A coligação PAI-Terra Ranka, que venceu as últimas eleições na Guiné-Bissau com maioria absoluta, considerou esta quarta-feira, 10 de janeiro, que o problema do país “são os assaltantes do poder” que têm impedido os vencedores de governar.

A coligação liderada pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) realizou esta quarta-feira uma conferência de imprensa para fazer um ponto da situação política do país, passado mais de um mês da decisão do presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, de dissolver o parlamento e substituir o governo.

“Já ganhámos as eleições sete vezes e não nos deixam governar”, afirmou o porta-voz da coligação, Muniro Conte, apresentado também como porta-voz “do governo legítimo”, já que exercia a mesma função no governo da coligação PAI-Terra Ranka deposto pelo presidente.

Para a coligação vencedora das últimas legislativas, “o problema da Guiné-Bissau são os assaltantes do poder que não respeitam o veredito das urnas, a palavra do povo nas urnas”.

O porta-voz leu um comunicado e respondeu a questões dos jornalistas para enfatizar que o presidente da coligação, do PAIGC e da Assembleia Nacional Popular, Domingos Simões Pereira, ganhou, pela terceira vez, em junho de 2023, e, mais uma vez, a coligação que representa está impedida de governar, com decisão presidencial, de 4 de dezembro de 2023, da dissolução do parlamento, apesar de a Constituição não o permitir nos 12 meses posteriores ao ato eleitoral.

“Nunca nos deixam governar. Já ganhámos sete eleições e não nos deixam governar”, insistiu, especificando que três eleições consecutivas e três vitórias foram coincidentes com a liderança de Domingos Simões Pereira.

Muniro Conte acrescentou que na Guiné-Bissau “há partidos que não ganharam o mesmo número de eleições que o PAIGC e têm mais anos de governação, sem ganhar as eleições”.

“Vocês acham que isto é justo?”, questionou.

O porta-voz da coligação enfatizou que esta mensagem é um “recado para os adversários, mas também para aqueles que fazem a democracia interna do partido de uma forma deselegante”.

Muniro Conte frisou que “o PAIGC ganha nas urnas e recusa a violência”, para se referir à marcha convocada pela coligação para 8 de janeiro, pela reposição da ordem constitucional.

Questionado pelos jornalistas sobre a falta de adesão, respondeu que “não houve fracasso” e que a iniciativa “foi publicitada em todos os órgãos da imprensa internacional, até organizações como a União Africana, CEDEAO, publicaram essa marcha nos seus sites”.

A coligação fala em repressão e lançamento de gás lacrimogéneo por parte das forças policiais que ocuparam as principais artérias da cidade de Bissau no dia da convocatória, com tanques e elementos fortemente armados.

A Lusa percorreu, durante as primeiras horas da manhã do dia 8, as artérias de Bissau e não encontrou manifestantes, o que o porta-voz da coligação justificou alegando que a marcha estava prevista para a Chapa de Bissau, mas foi utilizada a sede das Nações Unidas como recurso por as polícias estarem “a espancar, a prender”.

“Aquela ideia (da mudança de local) foi brilhante porque agora, as Nações Unidas, mesmo que fizessem vista grossa daquilo que está a acontecer na Guiné-Bissau, os incidentes que aconteceram na frente das instalações dão motivo para encararem os problemas da Guiné-Bissau como tal”, afirmou.

O PAIGC publicou, na página oficial do partido, um vídeo onde vê um aglomerado de pessoas, focos de fumo, sons aparentemente de disparos e elementos das forças policiais numa rua.

“Se calhar, se os manifestantes não tivessem sido reprimidos com gás lacrimogéneo, teríamos um público igual ao último dia da campanha da coligação PAI-Terra Ranka”, considerou Muniro Conte.

A marcha foi marcada para um dia em que o líder Domingos Simões Pereira se encontrava em Portugal, onde participou no congresso do Partido Socialista (PS).

“Esse é mais um bluff dos nossos adversários, que o presidente do PAIGC tem de estar aqui. Basta dar orientações”, afirmou Muniro Conte, apontando que também o líder histórico Amílcar Cabral “nunca foi à frente na luta armada”.