Segundo dados do Ministério do Trabalho em 2022, 56% dos trabalhadores em Portugal recebiam menos de mil euros por mês. Se forem jovens, o número sobe para 65%.

Imagine um jovem que sai da casa dos pais e recebe, miraculosamente, mil euros/mês. Viver em Lisboa ou perto é ilusório: qualquer renda de um T1 é superior ao seu salário. Imagine outro milagre: encontra um T0 numa vila recôndita (percorre três ou quatro horas de transportes públicos com passe de 40€) a 400€/mês. Água, luz, telemóvel com internet, tudo ronda algo como 150€, estimativa por baixo. A chatice é que tem de comer: o cabaz alimentar mínimo custa 211€, partindo do pressuposto que a pessoa não é comilona. Não tem carro, não precisa de se preocupar com o seguro, a revisão, o IUC, o Medina, etc.

Se levar marmita e não gastar dinheiro a almoçar fora, mas vá, fizer a loucura de tomar um café por dia, gasta 30€ em cafés. E não pode ter mais vícios: tabaco está fora do alcance, vinho, cerveja ou bebidas espirituosas, nem louco. Ir ao ginásio está fora de questão – poupa na mensalidade, vá.

Casar, ter filhos? Nem pensar. Com sorte, sobeja-lhe, tudo bem poupadinho e só gastando no essencial, 169€ ao fim do mês. A roupa e os sapatos já pagaram os pais, ainda duram uns tempos. O primeiro-ministro dava uns vouchers para passear pelo país, logo as férias estão garantidas. Não tem dinheiro para investir ou ficar doente, mas o SNS cobre tudo – incluindo greves e consultas com um ano de espera.

Ai, e o IRS? São 112€ por mês! E o jovem conclui: a loucura que vai ser a minha vida com os 57€ que restam! Pode ser que consiga comprar um livro ou o jornal de vez em quando.

Professora universitária