O desencontro entre os escassos rendimentos e o aumento das rendas está a levar vítimas de violência doméstica a atrasar a saída de casa e a não quebrar o ciclo de violência. A par disso, as instituições de apoio a estas vítimas têm cada vez maior dificuldade em encontrar vagas nas casas-abrigo para todos os que necessitam.

“Sempre foi difícil [arranjar vaga nas estruturas de acolhimento], mas agora está pior. As casas-abrigo servem muitas vezes de resposta para problemas sociais…”, diz ao PÚBLICO Ilda Afonso, coordenadora do Pra ti – Centro de Atendimento para Vítimas de Violência Doméstica. “Agora, ninguém encontra facilmente uma casa para viver, muito menos por um valor que se possa pagar”, acrescenta a responsável por aquela estrutura da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) no Porto.

Na notícia que faz a manchete do PÚBLICO nesta edição, o jornal adianta que a Rede Nacional de Apoio às Vítimas de Violência Doméstica está entupida, razão pela qual muitas vítimas demoram a encontrar vaga. Até porque as que já entraram no sistema têm maiores dificuldades em sair das casas-abrigo ou dos centros de acolhimento, porque com os salários que auferem não conseguem arrendar uma casa própria.

“O problema de não haver vagas nas casas-abrigo é que as estruturas de emergências têm de ficar com as vítimas mais tempo”, explica ao jornal diário Susana Ramos Pereira, presidente da Mulher XXI. “Em vez de estarem 15 dias, estão três meses ou mais. E as estruturas de emergência como a nossa ficam sem vagas para situações urgentes.” “O aumento exponencial do preço da habitação tem consequências evidentes, mais ainda quando há especial vulnerabilidade associada”, reforça Manuel Albano, vice-presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.

A Rede Nacional de Apoio às Vítimas de Violência Doméstica tem 200 centros de atendimento espalhados pelo país, 18 estruturas de emergência e 36 casas-abrigo.