O MEO Kalorama arranca na próxima semana para a terceira edição, de 29 a 31 de agosto, com Massive Attack, Soundsystem e Jungle entre os cabeças de cartaz. Diogo Marques, diretor do festival e da Last Tour Portugal, explica ao NOVO a vontade de tornar o Kalorama no festival do centro de Lisboa e promete grandes concertos de grandes bandas no nosso país em 2025.

Entusiasmado para esta terceira edição do Kalorama?

Sim, muito entusiasmado! É a afirmação do Kalorama enquanto festival anual de Lisboa. O que pretendemos é afirmar-nos, cada vez, mais como o festival da capital, que todos os anos realiza em Lisboa, porque somos o único propriamente dito dentro da cidade. Esperam-se três dias incríveis…

O Kalorama começou mais cedo, com uma série de sunsets ao longo de de julho e agosto. Porquê estas atividades?

Com esta nossa visão de transformar o Kalorama, cada vez mais, como um elemento da cidade, como uma atração da cidade, resolvemos dar conteúdo aos lisboetas e a quem visita a cidade de Lisboa. Criámos o conceito MEO Kalorama on Tour, que pretende ter um conjunto de diferentes datas, com experiências diversas… Temos um sunset na praia, temos um sunset na cidade, temos ativações nos bairros, em todos os meios de transporte da cidade, nos comboios, nos barcos, no elétrico… Vamos levar a toda a gente um bocadinho de música, de animação, de cultura, de forma democrática, em que todas as pessoas possam assistir, ter uma experiência diferente e, de certo modo, temos uma divulgação do festival de uma forma interativa.

No ano passado falou-se da possibilidade de o Kalorama passar para o Parque Tejo, como o fez o Rock in Rio este ano, mas acabou por não acontecer…

Primeiro, porque temos um motivo muito forte que nos une e esta a esta localização. Kalorama é um calão grego que quer dizer “bela vista”… Estamos aqui com esta bela vista dentro da Bela Vista e, para nós, o festival fazia sentido no centro da cidade, como é o caso, no Parque da Bela Vista. Depois, todo o nosso projeto social está muito ligado aos bairros aqui à nossa volta  E temos toda uma política de sustentabilidade e de cuidado do parque que está assente aqui. Portanto, para nós, não faria sentido… Firmámos um protocolo com a Câmara de Lisboa por mais duas edições aqui e queremos continuar a cuidar do espaço. Queremos continuar a cuidar das pessoas e a ser o festival anual do centro de Lisboa. É esse o nosso objetivo.

Que tipo de iniciativas têm para a comunidade?

Temos muitas! Desde o apoio à música e às associações que promovem a música. Em todas as edições temos um conjunto de artistas do bairro a quem damos a primeira experiência num festival. Têm a primeira experiência com um rider técnico, com um rider de hospitality, ou seja, chegarem ao camarim e perceberem que tudo o que está ali foi preparado para eles. Recebem um cachet por vir tocar , têm um contrato, um seguro… Tudo isto é novidade e apoiamos muito a associação Chelas é o Sítio, do Sam The Kid, que tem esse intuito: apoiar a música, apoiar a música do bairro e trazê-la um pouco até ao festival, democratizá-lo e a todos essa vertente. Depois temos concertos e parcerias diversas, em que muito do que produzimos no festival é doado. Temos um apoio comunitário, em que todas as refeições que são recolhidas no final de cada um dos dias são doadas à população. Ajudamos também a Associação Jorge Pina em diversas atividades que eles têm. Estamos presentes em ações de sensibilização, desde sensibilização ambiental até à parte da separação de resíduos. Fizemos uma ação recentemente nos bairros, com a distribuição de kits para que as pessoas saibam como dividir os lixos. Junto das escolas também fazemos várias ações de sensibilização e de manutenção do parque. Fizemos a montagem e a colocação de ninhos para pássaros, criámos hotéis para insetos, fizemos plantação de árvores no parque, que, até ao final do ano, vão ser cerca de mil. Estamos em constante atividade com os bairros, ouvimos sobre o que eles vêem que pode ser melhorado no parque. Temos, no protocolo que temos com a câmara municipal, vários benefícios que vamos fazer no parque, não só em termos de máquinas, para poder trabalhar aqui os terrenos, como a nível de mobiliário urbano, para facilitar e para melhorar a vida de quem aqui está e quem utiliza o parque durante todo o ano.

Houve algumas críticas durante a primeira edição, o ano passado o festival correu bastante melhor. Que melhorias foram feitas para este ano?

As críticas basicamente tiveram a ver com a permanência da utilização do parque. Quando o Kalorama foi criado, coincidiu com o ano do Rock in Rio na Bela Vista. O que aconteceu? Houve uma coincidência de estruturas do Rock in Rio, que, na nossa ótica de reutilizar todos os materiais, optámos por deixar algumas delas montadas, que estiveram, durante alguns meses, a ocupar o parque. O parque esteve aberto, mas havia zonas limitadas. Essas críticas surgiram por isso. Já o ano passado não tivemos críticas e vamos seguir essa política. Iniciamos as montagens no início de agosto, mas vamos montando faseadamente e em zonas em que não influencia a vida do parque. O parque só está efetivamente fechado três dias, que são os três dias do festival. As pessoas podem ir acompanhando também tudo o que vamos fazendo no parque. Todas as zonas de lazer e de passeios estão abertas e estão funcionais e, portanto, o impacto é mínimo para o quotidiano do parque. Em termos de alterações do ano anterior para este, a única coisa que fizemos foi mais por causa dos solos. Colocámos uma semana a mais de montagens para evitar que as viaturas e as máquinas sobrecarreguem os solos. O que vai acontecer é que vamos montar mais lentamente e mais faseadamente para que tenha menos impacto. Apenas isso.

O Kalorama tem apresentado, desde o primeiro ano, cartazes bastante fortes em termos de bandas. Como é feita a curadoria deste festival?

A Last Tour tem uma equipa muito grande de booking que faz o agendamento de todos os artistas do grupo para os vários festivais que temos em Espanha, para o Kalorama e para os outros concertos que temos em Portugal. A curadoria é feita tendo em base o conceito que desenvolvemos para um festival. O Kalorama diferencia-se por ser um festival para amantes de música. Quem vem vem pela música que nós trazemos, pelos artistas que trazemos, e o que pretendemos é que seja um cartaz para todos. Um cartaz completamente inclusivo, com muita presença feminina, de vários géneros musicais, é completamente democrático. Esse é o nosso foco principal, que as pessoas que vêm ao Kalorama venham para ouvir uma boa música, para se sentirem bem com os seus amigos… O conceito baseia-se nisto, tendo em conta toda a decoração com as curadorias que temos, com a Underdogs, com toda a parte sustentável e social que também desenvolvemos, toda a questão das acessibilidades que temos. Este ano fechámos parcerias com os transportes urbanos de Lisboa, em que as pessoas têm bilhetes com desconto para vir para o festival. Oferecemos o bilhete aos acompanhantes de mobilidade reduzida… Temos um conjunto de questões nesta área do social e do sustentável que também fazem parte do conceito de todo do festival. O que pretendemos, cada vez mais, é afirmar o Kalorama como um festival inclusivo, um festival para todos, o festival do centro da cidade, com boa música, sempre nesta linha e sempre com uma curadoria muito firme e no mesmo sentido.

Este ano há o primeiro Kalorama, em Madrid. Como fazem a partilha dos artistas entre os dois festivais, uma vez que acontecem os dois no mesmo fim de semana?

Somos o primeiro festival português que se internacionalizou. Vamos estar nas duas capitais da Península Ibérica, nas mesmas datas, nos mesmos dias e fazemos um cross-selling entre artistas. O artista que está aqui no primeiro dia passa para Madrid e o que está em Madrid vem para Lisboa. Estamos na estrada, como sempre, com umas dezenas largas de artistas em que combinamos os dias. Sendo a mesma produtora e os mesmos artistas, é só uma questão logística e de gestão de transportes e dos artistas. Conciliamos isso de forma muito fácil e natural.

Quantas pessoas esperam este ano?

O que nós esperamos é sempre à volta das 100 mil pessoas por cada edição. Não queremos que seja um festival muito grande, de massas… Pretendemos sim, que tenha esta lotação, até 40 mil pessoas por dia, e que as pessoas consigam usufruir da melhor música no espaço que desenvolvemos, com os quatro palcos, com um passeio pelo parque a ouvir as melhores músicas… As pessoas conseguem ir descobrindo os vários cantos que o parque tem, toda esta beleza natural e este anfiteatro proporciona isso. As pessoas que queiram estar no palco MEO estão a ouvir uma determinada música, se quiserem ir para o Panorama, que é o palco mais próximo, conseguem estar a ouvir música eletrónica diferente do que está a acontecer no palco principal… Temos pela primeira vez e também para o ano o palco Lisboa, também nesta ótica de atrair cada vez mais os lisboetas, dar visibilidade também exterior à marca Lisboa. Temos também o Palco São Miguel, que está no topo da colina, oposto ao palco MEO, que toca de forma alternada, mas que proporciona uma experiência bastante agradável, porque as pessoas conseguem transitar entre palcos sem que o som interfira de um palco para o outro… Tudo está estudado nesse sentido e o que pretendemos é que as pessoas tenham aqui uma verdadeira experiência musical. E é para isso que trabalhamos todos os dias.

Algum nome que gostasse de ver atuar no Kalorama e que não tenha conseguido ainda contratar?

Há muitos! (risos) Eu já tenho vinte anos de festivais, no entanto, a Kalorama só tem três… Há muitos artistas que gostaríamos de ver aqui. Tentamos, a cada ano, surpreender e trazer, como já trouxemos, os Arctic Monkeys, Arcade Fire, Florence and the Machine, que foi o concerto do ano… Trouxemos muitos, muitos deles este ano. Massive Attack, LCD Sound System, Jungle, que estiveram também connosco num festival que fazemos em Espanha. Vão ser. Vão ser incríveis! Mas há sempre muitos artistas que queremos trazer, mas depende da disponibilidade. Estão em estrada? Depende de o routing coincidir com as nossas datas. Mas trabalhamos sempre, sempre, sempre para trazer o melhor cartaz possível.

O que quer muito ver este ano?

Este ano quero muito ver Jungle, LCD Soundsystem. Estou muito expectante de ver Raye no último dia, porque ganhou todos os prémios em Londres e está incrível, está com uma projecção muito boa. Massive Attack já vi várias vezes, fazem sempre concertos incríveis… Estes são assim os principais…

Falámos há pouco da vontade de querer ser o festival da cidade de Lisboa. Quais são os grandes desafios de organizar um festival de verão quando há tanta oferta?

Isso é uma boa pergunta. Em toda a minha vida relacionada com isto, fiz festivais de verão durante todos esses anos e quase sempre no final de agosto. Por um lado, é um problema, quando estamos a falar da capital do país, em que as pessoas vão para fora. Hoje atravessamos a ponte em dez minutos, durante todo o ano demoramos uma hora. Neste momento, o grande desafio é como atrair as pessoas a um festival final de verão, em que as pessoas já tiveram o verão todo em festas, em outros festivais, em tudo. Aqui temos muito o festival do reencontro e é isso que nós notamos. Que as pessoas vêm bronzeadas, vêm divertidas, vêm encontrar os seus amigos, vêm como que fazer o último brinde do verão antes da rentrée, antes de começarem uma nova época, seja quem tem filhos, que começa a parte escolar, seja quem tirou de férias o mês de agosto e vai começar a trabalhar. O maior desafio de fazer um festival na cidade e no final do verão é atrair as pessoas e ter um conteúdo bastante forte, para que as pessoas se identifiquem e queiram vir em massa ao festival.

A Last Tour é uma promotora recente em Portugal, mas tem feito grandes concertos, como a Taylor Swift, e vai trazer a Nick Cave… Qual é a grande aposta da Last Tour para o nosso país?

A Last Tour é uma empresa que tem trinta anos. É uma empresa internacional, que tem escritórios de representação em quatro cidades espanholas e presença na América do Sul, e estamos em Portugal desde 2022. Na sua política de expansão ibérica, faz parte da estratégia, quando se consegue negociar um artista, poder oferecer mais do que uma data. Já fazemos isso em Espanha com os escritórios que temos em Barcelona, em Madrid, em Bilbau, em Pamplona, já fazemos esse cruzamento. Portugal faz parte dessa estratégia de expansão, que é poder oferecer pelo menos mais uma ou duas datas. Lisboa e Porto fazem parte das tours e, assim, a Last Tour tem maior força negocial, consegue trazer outro tipo de artistas, como o caso, por exemplo, da Taylor Swift e outros que vamos trazer… Desta forma, o que pretendemos é afirmarmos como uma promotora ibérica, completamente centrada na música, na música ao vivo. Esse é o nosso objetivo: crescer nesse nesse segmento em Portugal, que tem efetivamente ainda pouca expressão. Fazemos centenas de concertos anuais e em Portugal já vamos com umas largas dezenas. O objetivo é conseguir oferecer cada vez mais ao público português bons concertos, tendo em conta esta nossa política de agregar e trazer para Portugal artistas que de outra forma não viriam. Tivemos o Marc Anthony agora no MEO Arena. Se não existisse esta cooperação ibérica, não viria a Portugal. Isso acontece com muitos outros e grandes novidades vão chegar em breve, grandes artistas que vamos trazer para 2025, que também fazem parte desta nossa política ibérica de atração de artistas para Portugal e Espanha.