O diretor-nacional da Polícia Judiciária (PJ), Luís Neves, esclareceu esta terça-feira que os inspetores que realizaram as buscas na Madeira, na sequência de suspeitas relacionadas com corrupção, viajaram sozinhos para a região, rejeitando que os jornalistas tivessem tido conhecimento prévio da megaoperação que culminou com a detenção do então presidente da Câmara Municipal do Funchal, Pedro Calado, e de dois empresários.

“A PJ viajou sozinha para a Madeira, sem Ministério Público (…) e sem jornalistas”, disse o responsável, em conferência de imprensa marcada para o início da tarde desta terça-feira, em Lisboa, negando fugas de informação. Referindo-se a notícias falsas que foram sendo divulgadas, Luís Neves explicou que o transporte dos investigadores, assim como a operação, foi preparado “dias antes do seu cumprimento” entre a PJ e o Estado-Maior da Força Aérea, “num mais completo sigilo e com total respeito pelo segredo de justiça”.

“A PJ não se revê e nunca se reviu na fuga de informação e procura evitar que ela possa ocorrer”, acrescentou o diretor-nacional, garantindo que a “comunicação social não teve conhecimento antecipadamente da operação e não acompanhou nenhuma das buscas realizadas logo a partir das sete da manhã”. Prosseguindo, Luís Neves assegurou que não houve recolha de imagens da entrada da PJ no governo regional, em qualquer secretaria ou na câmara municipal”.

Já sobre o planeamento operacional, o diretor-nacional da PJ disse que quem “avalia as condições humanas, objetivas e logísticas de uma operação”, através de “ponderações de segurança, eficácia e eficiência”, é a Polícia Judiciária. E, tendo em conta o princípio da proporcionalidade, “a PJ fez deslocar para a Madeira 140 inspetores e dez especialistas de polícia científica, e não 300 inspetores, como erradamente foi noticiado em diferentes órgãos de comunicação social”, revelou o responsável.

Relativamente ao timing da operação, Luís Neves afirmou que toda e qualquer investigação está sujeita a formalismos e a regras processuais que “não se compaginam com especulações mediáticas”. “Na verdade, uma operação desta envergadura requer muito tempo de preparação, porque é preciso recolher informação sobre dezenas, se não mesmo centenas de locais e moradas a reconhecer, e rotinas dos autos a carecer de trabalho minucioso e rigoroso, que leva meses”. Luís Neves rejeita, assim, qualquer interferência na autonomia da PJ perante o contexto político pré-eleitoral que se vive no país.

O diretor-nacional da PJ continuou esclarecendo que a necessidade da realização da operação judicial na Madeira foi planeada no final de  setembro último e, “para tal, foram emitidos dez mandados de buscas a cumprir na Região Autónoma da Madeira, sendo que no Continente foram cumpridos 25”.