Não vale a pena fazer suspense. A resposta ao título é simples: são ambos eurofederalistas. Ana Gomes e Francisco Pinto Balsemão são duas figuras, uma à esquerda e outra à direita, que já defenderam publicamente a criação de uma Europa federal.

E é importante que cada vez mais pessoas destacadas da nossa sociedade abram este debate, tanto em Portugal como no resto da Europa. Não é um tema secundário, é mesmo um tema primordial para a nossa sobrevivência e para o nosso progresso. Infelizmente, boa parte dos líderes políticos e a generalidade da comunicação social prefere falar do acessório, da polémica do momento, do fait-divers que coloca as redes sociais em polvorosa. Veja-se o debate e o ruído que houve por causa da mudança do logótipo do governo…

O país, nomeadamente os actores políticos e o comentariado da comunicação social, discute o que pouco ou nada interessa e concentra-se em temas que alimentam o circo mediático. Não se vê em nenhum canal de informação um debate sério sobre saúde, educação, habitação, segurança, salários… os temas que de facto preocupam uma fatia considerável da população. Prefere-se discutir se a mudança de logótipo tem algum significado político.

O debate público e o debate político em Portugal é profundamente pobre. Raramente ficamos esclarecidos sobre o rumo do país, as opções políticas importantes que estão a ser tomadas ou quais são as alternativas concretas sobre determinadas escolhas. Bastou ver os debates da última campanha e os comentários aos debates para perceber que é mais importante saber se político X falou melhor do que o político Y do que perceber se apresentaram alguma proposta. O que culminou na atribuição de notas…

Mas apesar de o debate em Portugal ser bastante fraco, ao nível de um tweet (e há quem pense que há debates sérios no Twitter e há directores de televisões que vão recrutar comentadores ao Twitter), há que apelar a todos os que pensam os temas que realmente interessam que falem mais. E que tentem chegar aos grandes veículos comunicacionais, nomeadamente às televisões, que ainda são os meios de comunicação que chegam a mais pessoas.

É por isso que pessoas como Ana Gomes e Francisco Pinto Balsemão falarem de eurofederalismo é tão importante, como aconteceu esta semana. Apesar de o termo “federalismo” ainda criar alguma desconfiança, precisamos de pessoas como os citados que desmistifiquem o seu significado. Ter uma Europa Federal não é mais do que ter uma Europa mais democrática. É os europeus terem a possibilidade de elegerem o seu governo em vez de termos os governos europeus a escolherem nos corredores quem é o ou a presidente da Comissão Europeia.

Uma Europa Federal é a possibilidade de unidos termos uma voz importante no mundo e ser um farol do respeito dos direitos humanos. É podermos ter uma diplomacia e umas forças armadas europeias comandadas por alguém que os europeus escolheram porque deram o seu voto a determinados partidos e a determinadas personalidades. É também saber que os Estados não vão acabar e que o princípio de subsidiariedade, com um poder local, um poder regional, um poder estadual e um poder federal, é mais eficiente.

E saber que uma Europa Federal defende melhor as culturas e as línguas locais e regionais do que os Estados sozinhos fazem nos dias de hoje. Certamente que o português europeu será mais protegido numa federação europeia do que nos dias de hoje. Certamente que as tradições portuguesas serão mais protegidas numa federação europeia do que são nos dias de hoje. Mas essa é uma discussão que nos levaria para muitos caracteres. Uma coisa é certa: uma Europa Federal defenderá melhor os nossos interesses e proporcionará uma maior prosperidade aos seus cidadãos do que um Estado por si só consegue hoje oferecer.

É tempo de deixar os preconceitos e as ideias feitas de lado e debater de forma séria o nosso futuro. E o nosso futuro passa pelo eurofederalismo, seja por convicção seja por necessidade. Mas sem debates que dão notas, sem debates de dez minutos de antena nas televisões, sem debates que se focam no acessório e nos fait-divers.

 

(O autor escreve de acordo com a antiga ortografia)