Pôr Portugal a crescer com ambição implica conhecer os parâmetros que têm impedido o país de avançar. E por isso a Associação Business Roundtable Portugal (ABRP) lançou, nesta semana, uma plataforma que toma diversos indicadores e expõe a comparação entre o país e outros com os quais devemos querer comparar-nos – de Espanha a Estados-membros mais recentes, que têm vindo a ultrapassar-nos (ler mais ao lado). Ao NOVO, o secretário-geral, Pedro Ginjeira do Nascimento, explica os objetivos do Comparar para Crescer.

A Associação BRP tem estado, neste arranque de ano, a promover ativamente ferramentas que possam empurrar o país para o crescimento. Porque decidiram assumir essa missão?
O país parece adormecido para o facto de que, nos últimos 23 anos, crescemos apenas 23%, quase metade da média dos países europeus e quase um terço do que cresceram os países concorrentes. Por isso mesmo divergimos da Europa e fomos ultrapassados, passando da 15.ª para a 21.ª posição em riqueza per capita. Na Associação Business Roundtable Portugal acreditamos que o país pode e deve ser muito melhor.

E este movimento pode ajudar a concretizar essa ambição?
Através das medidas adequadas é possível, em cerca de duas décadas, voltar a colocar Portugal no ranking dos 15 países com maior PIB per capita da União Europeia (em paridade de poder de compra). Mas para isso, temos de crescer em média 3,9% ao ano e colocar a criação de riqueza de novo no centro dos objetivos do país. É preciso medidas adequadas para devolver o desejo aos portugueses de empreender, criar e investir. E ter esperança numa vida melhor.

Os temas em foco não são novos: produtividade, peso dos impostos nos salários e nas empresas, necessidade de imprimir mais velocidade ao crescimento para não ficarmos na cauda da Europa… Têm levado também estes temas aos decisores políticos?
Os temas não são novos, mas parece que gostamos mais de discutir os problemas do que de tomar as rédeas da ação. Antes de mais, precisamos de dar um choque de ambição que acorde o Portugal adormecido e devolva a esperança a todos num futuro melhor. No início do mês, apresentámos o nosso Manifesto por um Portugal mais justo, próspero e sustentável, que elenca um conjunto de medidas práticas para que Portugal possa criar mais riqueza e acelerar o crescimento económico e social. Não é uma longa lista de dezenas ou centenas de medidas, mas propostas selecionadas sobre o que nos parece mais importante para destravar a criação de riqueza. Estamos abertos a debater este documento com todos os partidos interessados. Temos tido uma postura de abertura nos vários temas.

Mas não seria desejável que a sociedade civil tomasse esta missão em mãos, em lugar de ficar à espera de medidas públicas?
Portugal não se faz por decreto e tão pouco se faz sem a sociedade civil. Todos juntos – pessoas, empresas e Estado – temos a possibilidade e a responsabilidade de contribuir ativamente para o desenvolvimento do país. Esta transformação começa em cada um de nós, mas depende também de uma ação coletiva. Desde logo, não podemos aceitar que o país está condenado a não crescer e a descer no World Competitiveness Ranking, onde estamos no 39.º lugar, tendo caído 11 posições desde o início do século. Tão pouco podemos aceitar como destino que a economia portuguesa só possa crescer 23% no período 2000-2022 cerca de 1% ao ano, ao contrário de outros – Espanha cresceu quase o dobro e há um conjunto de oito países europeus que em 2000 tinham um PIB per capita próximo do português (Itália, Espanha, Grécia, República Checa, Polónia, Hungria, Estónia e Eslováquia) e que viram o PIB real subir quase três vezes mais.

E o que se pode fazer contra essa resignação?
Aos portugueses pede-se que não aceitem este triste fado, não desistam de Portugal e apostem no reforço das suas qualificações, no seu crescimento pessoal e profissional e em empreender. E o tecido empresarial também tem de dar o salto, profissionalizando a gestão e procurando internacionalizar-se, investindo em investigação e em marca para aumentar o valor acrescentado. Precisamos que as pequenas empresas se tornem médias, as médias grandes e as grandes globais. Desta forma, será possível criar mais riqueza, competir de igual para igual em mercados mais competitivos, dar novas oportunidades às nossas pessoas e pagar melhores salários. Por último, ao Estado exige-se que coloque a criação de riqueza no topo das prioridades nacionais e que reduza os custos de contexto, com o sentido de urgência, criando condições para acelerar o crescimento económico e social do país.

De que forma pode o conhecimento trazido por estes indicadores que se apresentam na nova plataforma servir de base à mudança?
Esta primeira versão do Comparar para Crescer sistematiza 30 indicadores que mostram de forma muito clara e visual a posição competitiva factual de Portugal em diversas áreas. Trata-se de uma ferramenta que, sem qualquer ideologia, visa democratizar o acesso à informação de cariz económico, permitindo que, num país penalizado pela baixa literacia financeira, todos possam compreender estes factos e formar a sua própria opinião sobre o país que temos, sobretudo pela comparação de Portugal com outros países. E aqui quisemos ser muito pragmáticos e centrar a comparação nos países que estavam mais próximos de Portugal no ano 2000, a que chamamos países concorrentes, onde se incluem Espanha, Itália e Grécia, mas também outros que entraram mais tarde na UE (República Checa, Polónia, Hungria, Eslováquia e Estónia) e que tiveram um desempenho assinalável. Andamos há várias décadas a discutir problemas como a fraca produtividade da nossa economia, os baixos salários ou o enorme peso da fiscalidade sobre as empresas e as famílias. Acreditamos que o Comparar para Crescer será uma importante ferramenta para mostrar que Portugal pode e deve ser muito melhor. Ao evidenciar o desempenho comparativo, esperamos incentivar a discussão dos caminhos de diferenciação e crescimento, contribuir para um debate mais centrado nos factos e para um reforço do sentido de urgência para a transformação de Portugal.

A ambição como desígnio foi já o mote do Manifesto de que falámos há pouco. As empresas da Associação BRP estão motivadas a introduzir também elas que tipo de alterações capazes de provocar a mudança?
A ABRP entende que a única forma de tornar Portugal mais justo, mais próspero e sustentável será acelerando o crescimento económico e social do país. Trabalhamos lado a lado com várias entidades e empresas na conceção e concretização de propostas centradas nos interesses das pessoas e das empresas. Esse é o contributo que os nossos associados querem dar ao país. Só assim será possível criar melhores condições para atrair e reter o nosso talento, seja através de novas oportunidades e de melhores salários, aumento do poder de compra ou alívio da carga fiscal. Para isso, é necessário incentivar a criação de riqueza, promover e celebrar o sucesso e implementar medidas concretas que permitam alcançar essa meta de forma sustentável, com um setor empresarial reforçado, com empresas maiores e mais competitivas. Para tal, também necessitamos de um Estado eficiente e promotor da igualdade de oportunidades.

O facto de contarem com o apoio de grandes grupos – que produzem mais riqueza e garantem mais emprego – é fundamental. Que tipo de medidas têm sido por estes implementadas para assegurar os objetivos propostos?
Os números falam por si. No conjunto, os 40 associados da ABRP faturaram em 2022 globalmente mais de 124 mil milhões de euros, o que representa um crescimento de 51% face ao valor registado em 2020. Portugal, nesse mesmo período, cresceu (nominalmente) 21%, cerca de 40%. Representamos 424 mil empregados, dos quais 216 mil em Portugal a quem pagam duas vezes o salário médio do sector privado. Tivéssemos nós mais empresas a pagar duas vezes o salário médio e este seria bastante superior ao que é. Por isso, afirmamos que temos como um dos objetivos instrumentais para pôr Portugal a crescer muito mais que as pequenas empresas se tornem médias, as médias cheguem a grandes e estas a globais. Acreditamos que Portugal pode e deve ser muito melhor e isso depende do que cada um de nós – nas nossas vidas e nas nossas empresas – faça de diferente. Acreditamos em Portugal e desafiamos todos para que possamos ter um país mais desenvolvido, mais justo e mais sustentável.

Artigo publicado na edição do NOVO de sábado, dia 27 de janeiro