Uma moradia com três quartos e garagem para arrendar por 450 euros por mês. Será uma miragem? Habitação social daquelas atribuídas por concurso? Não, a oportunidade vem de um anúncio publicado há dias para Valpaços. No mesmo site, também por 450 euros encontra-se uma moradia T2 com uma pequena piscina em Idanha-a-Nova. E por 400 euros um T1 em Mértola. Quem quiser comprar casa em qualquer um destes concelhos também consegue encontrar moradias em boas condições por menos de 100 mil euros.

Estes concelhos, como muitos outros, têm casas relativamente baratas em abundância. Mas, além disto, há mais coisas que estes concelhos têm em comum: todos, apesar da habitação barata e do baixo custo de vida, perderam um quarto da sua população nos últimos 20 anos. Não foram os únicos: cerca de 40 concelhos perderam um quarto da população e cerca de 75 (um quarto do total) perderam pelo menos um quinto.

Isto teve um efeito no aproveitamento do parque habitacional do país. Casas que antes serviam famílias com empregos estão hoje abandonadas, mesmo que em bom estado. Neste momento há quase 30 concelhos em Portugal que têm mais casas do que habitantes. Idanha-a-Nova é o caso mais extremo, com 1,5 casas por habitante. Todos estes concelhos têm um enorme parque habitacional devoluto, casas abandonadas porque faltam oportunidades para as pessoas lá viverem.

Enquanto boa parte do território perdeu habitantes nos últimos 20 anos, a Área Metropolitana de Lisboa tem hoje mais 200 mil pessoas. As pessoas vão para onde existem oportunidades e essas estão cada vez mais concentradas numa pequena zona do país. É impossível desligar a crise da habitação da doença do centralismo.

Hoje, os nossos jovens desesperam por casas em Lisboa porque só aí têm oportunidades de emprego e carreira. Concentrámos todo o país numa pequena parte do território sem que a construção de casas acompanhasse essa concentração. Ao mesmo tempo, grande parte do território foi-se esvaziando, fazendo aumentar o número de casas desocupadas. Tanta gente sem casa na capital, tanta casa sem gente no interior. Tantas oportunidades onde não há casas e tantas casas onde não há oportunidades.

Na discussão da habitação é comum ouvir-se a pergunta: mas que solução imediata existe, não sendo possível construir casas de um dia para o outro? É, de facto, difícil encontrar soluções imediatas para um problema estrutural. No entanto, o melhor exemplo de uma medida que poderia ter efeitos rápidos na disponibilização de casas seria acabar com o centralismo doentio que empobrece e esvazia o país.

Até pode demorar muitos anos a construir as casas necessárias para combater a crise, mas há milhares de casas já construídas à espera de que se criem empregos e oportunidades perto delas. A solução imediata é esta: criar condições para que essas casas possam ser usadas por famílias em busca de oportunidades. Uma solução que não implica anos a construir casas novas: levemos as oportunidades para onde já existem casas, invertendo a grande migração interna dos últimos 20 anos.

Deputado da Iniciativa Liberal