Nos documentos da auditoria da BDO à Santa Casa Global foi colocada 18 vezes a palavra “mentira”. Quem a colocou foi Ricardo Gonçalves, o administrador da Santa Casa Global, a empresa criada pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) para gerir a  internacionalização dos jogos sociais. O administrador, ouvido esta quarta-feira na Comissão do Trabalho, Segurança Social e Inclusão,  acusa a consultora de ter realizado uma auditoria que falta à verdade dos factos. Além das 18 “mentiras”, colocou também, seis vezes a palavra “erro”.

Segundo Ricardo Gonçalves, a consultora ter-se-à queixado de que não terá tido acesso a todos os documentos. Mas, o ex-administrador, demitido em dezembro pela ex-provedora Ana Jorge, garante que toda a documentação está disponível quer na Santa Casa Global, quer na SCML. Ricardo Gonçalves também garantiu ao deputados que todas as operações da Santa Casa Global no processo de internacionalização dos jogos sociais foram aprovados por unanimidade pela Mesa Administrativa da SCML. “Nenhuma das aprovações teve sequer uma declaração de voto”, observou.  E insistiu que nada aconteceu sem o conhecimento prévio da Mesa Administrativa.

Ricardo Gonçalves entregou aos deputados a análise da BDO à Santa Casa Global  num documento Excel. Numa coluna colocou as conclusões da BDO e noutra, ao lado, os seus comentários. Em 18 destes comentários está a palavra “mentira”, observou a deputada do Chega,  Vanessa Barata. Esta observação surgiu depois de Ricardo Gonçalves ter afirmado que a BDO não procurou os documentos e que terá realizado a auditoria sem um verdadeiro conhecimento de causa.  A palavra “mentira” foi colocada em observações que a BDO considerou serem “inconformidades” e que para Ricardo Gonçalves seriam apenas “desconhecimento”. Neste sentido, lamentou também que estando a auditoria ainda no inicio, sem qualquer contraditório, a então provedora Ana Jorge tenha usado um documento com cinco folhas e o tenha enviado ao Ministério Público como denúncia de “inconformidades” detetadas na Santa Casa Global. O antigo administrador, arrasando a auditoria da BDO, disse, inclusive, que nunca foi convocado para o contraditório.

Depois de Ricardo Gonçalves, a comissão ouviu o anterior Secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias que, por coincidência é também deputado naquele grupo de trabalho parlamentar. Só teve de mudar de cadeira.

Brilhante Dias confirmou que teve reuniões com Edmundo Martinho e com o então vogal João Correia, tendo ambos apresentado a intenção de Santa Casa internacionalizar os jogos sociais, pedindo apoio político-diplomático. O agora deputado socialista confirmou que fez a sinalização desse interesse nomeadamente junto das autoridades brasileiras.

Brilhante Dias acentuou que todos os processo de internalização têm risco, ainda muito mais quando o negócio é o jogo, com grande intervenção pública. A unica função que teve, frisou, foi sinalizar a Santa Casa da  Misericórdia ao Governo brasileiro. “Tive a posição de  acompanhamento político-diplomático, só isso”,  disse. Brilhante Dias enalteceu também o tralho de diplomacia económica que é realizado nas embaixadas portuguesas espalhadas pelo mundo.