O ministro da Presidência rejeitou esta quinta-feira as acusações de saneamento político na exoneração da direção da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e defendeu que os portugueses “não perdoariam” uma inação do governo face à degradação da instituição.

Em declarações prestadas no briefing após o Conselho de Ministros, António Leitão Amaro reiterou o papel da SCML enquanto “instituição importantíssima” na resposta social e criticou a falta de soluções da administração liderada pela provedora Ana Jorge, que ficará em funções correntes até ser nomeada uma nova equipa.

“O que os portugueses não perdoariam era que o governo assistisse em inação a um agravar contínuo da situação financeira, da capacidade para atender aos que mais precisam, ao cumprimento da missão social, e ser tolerante e aceitar essa inação, essa passividade, que não se manifestou em 15 dias ou três semanas”, disse.

António Leitão Amaro lembrou que a direção exonerada esta semana estava em funções há cerca de um ano, sem que fosse conhecido um “plano de reestruturação” ou “medidas decisivas para inverter a situação de degradação financeira na Santa Casa”.

“Não fizeram o que precisavam de fazer, não tiveram a diligência que era exigível. Portanto, os portugueses certamente compreendem que estamos a cumprir o nosso papel quando substituímos quem não faz o que deveria fazer”, reforçou, continuando: “A Santa Casa é muito útil para os portugueses. Precisava — e precisa — de um novo ímpeto que a direção anterior não garantia.”

O ministro da Presidência acrescentou ainda que a intenção do governo com esta exoneração passa por “trazer capacidade de resposta e sustentabilidade financeira” à SCML, mas não deixou de apontar falta de cooperação da direção de Ana Jorge e a importância de haver um alinhamento com “as estratégias políticas e os programas do governo”.

“Como disse o senhor primeiro-ministro, é obviamente natural que, se é preciso uma nova capacidade de reformar para melhorar o cuidado aos mais vulneráveis e uma nova capacidade para fazer as reestruturações internas, organizacionais e financeiras para que a Santa Casa volte a ser sustentável financeiramente, a direção de uma instituição destas deve estar alinhada com essa preocupação e não recusar prestar informação, não deixar de agir e não persistir na inação”, concluiu.

A provedora da SCML e os elementos da Mesa foram exonerados em 29 de abril, mantendo-se em funções até à nomeação de nova equipa.

O governo acusou Ana Jorge e os elementos da Mesa de “atuações gravemente negligentes” que afetaram a gestão da instituição, justificando desse modo a exoneração.

Posteriormente, numa carta enviada a todos os trabalhadores, Ana Jorge acusou o governo de a ter exonerado de “forma rude, sobranceira e caluniosa” e que foi apanhada de surpresa.

Ana Jorge tomou posse em 2 de maio de 2023, escolhida pelo anterior governo, socialista, de António Costa, e herdou uma instituição com graves dificuldades financeiras, depois dos anos de pandemia e de um processo de internacionalização dos jogos sociais, levado a cabo pela administração do provedor Edmundo Martinho, que poderá ter causado prejuízos na ordem dos 50 milhões de euros.