“Acho que não há ninguém a pensar o país a 20 anos”, conclui Pedro Soares dos Santos, apontando como argumento o (muito pouco ou quase nada) que se tem debatido nesta pré-campanha eleitoral, mas também o que se vê em alguns programas, demasiado focados na espuma dos dias. Os decisores e quem os pode influenciar, diz, está pouco preocupado com o futuro. “Estão preocupados apenas com as próximas eleições. E isso é desastroso para nós todos”, conclui o presidente da Jerónimo Martins.
Em entrevista ao Portugal Amanhã, o homem que lidera o grupo dono do Pingo Doce é contundente nas suas impressões sobre a atual classe política em Portugal: “A desilusão é muito grande.” E explica: “Ninguém está a pensar como é que Portugal se deve posicionar numa União Europeia que todos sabemos que ainda vai aumentar mais e ninguém quer saber que papel queremos desempenhar em termos económicos na atual União Europeia e na futura. Era para aí que devia estar canalizado o nosso pensamento. Mas nos poucos debates a que assisti, ninguém fala de Portugal na União Europeia. Só se fala de Portugal para os fundos.”
O empresário recorda que para se conseguir fundos é preciso ter projetos e para isso há que ter ideias. “E para se ter ideias tem de se ter gente muito boa na liderança. Essa lacuna existe neste momento em Portugal e é perigosíssima”, defende, apontando essa como uma razão de peso entre os motivos que estão a provocar uma fuga de talento jovem do país. “Não é em vão que os jovens deixam Portugal. É porque não sentem que isto exista. Tenho muita pena porque Portugal é um país maravilhoso. Podia ser a Califórnia da Europa.”
Em contrapartida, o dono de uma das maiores empresas do país – e 47.ª no ranking dos maiores retalhistas familiares do mundo – teme que se esteja a caminhar para destino bem diferente: “Quando não se cria riqueza, não se partilha absolutamente nada. E nós hoje estamos debaixo de um discurso contra a criação de riqueza. Não percebo se esta gente quer que sejamos a Cuba da Europa.”
Criticando o discurso político muito mais focado nos impostos, que não poderão ser colectados se não se criar riqueza, nota, Pedro Soares dos Santos revela a Luís Ferreira Lopes uma enorme preocupação com a ideia que se generalizou nos últimos anos de que a criação de riqueza é algo de negativo, que o sucesso e a recompensa são indesejáveis, que o crescimento e o enriquecimento são quase pecado. “Não consigo perceber o que é que esta gente entende que é tirar aos outros a riqueza que os outros produzem e que partilham. E esse é o problema de Portugal. Ninguém gosta. Neste momento nós temos um discurso de uma classe que não gosta de trabalhar. Viveu toda a vida à conta dos orçamentos do Estado e só pensa em distribuir esmolas. Não pensa em como criar esta riqueza.” E conclui: “Isso a mim preocupa-me imenso.”