João Lourenço discursava na abertura do 2.º Conselho da República, órgão consultivo que se reúne para discutir assuntos importantes para o país, dedicada hoje ao tema da segurança alimentar.

Salientou que o governo quer continuar a apoiar a agricultura familiar e que o surgimento de novos municípios no âmbito da Divisão Política administrativa (com a qual Angola passara de 18 para 21 províncias e de 164 para 324 municípios), permitirá continuar a construir escolas postos médicos e outras pequenas infraestruturas no meio rural para “fixar as famílias ali residentes e atrair as que se encontram ansiosas e desempregadas nas cidades para aumentar a força de trabalho no campo”

“O executivo, partidos políticos, igrejas e sociedade civil devem repudiar o discurso negativista e tomar a dianteira no encorajamento das famílias camponesas pelos bons resultados do trabalho que a agricultura familiar apresenta hoje em todas as províncias”, prosseguiu.

O Presidente angolano afirmou que o sucesso da luta contra a fome e a pobreza “não depende do aumento das importações ou da política fiscal e cambial”, mas sim de uma maior oferta de alimentos produzidos localmente.

“Portanto o segredo é trabalharmos mais e com melhores práticas de cultivo para tirar o maior rendimento possível por hectare”, salientou, lamentando que quase nunca sejam homenageados “aqueles que de sol a sol se curvam de enxada da mão para garantir que não faltam os alimentos na mesa dos angolanos”.

A agricultura familiar contribui com mais de 80% dos produtos alimentares da cesta básica angolana, composta por 16 produtos, muitos importados, com os quais Angola gasta 200 milhões de dólares/mês.

“Com a paz de que desfrutamos há 22 anos o campo de batalha de hoje devem ser os campos agrícolas onde fazendeiros e camponeses com o seu abnegado trabalho extraem os produtos alimentares que nos precisamos de continuar a importar temos de olhar para as famílias camponesas com outro respeito e consideração (…) por nos proporcionarem o pão nosso de cada dia, o país já está a produzir bastante mas não o suficiente”, instou João Lourenço.

O chefe do executivo angolano apresentou aos conselheiros um ponto de situação em matéria de segurança alimentar e produção nacional, destacando que as políticas do executivo visam estimular a produção interna de bens alimentares e reduzir as importações.

“A nossa ambição e ver os produtos da cesta básica e da reserva estratégica alimentar constituídos essencialmente por produtos produzidos, transformados e embalados localmente”, salientou, estimando que os fertilizantes e vacinas para animais passem a ser produzidos localmente até 2027 com o arranque da indústria de fertilizantes no Soyo e a conclusão do centro de vacinas no Huambo.

O executivo está também apostado em criar mais matadouros, plataformas logísticas e unidades de descasque de arroz e trigo e silos de armazenamento, não só no Corredor do Lobito mas também noutros locais estratégicos para absorver a produção nacional de cereais e grãos como milho, arroz, trigo, sorgo e soja.

João Lourenço falou sobre a redução considerável de importação de carne bovina “que exauria as divisas” (segundo dados do governo a importação de carne bovina, reduziu-se em 43% no ano passado) e salientou que os grandes projetos de infraestruturas no Cunene e futuramente no Namibe e na Huíla no quadro do combate aos efeitos da seca não se destinam apenas a salvar vidas humanas, mas devem também servir para produzir alimentos e peixe em larga escala.

“Estamos a falar de uma capacidade de armazenamento de 1.896 milhões de metros cúbicos de água de 440 quilómetros de canais” quando os quatro projetos em curso da província do Cunene estiverem concluídos no próximo ano.

O Conselho da República integra 23 personalidades, incluindo líderes políticos e religiosos, empresários e jornalistas, a maioria ligada ao MPLA (partido do poder).