António Costa e Silva, num recente artigo no Público, veio chamar a atenção para as cassandras catastrofistas que andaram a chamar a atenção para os problemas económicos do país nos últimos anos. Segundo o próprio, a narrativa de que Portugal está estagnado e que se anda a atrasar em relação aos países do Leste é falsa.

Comecemos por onde António Costa e Silva tem razão: Portugal não tem o pior PIB per capita da União Europeia. Não sei onde o ex-ministro terá lido isso (apesar de escrever que essa notícia “varreu a comunicação social”, o ministro não avançou nenhuma fonte onde essa mentira tenha sido escrita, nem eu a consegui encontrar), mas onde quer que o ex-ministro tenha visto essa notícia, ela é, de facto, errada. Portugal também não foi, ainda, ultrapassado pela Roménia, uma previsão que tinha sido feita pelos organismos europeus, e não por opositores internos interessados em deitar abaixo.

Sobre o crescimento económico de longo prazo, vamos aos factos. No ano 2000, Portugal tinha um PIBpc (a paridades de poder de compra e preços constantes, a medida que irei usar no resto do texto) correspondente a 85% da média da União Europeia a 27. Nessa mesma altura, Portugal tinha mais do triplo do PIBpc da Roménia e mais do dobro da Estónia, Letónia e Lituânia. O PIBpc era também 76% acima da Polónia e 67% acima da Eslováquia.

Em 2021, o PIBpc de Portugal tinha descido de 85% da média da UE para apenas 75%, quando aquilo que se espera de um país pobre é que se aproxime. De mais do triplo do PIBpc que tinha em relação à Roménia, passou a ter apenas uma pequenina diferença de 3%, uma tendência que alimentou a expetativa legítima de que seria ultrapassado em breve. Em relação aos outros países, o PIB per capita de Portugal passou de ser:

  • 134% acima da Letónia para apenas 9% acima;
  • 124% acima da Lituânia para 16% abaixo;
  • 101% acima da Estónia para 13% abaixo;
  • 76% acima da Polónia para 2% abaixo;
  • 67% acima da Eslováquia para apenas 3% acima, depois de ter passado alguns anos abaixo.

Depois em 2022 aconteceu algo: a invasão da Ucrânia pela Rússia. Grande parte dos países da Coesão passaram a ter uma guerra à porta, sendo que em alguns casos a possibilidade da guerra entrar nas suas fronteiras é cada vez mais real. Muitos desses países envolveram-se bastante no esforço de guerra, seja financiando esse esforço, seja recebendo grandes contingentes de refugiados. Não menos importante, a guerra prejudicou-os pela via do custo acrescido da energia, muito mais do que Portugal, especialmente considerando que são países com invernos bem mais rigorosos do que Portugal e dependentes do gás para aquecimento.

Foi nesse momento que existiu uma viragem: Portugal voltou a afastar-se ligeiramente da Roménia e da Letónia e conseguiu ultrapassar ligeiramente a Polónia e a Estónia. Em relação a 2000, Portugal continua a ter um crescimento muitíssimo menor do que qualquer daqueles países. Mesmo em relação a 2015, Portugal só cresceu mais do que a Eslováquia até 2023.

Com o abrandamento económico dos países de Leste após a invasão da Ucrânia, o ex-ministro também se pode “orgulhar” de Portugal ter crescido tanto como a Estónia entre 2015 e 2023, mas não sei se é grande motivo de orgulho. Afinal, aquilo que estará a admitir é que os efeitos nefastos na economia de uma governação socialista durante oito anos são semelhantes ao de ter uma guerra à porta durante dois anos. Não sei se é grande motivo de orgulho, mas cada um sabe de si.

Depois de 20 anos em que Portugal perdeu por muito para as economias de leste, o ex-ministro da Economia do PS pode finalmente celebrar um crescimento ligeiramente acima dessas economias nos últimos dois anos. Tudo o que foi necessário foi essas economias terem uma guerra à porta. Não sei é se é grande motivo de celebração o facto de ter uma guerra à porta ser ligeiramente pior para a economia do que ser governado pelo PS.