A perceção de que a AD está a crescer, desde as eleições regionais nos Açores, motivada pela demarcação em relação ao Chega, obrigou Pedro Nuno Santos a alterar a estratégia. O candidato socialista quis partir para a campanha eleitoral, que arranca este domingo, com a promessa de viabilizar um governo da AD para pressionar Luís Montenegro a assumir uma posição que já tinha provocado danos na coligação de direita.

Com algumas sondagens a apontarem para a vitória da AD e para a inexistência de uma maioria de esquerda, Pedro Nuno Santos aproveitou o debate com o líder da coligação para lançar uma novidade: “O PS não apresentará uma moção de rejeição nem viabilizará nenhuma moção de rejeição, se houver uma vitória da AD.” Uns dias depois, num comício em Vila Real, deixou ainda mais claro que a estratégia é colar a AD a cenários de instabilidade. “Luís Montenegro está há três dias calado, sem responder, sem dizer o que fará quando o PS vencer as eleições”, afirmou Pedro Nuno, questionando “o que é que ele esconde”, porque “é legítima a suspeita de que aquilo que está em causa é uma aliança entre o PSD e o Chega para impedir o PS de governar”. Na SIC, Pedro Delgado Alves, um dos elementos do núcleo duro, condenou o “silêncio de Luís Montenegro” e Miguel Prata Roque, ex-governante, defende que “a AD não pode continuar a achar que pode enganar as pessoas com meias-palavras”.

Mas Pedro Nuno Santos acabou por tropeçar na sua própria estratégia e entrou em várias contradições. Na noite eleitoral, depois da vitória da coligação de direita nos Açores, tinha afirmado que “é muito difícil, praticamente impossível, que o PS possa viabilizar um governo de direita”. Mesmo depois do debate, na segunda-feira, Pedro Nuno Santos veio esclarecer que só viabilizará um governo de direita se não houver uma maioria de esquerda. Ou seja, não basta “uma vitória” da AD.

A confusão intensificou-se, a meio da semana, quando o líder socialista recuou e sugeriu que, afinal, não viabilizaria um governo da AD. “Sentimo-nos desobrigados. Ninguém pode exigir ao PS que faça aquilo que o PSD não está disponível para fazer.” Mas esta não foi a última posição sobre o assunto e, no mesmo dia, o secretário-geral do PS voltou a garantir que está disponível para viabilizar. “Mantém-se” a garantia de que não viabilizará uma moção de rejeição, “se o PS não ganhar ou não tiver uma maioria para apresentar”.

AD em crescendo, mas evita euforias

Nos bastidores da campanha da AD vivem-se momentos de esperança. De repente, depois de uma “desesperança” – expressão usada por muitos sociais-democratas – semanas após o congresso, em que esperavam um embalo do PSD, mais tarde AD, que não aconteceu, eis que a esperança voltou ao discurso e muitos que não acreditavam numa vitória agora já dizem que é possível. Ainda que as sondagens continuem a não refletir o que os sociais-democratas gostariam, a prestação do líder nos debates televisivos, as salas cheias de militantes e o apoio nas ruas tem dado novo alento. “Mas sem euforias”, diz ao NOVO um membro do núcleo duro de Luís Montenegro. Nem o facto de os analistas terem considerado que Pedro Nuno Santos ganhou o debate a Luís Montenegro fez baixar as expectativas. “Porque, para a AD, quem ganhou foi Luís Montenegro”, diz um democrata-cristão que integra a direção da campanha eleitoral.

“A AD está com energia e motivação na rua, em todos os concelhos e distritos, demonstrando a ambição de um Portugal que não se resigna e quer mudar”, reagiu ao NOVO Hugo Soares, secretário-geral do PSD. E está a conseguir? “Sim, estamos em crescendo”, garante ao NOVO o líder do CDS, Nuno Melo.

A politóloga Paula do Espírito Santo tem dúvidas. Diz que Pedro Nuno Santos “ganhou uma dinâmica maior” após o debate com Luís Montenegro e está a aparecer em mais momentos televisivos de rua com o eleitorado. “Falta à AD momentos espontâneos de rua como Pedro Nuno Santos teve, a dançar com uma senhora.”

Mas Nuno Melo tem a resposta pronta: “O maior barómetro está na rua e na rua tem sido em crescendo, com consistência, naquilo que deverá ser uma vitória a 10 de março. Estamos muito confiantes.”

E, de facto, a confiança passou a fazer parte da narrativa dos sociais-democratas com quem o NOVO falou, nomeadamente com alguns que sempre foram críticos e diziam que Luís Montenegro não conseguia passar a mensagem. Agora, já dizem que o líder da AD “tem estado credível” e a saber passar as suas ideias para o país. Nuno Melo garante que a campanha oficial, que arranca a 25 de fevereiro, vai ser “rua, rua e rua”. E até já se fala numa maioria absoluta, ainda que se assuma ser difícil.

Montenegro vai evitar falar até ao fim no cenário de uma vitória do PS. Até porque já disse que só governa se ganhar e, caso ganhe o PS, é quase dado como certo que, no dia 11, um dos temas na São Caetano à Lapa será de imediato a substituição do líder. Não fosse o PSD o partido que mais líderes já substituiu.