Donald Trump está agora com 41,8% e Joe Biden com 40,8% de intenções de voto entre os votantes prováveis, segundo a média do agregador de sondagens do reconhecido site americano 538. E com Robert F. Kennedy Junior (RFK Jr.) nos 10,2%, uma percentagem notável para um candidato independente.

A faltar 6 meses para as eleições presidenciais de 5 de novembro, quem está em vantagem é o ex-presidente republicano, o homem que apesar da vitória de 2016 perdeu duas vezes consecutivas o voto popular, a última delas há quatro anos contra o atual presidente por 4 pontos e meio percentuais. Como é possível uma figura tão impopular como Trump estar à frente nas sondagens? E tendo em conta que o colégio eleitoral é que decide e não o voto popular, como está a corrida nos estados decisivos? O que mudou face a 2020? 

Há muitos meses que Trump tem estado à frente de Biden na maioria das sondagens. As principais razões prendem-se com a insatisfação dos americanos com a inflação, as taxas de juro altas, a imigração ilegal descontrolada, a desordem no mundo e a ideia de um Biden demasiado envelhecido e fraco para fazer face a todos estes desafios. Ao mesmo tempo, sobretudo quando está mais afastado dos holofotes, os defeitos de Trump são esquecidos, assim como os piores momentos do seu mandato, enquanto que os bons tempos económicos e geopolíticos da sua presidência são vistos com bons olhos. Biden é bem mais impopular que Trump, algo que porém começa a mudar.

Essa mudança começou a 7 de março, quando o democrata Joe Biden fez um discurso do Estado da União extremamente bem recebido, em que de forma enérgica defendeu o seu mandato e com humor, e vigor, atacou os republicanos, e até surpreendeu Trump. Desde então Biden recuperou um ponto percentual nas taxas de aprovação (que ainda são 17 pontos negativas segundo o 538) e o mesmo nas sondagens contra Trump, de dois p.p. atrás para menos de um. Claro, que isto ainda não é uma mudança significativa, e o discurso não foi a única razão para o início desta recuperação, mas marcou um ponto de viragem. E neste momento, com Trump a aparecer nas notícias embrulhado em casos em tribunal que o têm feito perder popularidade é de esperar que Biden continue a sua lenta recuperação. Para esta se consolidar, é preciso que os americanos se continuem a relembrar dos defeitos do ex-presidente e que os problemas que têm assolado a América e o mundo continuem a acalmar ou comecem a se resolver. Portanto, a administração Biden e a sua equipa de campanha têm de se esforçar a combater estes desafios e a reclamar crédito pelo que esteja a melhorar ou mesmo a correr bem (como o baixo desemprego e a expansão do setor energético e industrial americano).

Nos estados decisivos, a situação é diferente dos do Norte e nos do Sul. Nos do Norte, que têm uma população sobretudo branca, Biden tem-se mantido taco a taco com Trump, esperando-se que caso 2024 volte a ser muito renhido, um destes estados, como o Michigan, volte a ser aquele que faz o vencedor ultrapassar os 270 de 538 eleitores do Colégio Eleitoral necessários. Entre os brancos, sobretudo os mais velhos e com maior instrução, Biden tem conseguido ou até reforçar ligeiramente o seu apoio indicam as sondagens. São grupos demográficos que têm a pouco a pouco tendido mais para os democratas, e que representam muitas dezenas de milhões de eleitores. Nos estados do Sul, do Nevada e Arizona no sudoeste à Geórgia, Flórida e Carolina do Norte no sudeste, os eleitores, menos instruídos e sobretudo mais diversos etnicamente, parecem estar bem mais a favor de Trump do que há quatro anos. As minorias étnicas, tradicionalmente fortemente democratas, tem-se virado cada vez mais para Trump. E também há indícios de que os mais jovens, de qualquer etnia, estão muitos menos fãs de Biden, e dispostos a votar em Trump ou recusarem os dois principais candidatos e votarem noutro, como RFK Jr.

Tanto que neste momento, caso a participação eleitoral volte a ser muito elevada como em 2020,, há a possibilidade forte de Trump ganhar o colégio eleitoral com facilidade e ainda, no que seria a sua primeira vez, ganhar o voto popular. Ao contrário do que é costume nas eleições americanas, participação elevada beneficia agora os republicanos, e nenhum republicano é melhor a levar gente a votar do que Trump. Trump está certamente motivado para não só voltar à Casa Branca, como para felicidade do seu ego, cimentar o seu lugar como a pessoa mais votada de sempre para presidente, e ganhando no voto popular contra o Biden, poder tirá-lo do primeiro lugar dos presidentes que mais votos receberam numa só eleição. Para impedir isso, Biden vai ter de governar ainda melhor, e sobretudo de saber divulgar os feitos do seu mandato e também os defeitos da oposição.