O secretário-geral do PCP defendeu esta quarta-feira, 22 de maio, que o governo não deve esperar pela União Europeia (UE) para reconhecer o Estado da Palestina, salientando que isso seria uma forma de pressionar outros Estados-membros a fazer o mesmo.

Em declarações aos jornalistas após ter visitado a exposição Um Século de Portugal: Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto, em Lisboa, Paulo Raimundo foi questionado se Portugal deve avançar para o reconhecimento da Palestina, depois de Espanha, Irlanda e Noruega terem hoje anunciado que o farão.

Na resposta, o líder do PCP defendeu que o povo português quer que esse reconhecimento seja feito rapidamente e recordou que o PCP já apresentou projetos de resolução com esse objetivo em 2011, no ano passado e logo no início desta legislatura.

“O governo persiste em, tal e qual como fez o PS, escudar-se numa desculpa que vai perdendo um bocadinho de força. A desculpa era ‘nós queremos uma solução na UE, porque o que dá força a isto é uma solução na UE’. Só que os países da UE vão reconhecendo à vez”, afirmou.

Para Paulo Raimundo, isto mostra que Portugal não “tem nenhuma razão para continuar à espera da UE”.

“Nós precisamos é de, com o nosso passo de reconhecermos o Estado da Palestina, apertarmos o resto dos países da UE para que façam o mesmo. Estar à espera que alguém decida sobre isso, acho que não é o bom caminho”, sustentou.

O secretário-geral do PCP reiterou que “o povo português quer reconhecer rapidamente, de uma vez por todas”, o Estado da Palestina.

“O governo parece que não está muito para aí virado, mas é uma daquelas coisas que, em última instância, pressionado pelo povo, tem de decidir. Senão, fica isolado”, advertiu.

Nestas declarações aos jornalistas, Paulo Raimundo foi ainda questionado se concorda com a proposta do presidente da Assembleia da República para rever o Regimento do parlamento e introduzir a figura do voto de repúdio perante insultos ou injúrias.

Paulo Raimundo considerou que a questão principal não é o Regimento, uma vez que a Constituição que “todos os deputados juraram cumprir e fazer cumprir” é clara e não deixa margem para “grandes dúvidas” quanto ao discurso xenófobo e racista.

“Se é preciso clarificação de um ou de outro procedimento, não afasto à partida; agora, essa não é a questão central”, disse.

Já questionado se o PCP também experienciou insultos da parte da bancada do Chega, depois da denúncia feita pela deputada do PS Isabel Moreira, Paulo Raimundo respondeu que toda a gente que está no parlamento “percebe perfeitamente que o ambiente é, às vezes, um bocadinho agreste, sem freio”.

“Eu estou lá há pouco tempo — não tenho anos e anos de experiência dessa convivência –, mas quem lá está há pouco tempo já se apercebeu de que é um bocadinho para lá da conta”, disse.

No entanto, o secretário-geral do PCP disse que, apesar de esses episódios serem preocupantes e importantes, não lhes quer dar uma atenção que desvie “do fundamental”, designadamente os salários, reformas, o SNS e “os problemas concretos das vidas das pessoas”.

Paulo Raimundo foi ainda questionado sobre uma sondagem sobre as eleições europeias divulgada esta terça-feira pela RTP, mas recusou-se a comentar.

“Eu e as sondagens temos uma relação difícil: eu raramente falo nelas, e elas raramente falam em mim”, gracejou.