“Queremos mesmo ter dois homens de 80 anos a candidatar-se a presidente quando temos um país em desordem e um mundo em chamas?” – perguntou Nikki Haley, a candidata republicana de 52 anos, às pessoas do New Hampshire no Town Hall da CNN, antes das primárias no estado do Granito, terça-feira, dia 23 de janeiro. Embora as sondagens indiquem que os americanos não estão entusiasmados com uma desforra Biden-Trump, a verdade é que nenhum político democrata com força se candidatou contra Biden, e contra Trump, a batalha é muito difícil de vencer.
Será Nikki Haley, a ex-governadora da Carolina do Sul e antiga embaixadora para a ONU nomeada por Trump, a mulher capaz de derrotar o ex-presidente? As sondagens nacionais das primárias republicanas mostram que não, pois o seu recém-conquistado segundo lugar, após finalmente ultrapassar o governador da Florida Ron DeSantis (que, entretanto, desistiu) coloca-a 50 pontos atrás do ex-presidente (12,3% vs 66,2%, segundo a média do site 538). O eleitorado do caucus no Iowa, a única votação das primárias até agora, deu-lhe um terceiro lugar, com 19,1% contra os 51% de Trump e os 21,2% de DeSantis.
Pode o New Hampshire salvar a campanha de Nikki Haley e os americanos de mais umas eleições gerais com Trump? Sim e não, já que ao contrário de Iowa, as sondagens indicam claramente Haley como a alternativa preferida a Trump, com 33,8% na média do site 538, face aos míseros 5% de DeSantis, que percebeu a mensagem. O facto de as primárias neste estado da Nova Inglaterra estarem abertas a independentes e democratas historicamente potenciou as votações de candidatos mais moderados. Haley é percecionada pelos americanos como mais moderada e respeitadora das normas eleitorais e legais do que o ex-presidente sob vários processos criminais, entre os quais processos sobre o seu envolvimento no ataque ao Capitólio e as suas tentativas de influenciar as contagens de votos em 2020.
Mas embora Haley cresça desde agosto, quando tinha menos de 4% de apoio neste estado, Trump também cresceu após o Iowa, com a desistência do irreverente empresário Vivek Ramaswany, que o apoiou, assim como do ex-candidato e senador da Carolina do Sul Tim Scott. E agora o próprio DeSantis também decidiu endossar o ex-presidente. Tal como no Iowa, Trump parece ter o apoio de cerca de metade do potencial eleitorado no New Hampshire.
Agora sozinha contra Trump a ex-governadora pode concentrar-se no adversário principal. Sem unir todos os que não preferem Trump, e sobretudo sem conseguir tirar-lhe votos, Haley não pode sonhar em enfrentar o impopular presidente democrata, 30 anos mais velho. O que deve custar ainda mais quando há sondagens, como a do YouGov para a CBS News, que a mostram 8 pontos à frente dele, uma vantagem muito superior à de 2 pontos de Trump.
New Hampshire pode não ter o eleitorado mais fã de Trump, tanto que a última sondagem da Marist College o coloca sete pontos atrás de Biden no estado na votação decisiva. Mas dificilmente Haley será capaz de lançar uma verdadeira alternativa a Trump. Os presidentes mais velhos de sempre parecem destinados a voltar a confrontar-se, mas faltando ainda mais 54 primárias (territórios e Distrito Federal incluídos) e muitas decisões judiciais até ao dia das eleições gerais a 5 de novembro, o destino ainda pode dar muitas voltas.
Daniel Reis Ferreira, licenciado em História pela Faculdade de Ciências Sociais Humanas da Universidade Nova de Lisboa e finalista no Mestrado em Estudos Internacionais do ISCTE