O Bloco de Esquerda forçou hoje a audição urgente da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, no parlamento sobre a regulamentação da lei da morte medicamente assistida, após um primeiro chumbo por PSD e Chega.

Numa nota assinada por Marisa Matias, o Bloco recorda que na terça-feira, na comissão parlamentar de Saúde, apresentou um requerimento para ouvir a ministra Ana Paula Martins sobre a regulamentação da lei da morte medicamente assistida.

“Esse requerimento foi rejeitado por PSD e Chega que, juntos, tentaram impedir o escrutínio do Governo”, acusam os bloquistas.

Face a este chumbo, o Bloco de Esquerda entregou hoje um requerimento potestativo para que a audição se realize de forma obrigatória e “seja fiscalizada a atuação da ministra da Saúde, que PSD e Chega tentaram proteger”.

O Bloco refere que a lei que regula as condições em que a morte medicamente assistida não é punível foi aprovada no dia 31 de março de 2023 e publicada a 25 de maio do mesmo ano.

“Está há mais de um ano por regulamentar, apesar de a própria lei definir um prazo máximo de 90 dias. O Governo, ao não cumprir com a tarefa de regulamentação a que está legalmente vinculado e obrigado, impede, de forma delatória, a plena aplicação e funcionamento de uma lei da República”, defendem.

O Governo disse, a 12 de setembro, estar a aguardar as conclusões do Tribunal Constitucional sobre dois pedidos de fiscalização sucessiva do diploma da eutanásia, antes de tomar qualquer ação sobre a lei, e recordou que o anterior executivo PS não a regulamentou.

No mesmo dia, um conjunto de personalidades divulgou uma carta aberta em defesa da regulamentação da lei da eutanásia.

São subscritores dessa carta, entre outras personalidades, Francisco Pinto Balsemão, ex-primeiro-ministro; Rui Rio, ex-presidente do PSD; André Coelho Lima e Teresa Leal Coelho, também do PSD; Rui Rocha, Mariana Leitão e João Cotrim de Figueiredo, da Iniciativa Liberal; Isabel Moreira, deputada do PS; Francisco Louçã, Catarina Martins e José Manuel Pureza, do Bloco de Esquerda; Rui Tavares, do Livre; Inês de Sousa Real, do PAN; e Heloísa Apolónia, d’Os Verdes.

Em março deste ano, a provedora de Justiça, Maria Lúcia Amaral, requereu ao Tribunal Constitucional a declaração de inconstitucionalidade da lei da morte medicamente assistida depois de ter recebido algumas queixas que considerou fundamentadas.

Antes, a 2 de novembro de 2023, um grupo de deputados do PSD entregou um pedido de fiscalização sucessiva da lei, pedindo ao TC que avalie a constitucionalidade da própria regulação legal da eutanásia, que consideram ir contra “o princípio da inviolabilidade da vida humana e a inexistência de um direito fundamental à morte autodeterminada”.

A lei da eutanásia foi promulgada a 16 de maio de 2023 pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, mas aguarda ainda regulamentação.

Trata-se da primeira lei portuguesa sobre esta matéria, que estabelece que “a morte medicamente assistida só pode ocorrer por eutanásia quando o suicídio medicamente assistido for impossível por incapacidade física do doente”.

O diploma resultou do quarto decreto aprovado pelo parlamento para despenalizar a morte medicamente assistida em determinadas condições, depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter enviado o primeiro decreto para o Tribunal Constitucional, em fevereiro de 2021, vetado o segundo, em novembro do mesmo ano, e enviado o terceiro também para fiscalização preventiva, em janeiro.