Um dos maiores desafios que o mercado editorial enfrenta, atualmente, é o de conquistar públicos que se identificam com gostos cada vez mais específicos e menos massificados.

A lógica é simples: num mundo feito cada vez mais de nichos e menos de massas, onde a liberdade de expressão abriu as portas para ideias e pensamentos que costumavam viver confinados nos porões do preconceito social, encontrar histórias que dialoguem universalmente com todos, histórias que sejam best-sellers abrangentes, é de uma grande dificuldade.

Mas isso não é mau, pelo contrário. Existe uma literatura mais ampla e diversa, mais voltada para indivíduos do que para massas , que encontra, nos nossos tempos, um ambiente perfeito para proliferar. Falo da autopublicação.

Existe um princípio simples e poderoso por trás da autopublicação: o de que todos têm uma história para contar e que podem fazê-lo gratuitamente, sem grandes esforços, desenhando, coletivamente, uma teia de diversidade realmente capaz de retratar, da melhor forma, a heterogeneidade da sociedade atual. O resultado? Um tsunami de livros a chegar ao mercado. Todos os dias, mais de 100 novos livros autopublicados em português chegam aos leitores lusófonos. Para se ter uma ideia do quanto isto representa, o mercado editorial tradicional português regista pouco mais de 12 mil novos livros editados por ano – um terço, portanto, do mercado de autopublicados.

A quantidade, aqui, importa. Mais livros significa, afinal, mais oportunidades de as histórias dialogarem de maneira mais íntima com mais leitores e conquistarem os seus corações. Com uma oferta mais ampla à disposição, os leitores passam a ter  mais facilidade em encontrar aqueles títulos específicos que os chamam à atenção de maneira mais magnética. Uma maior identificação leva a um maior impulso de consumo de leitura.

O mercado europeu em geral – e o português em específico – parecem estar a beneficiar deste movimento. Apenas em 2022, de acordo com a Federação Europeia de Editores, um número recorde de 2,5 mil milhões de livros foram vendidos na União Europeia. Portugal está na vanguarda desse crescimento. Enquanto a média de crescimento de vendas de livros na Europa foi de 1,3% em 2022 (quando comparado a 2021), o território português  registou um impressionante salto de 9,4%. Estes dados refletem-se também noutros estudos, como no Inquérito à Educação e Formação de Adultos 2022 (IEFA), divulgado pelo INE em outubro. Em 2022, 41,3% dos portugueses com idade entre 18 e 69 anos afirmaram ter lido, pelo menos, um livro nos últimos 12 meses como atividade de lazer – número que, em 2016, estava nos 38,8%.

Lê-se mais porque se encontra uma maior variedade de livros, e variedade, neste caso, significa uma ampliação de possibilidades de conexão entre um determinado título e um novo leitor em potencial. Para Portugal, são ótimas notícias. Em tempos dominados por intolerância e guerras, uma população que lê mais é também uma população mais racional, mais empática e mais capaz de escrever um futuro melhor para a sua própria sociedade.

Ricardo Almeida, Fundador e CEO do Clube de Autores