias existentes” e agora é preciso lutar contra o populismo que levo a esta ascensão do partido de André Ventura.

“O Chega é um partido nacional-populista ou social-populista, apresenta uma agenda programática da esquerda à direita, vale tudo e mais alguma coisa. É contra esse populismo que temos de lutar, mas isso só se consegue fazendo políticas. A AD tem agora a oportunidade de mostrar que fazemos aquilo que prometemos, conquistando a pouco e pouco esse eleitorado”, atira.

Para conseguir recuperar a confiança destes eleitores, Pinto Luz compara a atual situação ao primeiro governo de Cavaco Silva, em 1985, que também governou em minoria e quando o PRD também teve mais de um milhão de votos.

“Posso comparar isto com o governo de 1985. O PRD teve mais de um milhão de votos – muito similar àquilo que o Chega teve e nós tivemos 29% – e foi talvez o governo mais reformista. Foi tão reformista que garantiu que os portugueses acreditassem tanto no professor Cavaco que lhe deram duas maiorias absolutas a seguir. O que vai ter de acontecer é um governo de combate, um governo sólido, de homens e de mulheres de qualidade, liderados por um homem que já provou que, de facto, foi o adulto na sala nestas eleições”, comparou.

“André Ventura é um populista que vende tudo e o seu contrário, que defende de manhã uma coisa, à tarde outra. Isso não é credível, mas as pessoas votaram lá e, portanto, temos de ter cuidado com essas pessoas e temos de acarinhar esse eleitorado”, acrescentou.

O dirigente social-democrata acredita que o PS e Pedro Nuno Santos terão percebido que não há mais de um milhão de portugueses que “são xenófobos, são racistas, são fascistas”.

“Pedro Nuno Santos (…) disse que o PS não punha a cabeça debaixo da areia, que não podíamos todos acreditar que 1,1 milhões de portugueses são xenófobos, são racistas, são fascistas. Não, são homens e mulheres que estão descontentes. O PS percebeu que há muitos votos no Chega do PS. Claro que também há do PSD, mas percebeu-se pelo resultado que não foi esvaziado muito em relação àquilo que aconteceu há dois anos. O PS foi esvaziado.

Para o futuro, a preocupação dos sociais-democratas não será o Chega, mas recuperar a grande parte do eleitorado que está descontente e que votou no partido de extrema-direita.

“Não estamos nada preocupados. Durante a campanha, não discutimos o Chega e continuamos a não discutir o Chega. O que nós queremos discutir é 1,1 milhões de cidadãos que votaram Chega, o que é diferente. Vamos fazer políticas para reconquistar a confiança desses 1,1 milhões de portugueses que estão descontentes”, garantiu.