Se os custos de produção continuam a subir, não será de espantar que os preços nas prateleiras do supermercado se mantenham elevados. E mesmo a quebra na taxa de inflação não significa recuo, conforme explica ao NOVO o diretor-geral da APED, Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição. “Quando dizemos que a inflação está a reduzir-se, só significa que os preços aumentam menos, não quer dizer que baixem. Os preços continuam altos porque os fatores de produção continuam pressionados ou mesmo a aumentar custos”, confirma Gonçalo Lobo Xavier, apontando como exemplos “os transportes (e agora ainda mais), as matérias-primas (sobretudo as mais afetadas pela seca extrema, como os horto-frutícolas e azeite, o cacau e os cereais) e finalmente os salários”. “Claro que todos queremos um salário mínimo mais alto, mas isso tem consequências em todas as categorias e também no salário médio, impacta toda a cadeia de valor, desde a produção até à distribuição”, lembra o responsável, concluindo que o retalho alimentar está ainda, por esses motivos, muito pressionado. “O chocolate é quase um objeto de luxo”, exemplifica.
Mas então e as margens do sector – que até o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, afirmou estarem a subir? “O retalho alimentar é um negócio de volume, não de margem”, contesta Gonçalo Lobo Xavier. E explica porquê. “São muitas pequenas transações que obrigam a uma logística e eficiência constantes. A margem média da distribuição alimentar está nos 2% a 3%, como facilmente se pode ver nos relatórios e contas das empresas do sector, sobretudo cotadas.”
Em março, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) lançou uma grande campanha de fiscalização, tendo detetado subidas significativas em algumas lojas, nos preços da comida, numa altura em que a inflação já recuava. O ministro da Economia ameaçou até que, a verificar-se que os preços comportavam especulação por parte dos retalhistas, o governo seria “absolutamente inflexível”. Um ano depois, não há disso evidências.
“As empresas têm feito um enorme esforço para acomodar os aumentos, também por via do esmagamento das margens”, confirma o diretor-geral da APED, lembrando que por vezes se torna difícil baixar ainda mais. “Já há muitas campanhas, mas o equilíbrio e a concorrência até têm ajudado o consumidor, que no fim do dia tem enorme liberdade de escolha das suas opções. Daí que seja cada vez mais difícil fidelizar um cliente a uma só insígnia.”
Artigo publicado na edição do NOVO de sábado, dia 20 de janeiro