É já este sábado, dia 23 de março, que se celebra a Hora do Planeta, uma iniciativa histórica da WWF, que surgiu em 2007, tendo sido adotada por Portugal um ano depois. A Hora do Planeta cresceu ao longo dos anos e tornou-se num movimento global pela defesa do ambiente e preservação do planeta – atualmente mais de 190 países e territórios participam. Embora seja conhecido pelo apagão que acontece entre as 20h30 e as 21h30, em Portugal continental, o movimento vai muito além da hora, através de uma série de ações, que, mesmo sendo pequenas, têm um grande impacto.

Neste ano, a festa oficial da Hora do Planeta decorre no Mercado de Alvalade, em Lisboa. Organizada pela Associação Natureza Portugal/WWF Portugal, em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa e a Junta de Freguesia de Alvalade, tendo sido escolhido o formato de arraial para o evento, que vai começar às 16h00 e se prologa até às 21h30.

O NOVO falou com a diretora executiva da ANP/WWF Portugal, Ângela Morgado, que destacou a necessidade de agir pela natureza de forma a salvá-la das ameaças que enfrenta. “Com o passar das edições a Hora do Planeta transformou-se numa ação efetiva pelo planeta, numa plataforma de ação. Porque não basta dar uma hora ao planeta para regenerar, é preciso agir pela natureza. Age-se pela natureza transformando comportamentos para além disso. Houve uma transformação da mensagem da Hora do Planeta. Hoje em dia, até dizemos às pessoas para fazerem uma ação efetiva pelo planeta, que dá para registar no que chamamos de Banco de Horas. A Hora do Planeta é essa ação efetiva pela natureza, por uma natureza positiva, porque conforme temos vindo a reparar a natureza tem-se degradado a um ritmo preocupante”, afirma, lembrando as consequências dessa degradação. “69% das espécies desapareceram desde 1970, nos ecossistemas de água doce o declínio ainda é maior, chega a 83%, em algumas espécies. A natureza está em perigo e é preciso entendermos isso e mudarmos comportamentos para proteger o planeta.”

Ângela Morgado salienta que, “tal como em todos os países, a Hora do Planeta em Portugal tem vindo sempre a ganhar mais adeptos”. Para se perceber a evolução da adesão por cá, basta referir que, em 2008, a Hora do Planeta foi marcada em 11 cidades. Agora é celebrada em cerca de 100 municípios. “O apoio das empresas também é cada vez maior e também a divulgação junto de colaboradores para participarem neste momento. Os municípios também têm esse papel de divulgação da mensagem e de apelo à participação dos cidadãos”, diz a responsável.

A organização espera contar, na edição deste ano, com essa participação média de 100 municípios, sublinhando o papel das autarquias na Hora do Planeta. “Os municípios sempre desempenharam um papel muito importante, através da sua ligação com a Hora do Planeta. Primeiro, eles também desligam emblematicamente as luzes de alguns monumentos locais. Isso cria uma rede de monumentos em todo o país, e depois também um pouco por todo o mundo, que através do tal apagão simbólico marca a data, numa mensagem clara de ação efetiva pelo planeta. Toda a comunicação que os municípios fazem chamando a atenção para a necessidade de comportamentos mais sustentáveis, a ação individual: no fundo, a ideia de pequenas ações, que trazem grandes impactos. As celebrações que existem na rua, são várias, e tudo isso vai permitir que a Hora do Planeta chegue a mais pessoas.”

Um conjunto de ações

Fomentar o contacto com a natureza é uma das formas de incentivar as pessoas a valorizarem  a natureza e a protegê-la. “Acreditamos que, de cada vez que as pessoas estão no meio da natureza, podem trazer inspiração no sentido de tentar proteger aquilo que realmente traz às pessoas uma sensação de conforto, de bem-estar. Cada vez mais se retira da natureza bem-estar, de uma forma que não se retira de muitas das coisas que temos”, realça Ângela Morgado.

Desde o ano passado, a WWF Portugal tem transmitido aos cidadãos que as suas ações diárias, por mais pequenas que sejam, têm grande impacto. Será porém difícil contrariar a ideia que muitas podem ter sobre o pouco peso que as suas ações têm? A diretora executiva da ANP/WWF Portugal considera que não. “Não é difícil se juntarmos todas as ações, se as pessoas conseguirem perceber que através da influência no seu microespaço, e se todos o fizermos, são pequenas ações, mas depois têm um grande impacto.” E dá um exemplo. “Se todas as pessoas fizessem uma dieta mais amiga do ambiente, e isso não tem nada a ver com deixar de comer carne ou peixe – na WWF não adotámos esse tipo de fundamentalismo, tem antes que ver com reduzir o consumo de proteína animal e combinar mais com a proteína vegetal -, imagine o impacto que teria. Imagine o que faria se agora todos decidíssemos, em vez de comer carne oito vezes por semana, comer três. Imagine se milhares de milhões de consumidores decidissem isso. A forma como nos alimentamos é uma das coisas que põe mais pressão sobre os recursos naturais”, constata.

Questionada sobre os objetivos que a ANP/WWF Portugal espera ver concretizados neste ano na Hora do Planeta, Ângela Morgado vinca que o que  a organização pretende “é um movimento pelo planeta fora”. “A Hora do Planeta serve para alertar as pessoas para o facto de que, por vezes, com um esforço mínimo é possível mudar os comportamentos em qualquer idade, em qualquer localização, para depois termos um planeta diferente, uma natureza mais positiva. Só tem sentido se as pessoas tiverem uma ação responsável e efetiva pelo planeta. Mas não são só os indivíduos, são as empresas, são os governos, todos temos responsabilidade de fazer aquilo que temos para fazer, que é salvar a nossa natureza.”

Artigo publicado na edição do NOVO de 23 de março