O superintendente Luís Miguel Ribeiro Carrilho foi esta segunda-feira indigitado pela ministra da Administração Interna para dirigir a PSP, em substituição do superintendente-chefe José Barros Correia que estava nomeado desde setembro do ano passado. Uma mudança de cadeira pouco pacífica com o diretor nacional exonerado a dizer que nunca colocou o lugar à disposição e que a decisão é da “exclusiva iniciativa” da ministra.

A ascendência de Luís Carrilho ao mais alto cargo dirigente da PSP é um processo natural, depois de um percurso nacional e internacional que o distingue como um dos polícias mais experientes e competentes. Vários países já o condecoraram em reconhecimento pelo seu contributo para a paz no mundo, com destaque para os louvores atribuídos pelas Nações Unidas, pelo Estado de Timor-Leste e pelo governo de Espanha, entre outros.

Foi precisamente em 2001, em Timor, que Luís Carrilho deu nas vistas ao desempenhar a missão de porta-voz das Nações Unidas quando o país ia às urnas pela primeira vez de forma livre e direta eleger o seu primeiro Governo democrático. A forma pacífica e ordenada como tudo decorreu deveu-se também a Luís Carrilho que manteve com os profissionais da comunicação social, de todo o mundo, uma relação que deixou marcas.

Foram várias as missões de risco em países com instabilidade política, destacando-se os vários anos em que esteve ao serviço da ONU. Luís Carrilho será, seguramente, o polícia português com uma mais vasta experiência internacional.

O superintendente ocupava, até à data, o cargo de Comandante da Unidade Especial de Polícia (UEP).

Em comunicado, o Ministério da Administração Interna refere que “esta decisão de indigitação surge no âmbito da reestruturação operacional da PSP, quer no plano nacional, quer no plano da representação institucional e internacional desta força de segurança pública”.

Embora a competência e as capacidades de Luís Carrilho não possam ser postas em causa, o certo é que esta mudança surge de forma pouco pacífica.

O diretor nacional exonerado, em mensagem enviada a todo o efetivo da PSP, escreveu: “Hoje, pelas 18h45, a sra. ministra da Administração Interna, juíza conselheira Margarida Blasco, comunicou a minha exoneração, sendo esta decisão da sua exclusiva iniciativa”. O normal seria que, com a mudança de Governo, José Barros Correia, de 58 anos, nomeado em setembro de 2023, colocasse o lugar à disposição. Pelos vistos, isso não aconteceu. De perfil muito humanista, oriundo dos serviços sociais da PSP, onde era antes dirigente, José Barros Correia dá lugar a um operacional, conhecer profundo da realidade da PSP em Portugal e com muita experiência internacional. As expetativas são muito altas.

 

Sindicato surpreendido´

O presidente do Sindicato Nacional da Polícia (Sinapol) realçou que a exoneração do diretor nacional da PSP foi uma surpresa, num momento em que os sindicatos aguardam uma “proposta séria” do Governo para iniciar o processo negocial.

“Foi uma decisão que nos apanhou de surpresa. Não estávamos à espera de que num momento tão crucial para a Polícia de Segurança Pública em que estamos, inclusive neste impasse negocial”, sublinhou à agência Lusa Armando Ferreira, apontando que o superintendente-chefe José Barros Correia já disse que a iniciativa para a exoneração foi “exclusivamente governativa”.

O responsável do Sinapol afastou que esta decisão tomada pela ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, altere o processo negocial em curso entre as forças policiais e o Governo.