Os conselheiros de Joe Biden estão preocupados com a repercussão para a Casa Branca das manifestações pró-palestinianas nas universidades americanas, que recordam protestos estudantis dos anos 1960.

Em recentes declarações ao jornal Washington Post, um assessor da recandidatura presidencial de Biden confessava que o debate sobre a posição da Casa Branca relativamente ao conflito no Médio Oriente pode tornar-se um tema de campanha que acabará por beneficiar o adversário republicano, sobretudo depois da escalada de conflito nos protestos estudantis nas universidades.

O argumento que sustenta as preocupações nas fileiras democratas prende-se com o radicalismo das posições assumidas pelo governo de Benjamin Netanyahu, que pode desmobilizar o eleitorado mais à esquerda do Partido Democrata se Biden não se demarcar de algumas das suas decisões no conflito na Faixa de Gaza.

Por outro lado, os conselheiros do presidente norte-americano estão preocupados com o facto de as manifestações pró-palestinianas em diversas universidades estarem igualmente a suscitar um debate sobre os limites da liberdade de expressão, o que poderá dar relevantes armas políticas a Trump, que tem acusado Biden de usar instrumentos da máquina judicial e política para procurar conter as posições conservadoras dos republicanos.

Os conselheiros de Biden lembram ainda que a Casa Branca pode ser afetada por qualquer escalada no conflito social provocado pelas manifestações nas universidades, tal como aconteceu em 1968, quando, a propósito da luta pelos direitos civis e contra a guerra no Vietname, num cenário de manifestações estudantis, o Partido Democrata acabou por ser derrotado por Richard Nixon.

O paralelismo entre o que aconteceu na Universidade de Columbia em 1968 e agora, em 2024, é inevitável, sobretudo depois de a presidente da instituição, Minouche Shafik, ter apelado à intervenção policial para desmobilizar os estudantes ativistas pró-palestinianos, repetindo ações de detenção de alunos que se verificaram há mais de 50 anos.

Em 1968, os alunos protestavam contra a ligação da Universidade de Columbia a uma organização que fazia investigação de armas para a Guerra do Vietname, bem como contra a forma como a administração tratava os alunos de minorias étnicas.

Tal como sucedeu nos últimos dias, a administração da universidade permitiu que agentes da polícia de Nova Iorque entrasse nas instalações para expulsar os manifestantes, provocando duros confrontos físicos que levaram a dezenas de detenções e feridos.

Os confrontos estudantis prejudicaram fortemente a imagem do então presidente democrata Lyndon Johnson, bem como as aspirações políticas do candidato do partido às eleições presidenciais de novembro de 1968, Hubert Humphrey, que acabou derrotado pelo republicano Richard Nixon, que tinha sido vencido em 1960 por John F. Kennedy.

Charles Blow, analista político e colunista do jornal The New York Times, estabelece o paralelo entre o momento vivido em 1968 e aquele que agora se repete em várias universidades e lembra que, há 50 anos, os democratas sentiram na pele os efeitos dos protestos estudantis na convenção do partido que se realizou em Chicago, exatamente o local onde Biden terá este ano a convenção que deverá consagrá-lo como recandidato à Casa Branca.

Também em 1968 se debateu a questão do direito à liberdade de expressão dos estudantes e também a decisão de usar os agentes policiais para desmobilizar as manifestações acabou por afetar a imagem da Casa Branca, o que pode ser um aviso para a postura de Biden sobre esta matéria, como defende Blow.

Esta semana, Donald Trump preferiu comparar os protestos estudantis na Universidade de Columbia com a invasão do Capitólio, a 6 de janeiro de 2021, pelos seus apoiantes, com o objetivo de tentar reverter a vitória de Biden nas eleições presidenciais de 2020.

“Os alunos ocuparam um edifício. Isso é um grande problema. Eu interrogo-me se o que acontecerá será comparável ao que aconteceu em 6 de janeiro”, ironizou Trump, referindo-se ao facto de muitos dos seus apoiantes terem sido investigados e punidos judicialmente pela invasão do Capitólio.