Fechada a contagem, ficam aqui algumas notas sobre as eleições. Como candidato e pessoa interessada, nunca poderei ser completamente objetivo nesta análise, mas deixarei de fora deste artigo a IL, para não prejudicar, ainda mais, a minha objetividade.

A imagem de José Rodrigues do Santos a anunciar a morte dos turistas no submarino Titan, encaixaria, com as devidas alterações, à noite eleitoral de 10 de março: perderam todos. Houve certamente uns que perderam menos do que outros. Vamos por partes.

AD – A AD pode ter ficado aquém de um resultado que lhe dê para governar de forma descansada, mas ficou à frente do PS e poderá governar, algo raro nos últimos 30 anos. Não ter conseguido eleger um grupo parlamentar maior do que o PS também deixou esse travo amargo, mas a rápida aceitação de derrota de Pedro Nuno Santos não deixou dúvidas sobre quem deveria formar governo.

PS – Desbaratar uma maioria absoluta em dois anos é algo sem precedentes. O PS conseguiu-o, tendo uma queda incrível na votação, entregando o melhor resultado à direita desde os tempos de Cavaco Silva. A sua estratégia de alimentar o Chega para desgastar o PSD acabou por se virar contra si. Depois de oito anos sem conseguir entregar as ilusões que andou a prometer, viu algum do eleitorado mais crédulo virar-se para um partido que vende as mesmas ilusões, mas sem ter o cadastro de ter falhado em entregá-las.

Chega – O Chega pode ter perdido face às expectativas que o próprio lançou durante a campanha de ser um dos dois partidos mais votados, mas chegar a 50 deputados e eleger em todos os círculos exceto Bragança é, ainda assim, uma vitória.

BE – O BE estagnou, apesar de a pressão do voto útil à esquerda ser muito menor. Durante muitos anos, o BE sobreviveu graças a um eleitorado heterogéneo, composto por pessoas com forte pendor ideológico e outras pessoas simplesmente antissistema. Com o aparecimento de um produto eleitoral antissistema mais eficaz, o BE ficou reduzido ao seu eleitorado ideológico, que não parece passar muito disto. O BE ainda tentou recuperar o eleitorado antissistema com alguma estética de comunicação semelhante à do Chega (cartazes com rostos do inimigo como alvos a abater e a mensagem do “nós contra eles” explícita no slogan “Não lhes dês descanso”). Arrisca-se a que o futuro da esquerda esteja mais no otimismo ilusionista do Livre e não no ressentimento agressivo do BE.

PCP – O PCP voltou a perder e agora tem tantos deputados como a esquerda fofinha do Livre, algo que deve custar bastante à auto-estima da ala dura. A única compensação para o PCP é o preço das casas continuar alto, o que favorece o seu negócio imobiliário. Como se aprende em qualquer aula de introdução às finanças: diversificar é essencial.

Livre – O Livre pode ter visto a direita a crescer, terá menos capacidade de fazer aprovar iniciativas legislativas, mas ainda assim a subida de um para quatro deputados pode ser vista como uma vitória.

ADN – A AD, perdão, o ADN não elegeu um deputado, mas conseguiu mais de 100 mil votos e terá acesso a fundos públicos para encher o país com cartazes com flatulência de vacas. Numa noite certamente muito feliz, ficou o travo amargo de ficarem sem saber quantos votos autênticos teriam tido.

Deputado da Iniciativa Liberal

Artigo publicado na edição do NOVO de 23 de março