A organização não governamental (ONG) Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) alertou para o que descreveu como uma perseguição sem precedentes de jornalistas, após as eleições presidenciais de 28 de julho na Venezuela.
O CPJ denunciou esta sexta-feira, 20 de setembro, que oito jornalistas foram presos sob acusação de terrorismo devido a reportagens que fizeram e uma dúzia de profissionais foram forçados ao exílio.
Um relatório sobre a situação da imprensa na Venezuela sublinha que “muitos meios de comunicação passaram para a clandestinidade” perante o sistemático assédio e ataques de altos funcionários do Governo do Presidente Nicolás Maduro.
O CPJ destacou o novo ministro do Interior, Diosdado Cabello, que, “sem provas, acusou várias plataformas digitais independentes de receber financiamento do tráfico de droga”.
“Desde as eleições, a situação piorou drasticamente: o Governo aplicou ‘blackouts’ na Internet e bloqueou plataformas de comunicação, enquanto os jornalistas têm de enfrentar decisões impossíveis para continuar a exercer a sua profissão”, afirmou o CPJ, citando as ONG Instituto de Imprensa e Sociedade da Venezuela e a Espaço Público.
O relatório divulga declarações de comunicadores que tiveram de abandonar a Venezuela após sofrerem ataques, entre eles três jornalistas que deixaram de assinar artigos por serem vítimas de campanhas de difamação nas redes sociais.
“Fazem-nos sentir como um criminoso ou um fugitivo da justiça”, disse uma jornalista ao CPJ, sublinhando estar a considerar deixar o jornalismo e fugir da Venezuela.
Entre os profissionais que tornaram público o exílio forçado está o fotojornalista Jesús Medina Ezaine, que abandonou o país no domingo, considerando que a sua segurança estava em risco.
Isto apesar de um juiz ter em junho rejeitado todas as acusações, após um julgamento que demorou seis anos, dos quais passou dois numa prisão.
Também o jornalista Luís Gonzalo Pérez divulgou um vídeo na quinta-feira, explicando que, por fazer parte da equipa de comunicação da líder da oposição María Corina Machado, tanto ele como a família estavam em risco.
O relatório reúne declarações de jornalistas que falam de crescentes dificuldades, mesmo quando garantem a condição de anonimato, para entrevistar fontes fiáveis e cidadãos comuns, porque estes temem represálias.
O CPJ tinha anteriormente alertado para a censura aplicada a vários portais na Internet de notícias e de ONG de defesa da liberdade de expressão. Várias estações de rádio foram encerradas e bloqueado o acesso a sítios de combate às notícias falsas.
“A liberdade de imprensa na Venezuela já estava em erosão muito antes das eleições, uma vez que o regime de Maduro tinha encerrado canais de televisão e estações de rádio, bloqueado portais de notícias, confiscado jornais, fomentado o medo e a autocensura nos seus 11 anos no poder”, disse a organização.
O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela atribuiu a vitória nas presidenciais a Nicolás Maduro com pouco mais de 51% dos votos.
A oposição venezuelana contesta os dados oficiais e alega que o seu candidato, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia – atualmente exilado em Espanha -, obteve quase 70% dos votos.
A oposição venezuelana e muitos países denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam apresentadas as atas de votação para uma verificação independente.
Os resultados eleitorais foram contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, com o registo, segundo as autoridades, de mais de 2.400 detenções, 27 mortos e 192 feridos.