Quem passe muito tempo nas redes sociais ou a ver notícias sobre os EUA, como os protestos sobre a Palestina nos campos universitários, pode ficar com a impressão que os jovens americanos têm como maiores preocupações as dívidas dos empréstimos para as propinas, as alterações climáticas e sobretudo o conflito em Gaza. Sonhando, por isso, com um candidato presidencial que fizesse tudo por tudo, independentemente dos custos, para perdoar essas dívidas, acabar com os combustíveis fósseis, e obrigar de alguma forma o governo israelita a retirar-se de Gaza e da Cisjordânia e dar, no mínimo, independência a um muito alargado Estado da Palestina.

E de facto, os jovens americanos preocupam-se bastante com esses temas, bem mais do que os americanos mais velhos, e, no que deve preocupar o presidente Joe Biden, preocupam-se sobretudo aqueles que costumam votar no Partido Democrata, pois são mais progressistas e tendem a frequentar o ensino superior, muito caro nos Estados Unidos.

Porém, na realidade, os jovens têm como maiores preocupações os mesmos assuntos dos outros americanos. Uma recente sondagem da Harvard Youth mostra justamente isso, 53% dos jovens (18-29 anos) considera a inflação, trabalhos, habitação e saúde como mais importantes do que outros assuntos. Apenas 34% considera Israel/Palestina como mais importantes que outras questões, e ainda menos considera a dívida estudantil, outro tema muito discutido. Noutra sondagem, como a da Bloomberg e Morning Consult, 95% dos que têm entre os 18 e os 34 anos e que vivem nos estados decisivos consideravam a economia um assunto importante, e 90% considerava também o crime, educação, saúde e habitação. Por sua vez, temas como a guerra na Ucrânia e em Gaza, estavam em último (58%) como temas considerados importantes pelos jovens. Apenas 3% desses jovens respondeu que o conflito Israel-Hamas era a questão mais importante para decidir o seu voto.

Portanto, embora Biden tenha estado a perder muita popularidade entre os jovens, que em 2020 votaram muito mais nele do que no republicano Donald Trump (60 contra 36% segundo os estudos pós-eleitorais) , as razões não se prenderão sobretudo com as temáticas da guerra em Gaza, alterações climáticas ou dívida estudantil, mas sim com o aumento do custo de vida numa combinação de subida de preços mais taxas de juro altas, entre outras disfuncionalidades que têm demorado a melhorar. Os mesmos motivos que explicam a baixa popularidade de Biden entre os americanos de qualquer idade.

O presidente Biden tem feito esforços tanto nessas questões mais prementes, embora demorem a ser considerados suficientes pelos americanos, como nas questões que animam algumas partes do eleitorado jovem. Mas uma coisa é investir massivamente em energias renováveis e eletrificação da economia, outra é reduzir drasticamente a exploração de combustíveis fósseis em solo americano, pois isso arruinaria a economia americana que tem na independência energética uma das suas maiores forças. Em relação ao conflito em Gaza, embora a resposta de Israel aos ataques do Hamas a 7 de outubro se esteja a tornar cada vez mais impopular entre os americanos em geral, os americanos continuam mais favoráveis a Israel, e os protestos que têm envolvido alguma violência e ocupações de universidades são esmagadoramente impopulares. Biden tem estado bem nos dois temas, reduzindo as emissões de CO2 sem destruir a economia, e, com mais dificuldades, pressionando Israel na direção dum cessar-fogo em Gaza, enquanto o continua a apoiar. E, condenando os excessos nos protestos, pondo-se do lado, indubitavelmente mais popular, o da lei e ordem.

A questão da dívida estudantil é mais complicada, e a administração Biden já tentou várias vezes perdoar parte das dívidas, mas o Supremo Tribunal tem bloqueado várias dessas medidas. E a dívida estudantil é tão alta, que é difícil perdoar o suficiente para satisfazer os jovens endividados, para além de que um perdão significativo arriscaria aumentar fortemente a inflação e a dívida pública, e irritaria os americanos que não foram para a universidade ou já pagaram as suas dívidas.

Concluindo, tendo em conta o extremismo de muitos dos ativistas destas três causas, muito deles já com muito poucas chances de votar em Joe Biden a 5 de novembro (independentemente do facto de nestas matérias Trump ser muito mais contrário aos seus interesses), é mais lógico para Biden virar ao centro e continuar a concentrar-se nos assuntos que mais importam à generalidade dos americanos. É ao centro que se ganham eleições, e a resolver os problemas que afetam mais gente, a maioria silenciosa, jovem e menos jovem, e não as extremas minorias barulhentas.