Vêm sobretudo de África, mas também de países como a Síria, o Afeganistão e a Palestina e continuam a optar em maior número pela rota do Mediterrâneo Central. E desde 2016 que não eram detetados tantos migrantes ilegais nas fronteiras da União Europeia. O total dos primeiros 11 meses deste ano já ultrapassa o último ano completo. Foram 355.300 pessoas que passaram irregularmente as fronteiras europeias, mais 17% do que até novembro de 2022.
“O Mediterrâneo Central continuou a ser a rota migratória mais movimentada em 2023, com mais de 152.200 deteções comunicadas pelas autoridades nacionais nos primeiros 11 meses”, revela a Frontex. De acordo com a informação da agência europeia de fronteiras, trata-se do maior fluxo de entradas ilegais em sete anos registado nesta rota, que afeta sobretudo a costa italiana. Uma realidade que o governo de Giorgia Meloni não tem conseguido travar, levando à recente aprovação de regras mais duras para facilitar a detenção e expulsão de todos os migrantes ilegais com mais de 16 anos.
Também do outro lado do Mediterrâneo, o número de ilegais que tentam entrar na Europa pela Grécia e Chipre aumentou quase 50% em relação ao último ano, atingindo-se em novembro quase 52.600.
“As travessias marítimas continuam a revelar imensos perigos para as pessoas que se arriscam sobretudo pela perigosa rota do Mediterrâneo Central”, vinca a Frontex, apontando dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM) que dão conta de que “2.511 pessoas foram dadas como desaparecidas no Mediterrâneo só neste ano”.
Sírios continuam em fuga
De onde fogem? “As três principais nacionalidades em todas as rotas neste ano têm origem na Síria, Guiné e Afeganistão”, revela a agência. Desde que a guerra civil rebentou na Síria, em 2011, o número de deslocados não parou de crescer. De cordo com a Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR), mais de uma década passada, o conflito originou a maior crise de refugiados do mundo, estimando-se que mais de 7 milhões de sírios tenham já fugido do país. O que justifica que mais de um quarto dos migrantes ilegais que chegaram ao espaço europeu neste ano sejam desta nacionalidade.
De assinalar também é o aumento significativo de marroquinos, senegaleses e guineenses a tentar entrar na União Europeia. De janeiro a novembro, mais do que duplicou o fluxo de deslocações de cidadãos destes países detetado pela Frontex, num total de 32.422 pessoas. “Este aumento sem precedentes (+116%) é o maior desde que a agência começou a coletar dados, em 2009. E só em novembro, o número de chegadas disparou mais de 500%, em comparação com o mesmo mês do ano passado, para quase 4.700”, relata a Frontex, revelando preocupação com o crescimento exponencial da rota da África Ocidental.
A agência europeia de fronteiras garante que continua inabalável no “compromisso de salvaguardar as fronteiras da UE”, tendo atualmente cerca de 2.600 agentes e funcionários a trabalhar em diversas operações de controlo e tendo mesmo reforçado o contingente com mais 50 agentes “para apoiar a Finlândia no tratamento do número invulgarmente elevado de chegadas à sua fronteira oriental com a Rússia”.
Apesar dos esforços de maior controlo – que passaram mesmo pelo encerramento das fronteiras no mês passado, para travar o que o governo de Helsínquia acredita ser uma operação de retaliação russa -, de acordo com informações avançadas pela guarda fronteiriça finlandesa, desde agosto entraram perto de mil imigrantes ilegais no país, vindos em maior número de países como Somália, Iémen, Iraque e Síria.
Os dados revelados pela Frontex apontam ainda um movimento assinalável no fluxo de ilegais chegados pela rota dos Balcãs entre janeiro e novembro, com mais de 98.600 pessoas detetadas a tentar entrar no espaço da UE, mas que traduz, apesar de tudo, uma diminuição de 28% relativamente ao número registado no ano passado – “é a maior queda anual entre as principais rotas migratórias”, indica a agência.
Artigo publicado na edição do NOVO de sábado, dia 16 de dezembro