Numa semana e meia, um caso de corrupção deitou abaixo um governo de maioria absoluta, o insuspeito governador do Banco de Portugal viu o seu nome arrastado pela lama, o Presidente da República anunciou que ia dissolver o Parlamento, mas adiando a concretização da decisão por meses, permitindo que o país inteiro espere que o PS se recomponha depois de oito anos de miserável e vergonhosa governação.

Nada que deva chocar-nos neste país que certamente virou sitcom quando não estávamos a reparar e que deve divertir à brava quem o acompanha. Imaginem o que se terão rido lá fora quando viram um ufano e inchado governador do Banco de Portugal dizer que era o eleito de primeiro-ministro e Presidente para nos safar de mais uma crise política – e depois não só ser sacudido como ideia impensável como obrigado a retificar a ideia, que afinal não fora elevado a putativo chefe de governo pelo chefe do Estado e que nem deixaria de ser aquilo que era.

Mas não se passa nada, que o país já entrou na arca frigorífica e é uma questão de (pouco) tempo até começar a congelar – e o governador, de volta ao seu lugar, apesar de a cadeira ter perdido uma perna, precisava de lançar o alerta de que a crise vem aí. Sem o dizer, claro, que nunca se sabe como esta coisa das eleições vai acabar e convém não ser muito alarmista… diga-se aos bancos que se previnam contra o pior e convença-se o povo de que ainda é possível continuar a viver com a maior carga fiscal de sempre, os juros em alta e a carteira espoliada pelo Estado em troca dos piores serviços públicos de sempre.

De resto, vai-se vivendo nesta comédia, com um governo demissionário e o seguinte adiado até que o PS se recomponha. O país pode esperar. Importante é que o Orçamento seja aprovado antes de fazer sair o homem que durante oito anos pôs debaixo da saia génios da governação como João Galamba, Eduardo Cabrita ou Pedro Nuno Santos. O líder que durante quase uma década paralisou o desenvolvimento de Portugal e não deixou sair uma única reforma, degradando para lá do limite o estado das instituições, ameaçando a saúde, a educação, a habitação – tudo quanto prometera mudar para melhor quando se sentou em cima da geringonça em 2015 e que, em 2024, estará para lá de destruído. O primeiro-ministro que sobreviveu a fogos dos mais mortais de que há memória, ao familygate, ao TAPgate, ao anúncio de um novo aeroporto que afinal não era mas não fez cair o ministro que o jurara, a inúmeros casos de justiça a sujar-lhe o currículo até à vergonha suprema de ter um chefe de gabinete que escondia 75 mil euros no próprio escritório onde trabalhava diariamente com António Costa.

Mas era importante votar o Orçamento, para garantir uma estabilidade no mínimo questionável quando se desenha para meros três ou quatro meses de vida, executado por um governo em gestão que o decidiu contra todos os outros partidos e contra a maior parte da sociedade civil. Um Orçamento que pretende trazer estabilidade mas que a ainda maioria absoluta quer agora modificar naquilo que eram bandeiras inabaláveis, como o IUC, de forma a torná-lo mais amigo dos eleitores que vão passar pelas urnas a 10 de março – e de novo a 9 de junho, não esqueçamos, porque as europeias vêm apenas um trimestre depois das legislativas e ninguém sabe, verdadeiramente, se por essa altura já haverá novo governo em funções.

Mas o que é importante é que se defina o PS no pós-Costa antes de avançar com as eleições que podem dar um governo e um novo rumo ao país. Ou não, porque sabe Deus o que aí vem – e com quem… Por muito que haja quem tente vender-nos esforços de moderação, todos sabemos que os ímpetos são o que são, incontroláveis. Sobretudo quando impressos no ADN de um radical.

Aí é que vai ser rir a bom rir desta sitcom que se tornou Portugal.

Diretora