A Iniciativa Liberal propôs a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito à gestão financeira e à tutela política da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, considerando imperativo investigar os “investimentos ruinosos” feitos desde 2015.

Em declarações à agência Lusa, a líder parlamentar da Iniciativa Liberal, Mariana Leitão, afirmou que o partido decidiu avançar com esta proposta por considerar que as várias audições que têm sido feitas no parlamento sobre a Santa Casa não têm “clarificado muita coisa”.

“O que percebemos é que, apesar de nenhum dos intervenientes e de todas as pessoas que foram às várias audições solicitadas até agora poderem dizer que não têm responsabilidades, nenhum assumiu as responsabilidades relativamente a este processo”, afirmou.

Mariana Leitão considerou que se verifica um “triângulo perverso” na Santa Casa, composto por “investimentos ruinosos”, que têm causado “prejuízos avultados”, uma “estrutura de custos completamente desfasada do que se espera de uma instituição com uma gestão eficiente”, e a permeabilidade “a interferências político-partidárias, nomeadamente por conta das nomeações e das várias chefias que existiam”.

Nesse âmbito, a Iniciativa Liberal decidiu apresentar uma comissão parlamentar de inquérito à “gestão financeira e à tutela política” da Santa Casa, cobrindo um período que começa em 2015, no final do governo de Pedro Passos Coelho, e vai até ao atual, liderado por Luís Montenegro.

Mariana Leitão explicou que a Iniciativa Liberal optou por este período por ser precisamente em 2015 que começou uma política de “investimentos ruinosos”, em particular através de um investimento em apostas hípicas, quando Pedro Santana Lopes era provedor da Santa Casa, que “deu prejuízos de vários milhões”.

“Queremos perceber não só esse investimento, como depois todo o processo de internacionalização, os vários investimentos que foram feitos em infraestruturas da Saúde”, disse, acrescentando que essa gestão da Santa Casa é “transversal a vários governos e também é da responsabilidade de vários provedores que foram gerindo a Santa Casa”.

A líder parlamentar da Iniciativa Liberal considerou imperativo perceber que avaliações de risco estiveram por detrás desses investimentos, o que os motivou e quais são os prejuízos que causaram à Santa Casa, “de forma também a perceber o que é preciso corrigir”.

“A verdade é que, ao longo destes anos, estas decisões foram sendo tomadas, os alarmes foram soando, mas nunca houve uma ação efetiva, concreta, com planeamento de médio, longo prazo, para resolver as questões financeiras”, afirmou.

Questionada sobre quem é que a Iniciativa Liberal admite chamar caso a comissão de inquérito seja aprovada, Mariana Leitão respondeu que deverão ser ouvidos “os provedores responsáveis por todos estes investimentos e os vários ministros da tutela” desde o governo de Passos Coelho.

“Esses parecem-me óbvios. Os primeiros-ministros dependerão também da informação e do nível de detalhe que se consiga chegar e, se se justificar, obviamente que tomaremos essa decisão de os chamar”, disse.

Interrogada sobre como é que espera que esta proposta seja acolhida junto dos restantes partidos, Mariana Leitão recordou que os requerimentos para audições sobre a Santa Casa foram aprovados com os votos favoráveis de vários partidos.

“Portanto, estamos confiantes de que, eventualmente, os restantes partidos também estarão disponíveis para que se faça esse escrutínio que é tão importante”, disse, recusando adiantar desde já se a Iniciativa Liberal vai procurar recolher as 46 assinaturas necessárias para impor este inquérito parlamentar.

“Logo veremos quais serão os próximos passos, de acordo também com aquilo que for a situação desta primeira discussão e votação”, disse.

Mariana Leitão defendeu que este inquérito parlamentar é importante do “ponto de vista da defesa do dinheiro dos contribuintes”, para perceber “o volume de prejuízos” que estes investimentos causaram ao Estado, mas também porque a Santa Casa é “uma instituição extremamente importante pelo papel social que tem e que é preciso salvaguardar”.

“E a melhor forma de salvaguardar a instituição é garantir que chegamos ao fundo da verdade relativamente a todos estes investimentos que foram feitos, aos prejuízos que já causaram, para se conseguir também corrigir e permitir que a Santa Casa tenha uma saúde financeira que lhe permita ter prosperidade”, afirmou.