Joana Coelho tem 36 anos, é médica desde 2012 e está de malas feitas para o Dubai, onde vai “ganhar seis vezes mais” do que ganha atualmente em Portugal.

O primeiro motivo que a levou a emigrar foi a recusa de a transferirem “do centro de saúde” onde trabalha presentemente para “o centro de saúde da área de residência”. Entre um e outro local distam 40 quilómetros.

“O que me fez pensar sair do SNS foi o facto de me terem negado essa transferência, portanto, de uma área carenciada para outra área carenciada por motivos familiares, por ter dois filhos pequenos. Fiquei um bocado zangada pela forma como fui tratada, mesmo com o diretor da ACES de Oeiras, área da minha residência, a alegar que teria 14 médicos a reformar-se no final do ano. Não foi tido em conta o facto de ter dois filhos menores e de claramente ter dado a entender que pretenderia rescindir se não me dessem a transferência”, diz ao NOVO.

Aí, Joana Coelho, médica de família com competência reconhecida pela Ordem dos Médicos em acupuntura, começou a “ouvir outras alternativas” e, numa “conversa entre amigos, surgiu a hipótese” do Dubai. Posto isto, contratou “uma empresa no Dubai” que tratou do “processo de licenciamento perante a Dubai Health Authority, um processo que demorou entre oito e dez meses”. E, agora, essa empresa iniciou contactos com hospitais. Apesar de ainda não ter “nada assinado”, Joana Coelho já visitou o Dubai com a família. Está agora na “fase das entrevistas”.

Depois fez uma “prova em inglês” e foi avaliada “por um painel de especialistas”. Ao fim de cinco dias atribuíram-lhe um grau “de especialista ou consultor”, que em Portugal “é quase impossível de conseguir porque há vagas limitadas”.

No Dubai, se tudo se efetivar, Joana Coelho garante que vai “ganhar, por alto, seis vezes mais”, mas “a partir do momento em que o médico tem a sua carteira de utentes, o salário-base aumenta exponencialmente com incentivos, porque qualquer ato médico é pago”.
A parte financeira é importante, mas Joana Coelho adianta que a medicina no Dubai “é muito desafiadora, porque está a crescer imenso, com muito investimento na medicina de ponta”. Sobre o SNS, admite não ter “grandes esperanças porque há uma degradação cada vez maior”. E dá o seu caso: “Eu consigo pagar o transporte de ida e volta para o trabalho e a creche dos miúdos, não sobra mais nada se não houver um privado. E se família não tiver dois elementos é impossível.” Por isso, salienta que não vê vontade “do Governo de criar condições para manter os médicos”.

A decisão de Joana Coelho já está a suscitar a curiosidade do seu círculo mais próximo: “Tenho vários colegas a dizerem-me: ‘Vai e conta-me como foi porque eu estou interessado.’ Sei de outros colegas que foram recentemente para a Irlanda, para França. Portanto, há muita gente interessada neste processo.”